19.7.08

A morte não me quis

Já sangrei de tantas formas, que nem sei como me matar hoje...

Mas bem que eu queria morrer. Um pouquinho só. Um desânimo que só. Me lembra aquela música da Ângela Maria: “hoje eu queria morrer... ou pelo menos chorar.” Acho que é uma coisa química, ou falta de química, ou TPM, ou falta de TPM. Falta de hormônios femininos sobre mim. Uma mulher para passar minhas roupas. Uma mulher para lavar minha louça... eu tenho, mas custa caro. E um homem para trocar meus pneus furados. Do meu carro roubado. Em frente às ruínas da minha casa. Com o encanamento enferrujado. O que fazer deste dente cariado? Ao menos as contas do mês estão pagas.

(Agora quando me ligam de algum banco, ou tentando vender alguma coisa, eu simplesmente respondo: "Santiago foi assassinado." Eles se desconcertam, me dão os pêsames e me tiram do cadastro.)

Tenho acordado bem tarde. Nunca é hora de acordar. E tenho dormido bem tarde, na madrugada, meu dia nunca quer acabar. E ler na cama me desperta sentimentos sórdidos. Ler me desperta e tenho vontade de escrever... Mas escrever tem me dado uma preguiça... Principalmente pelos percalços em publicar, publicar, publicar.

Minha editora foi comprar cigarros e nunca mais voltou. Eu torço com perversidade em vê-la voltando nas últimas, careca, em quimio, com câncer de pulmão. Então eu tiraria meus originais das mãos dela e apagaria uma bituca em sua testa. Assim seria feliz para sempre, no prédio, no tédio, com meus sete meninos cegos (que atualmente andam surdos e mudos também.)

Falando objetivamente do lançamento do livro: não sei. A editora parece estar afogada em burocracia e nunca me diz uma data, nunca me dá uma resposta. É bom para eu aprender. É bom para eu aprender como a literatura não é uma arte independente (toma, papudo!). Eu que sempre valorizei minha arte principalmente por isso. Eu que sempre valorizei minha arte por poder fazer exatamente do meu jeito, agora dependo de uma empresa carioca para dizer o quando de vermelho há em mim...

Ah, sim, ainda, sim.

(E enquanto o livro novo não sai, você pode ir lendo os outros, vai? Tem vários outros pra você ler.)
("Enquanto eu tiver estes dedos, enquanto eu tiver vontades, você vai ter de me ouvir...")

E não é só isso, claro que não. Eu também sofro pelos meninos que tem fome (“pela janela do quarto, pela janela do carro, pela tela, pela janela”) e pela fome que os meninos me despertam; pelas balas perdidas, pelo leite derramado, pelo caminhão de lixo pedindo doação de sangue, por tudo que já joguei fora e não pode ser reciclado...

(Ah, tantas balas perdidas pelo Rio e nenhuma atinge o alvo certo. Nenhuma rompe a vidraça de meus editores. Nenhuma os desperta para o drama - o drama - para o drama que há em mim.).
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