14.7.08

Meu tributo

Tu és o suor do espírito, a adrenalina que retesa os músculos da alma, o rastilho que explode o ser – És o meu Deus.

Tu és o labirinto que angustia, o horizonte um pouco mais adiante, o bairro pobre de aldeias imaginárias, a catedral dos delirantes – És o meu Deus.

Tu és o amigo sem nome, o correspondente pontual, o resgate silente, o anjo dissimulado, o velado conselheiro que ouve, ouve, ouve... – És o meu Deus.

Tu és a gota de sangue no tubo de plástico, a ponta da saia que a menina segura, a trava da porta na casa do ancião, o ponteiro na balança do juiz, o parapeito no abismo do amante – És o meu Deus.

Tu és o mapa do náufrago, o astrolábio do velho capitão, a roldana que suspende âncoras, a quilha que rasga a borrasca, a bruma que mareia o viajante – És o meu Deus.

Tu és o poema decassílabo, a rima impecável, a assonância que dá ritmo, a viola do repentista, o improviso no jazz, a sinfonia precisa – És o meu Deus.

Tu és o romance atemporal, o narrador onipotente que se deixou conduzir pela personagem, és também o Quixote, o Valjean, o Michkin, o Gilliat – És o meu Deus.

Tu és o espelho esfumaçado, a espalda que se esconde no alto da rocha, a nostalgia suprema, o intricado enigma, o paradoxo enervante – és o meu Deus.

Tu és o equinócio que prolonga o dia, a luz boreal que colore o céu gelado, a caatinga espinhosa que protege o bicho, o lodo que agasalha a rocha, o ruço que entristece o crepúsculo – És o meu Deus.

Tu és o nada que plenifica o tudo, o vazio que fecunda o universo, o etéreo que se faz Carne, o Divino que escolheu morar em meu coração – És o meu Deus.

Soli Deo Gloria.

Ricardo Gondim

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