13.7.08

Letrinhas em alta

Negar um brinquedo para uma criança é tarefa difícil para boa parte dos adultos, mas considerada necessária por questões econômicas ou pedagógicas. Mas se o pedido do pimpolho for um livro, muitos acabam cedendo para incentivar o hábito de leitura. E as livrarias, que vêm investindo no público infantil, colhem bons resultados. No primeiro semestre as principais redes do país registram crescimento de 10% a quase 60% nas vendas, em relação ao mesmo período do ano passado - o segmento infanto-juvenil ajudou a ampliar essa receita.

O interessante é que este desempenho positivo ocorre já entre janeiro e junho, período que costuma ser fraco em número de lançamentos nas livrarias. A maioria das editoras apresenta as novidades para o público mirim no segundo semestre, quando são comemorados o Dia das Crianças e o Natal. E, neste ano, há também a Bienal do Livro.

Na Livraria Cultura houve um aumento na receita de 29% nos primeiros seis meses do ano, quando comparado a igual semestre do ano passado. A venda de livros para crianças foi ainda mais expressiva, crescendo 32%. As publicações de ficção e não-ficção tiveram altas de 23% e 18% nas vendas, respectivamente, no período. "Em todas as nossas unidades temos áreas específicas para as crianças. O desempenho das vendas no semestre não foi motivado por um 'Harry Potter'", disse Pedro Herz, dono da Livraria Cultura, cujo faturamento no ano deverá fechar em cerca de R$ 240 milhões, aproximadamente R$ 50 milhões a mais do que o resultado colhido em 2007.

A Saraiva, que adquiriu a Siciliano em março deste ano, encerrou o primeiro trimestre com lucro líquido (antes da equivalência patrimonial) de R$ 9,7 milhões, o que representa um acréscimo de quase 60% em relação aos R$ 6,1 milhões dos três primeiros meses do ano anterior. Já especificamente entre os livros infantis, a alta foi de 50% no período.

Com 185 franquias e uma loja própria, a Nobel também está toda animada com a demanda da molecada. Enquanto o crescimento médio da receita das lojas foi de 10%, as vendas de títulos infantis saltou 20% no semestre. "Os livros infantis entre R$ 15 e R$ 25 são os que mais vendem. Uma das razões é o incentivo das escolas", afirmou Sergio Milano Benclowicz, presidente da Nobel Franquias. A meta da rede é chegar ao final do ano com faturamento de R$ 140 milhões, 200 unidades no país e cerca de 25 no exterior.

Conhecida pela variedade de livros de arte que possui em suas estantes, a Livraria da Vila também aposta na criançada. Todas as suas sete unidades têm espaços voltados para o público infantil. "O livro infanto-juvenil é um dos nossos carros-chefe. No período das férias realizamos diariamente ações com contadores de histórias e oficinas para as crianças desenvolverem o hábito de ler", disse Samuel Seibel, proprietário da Livraria da Vila.

De fato, uma parte das famílias brasileiras já encara a visita às livrarias como um programa de lazer, em especial nas lojas que reservam um espaço para crianças.

Com 5 mil títulos infantis, a receita da francesa Fnac no primeiro semestre aumentou 20%. "Hoje, as livrarias viraram um programa de lazer principalmente para as crianças", contou Benjamin Dubost, diretor comercial da Fnac no Brasil. Outro motivo para Dubost comemorar é o aumento previsto nas vendas de agosto, de aproximadamente 15%, devido à Bienal do Livro, que acontece no próximo mês.

A atenção dos livreiros em torno do público infantil também é embasada em pesquisas. Segundo estudo realizado pelo Instituto Pró-Livro com 5 mil entrevistados, as crianças com idade entre cinco e 10 anos lêem 6,9 livros por ano, enquanto o adulto de 30 a 39 anos lê 4,2 livros.

A pesquisa, divulgada há dois meses, mostra ainda que os gêneros mais lidos são as literaturas infantil e juvenil, que juntas representam 46% da preferência dos entrevistados. Em seguida, vem a Bíblia, com 45%. Considerando-se toda a oferta de livros religiosos, essa fatia aumenta para 72%.
fonte: Valor Econômico

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