Numa manhã cinzenta de domingo, cerca de 800 pessoas estão espremidas na Igreja de Ação de Graças de Xangai. Entre os congregantes está Wang Cuimei, uma jovem de 21 anos de um vilarejo do norte da China. Ela acaba de ser admitida pela Semiconductor Manufacturing International (SMIC), cuja sede fica rua abaixo. Embora Wang não seja cristã, ela decidiu participar do serviço religioso depois de ouvir seu líder falar sobre ele no programa de treinamento de recém-contratados.
O fato de executivos da cúpula da SMIC terem ajudado a estabelecer a igreja ajudou. “Os líderes preocupam-se conosco”, diz Wang. “Aparentemente, todos são cristãos e, portanto, queríamos dar uma olhada.” Sua amiga Liang Shuihong, de 21 anos, acrescenta: “Como funcionários, temos a responsabilidade e o dever de ir”. Então, as duas fizeram a caminhada de cinco minutos do dormitório da SMIC até a igreja.
Depois de um sermão do pastor aprovado pelo governo e da cantoria de muitos hinos (com as letras em mandarim projetadas em telas gigantes suspensas no teto), Wang diz que está impressionada e que pretende voltar. “Há muita bondade neste lugar”, diz ela.
Essa é uma boa notícia para Richard Chang, o executivo-chefe taiwanês-americano da SMIC. Chang, que usa ternos caros, relógios berrantes e outros penduricalhos apreciados pela nova classe empresarial chinesa, diz que divulgar a palavra de Deus é uma parte importante de seu trabalho. Ele e seus colegas “foram convocados para ir à China para compartilhar o amor de Deus”, diz Chang.
Esse tipo de conversa é raro num país governado por um Partido Comunista, oficialmente ateu e que possui uma longa história de hostilidade contra o Cristianismo. Mesmo assim, Chang, de 60 anos, não hesita em descrever a importância de sua fé na vida empresarial. “O Senhor diz, ‘Fazei o bem aos necessitados’”, afirma. [...]
Os esforços de Chang são parte da atenção crescente que a China vem despertando nos evangélicos do Ocidente. Embora o governo chinês exija que todas as congregações juntem-se a uma igreja protestante “única”, que não faz diferenças entre metodistas, batistas ou outros, há sinais de que os evangélicos estão ganhando popularidade. Geoff Tunnicliffe, presidente da Aliança Evangélica Mundial, viajou para a China em abril e Franklin Graham, filho e herdeiro de Billy Graham, fez um sermão de domingo, em maio, para 12 mil pessoas na cidade de Hangzhou, no leste da China.
Poucos misturam tão abertamente a Bíblia com os negócios como Chang. Ele ajudou a fundar a igreja em Xangai - que abriu no Dia de Natal de 2005 -, além de várias outras pelo país. Chang enfatiza que usou dinheiro próprio nas empreitadas, e não recursos da SMIC, e diz que a companhia não força ninguém a participar dos cultos. “Se as pessoas quiserem saber mais sobre o Cristianismo, nós as encorajamos”, diz ele.
O pastor Shen Xuebin, secretário-geral associado do Conselho Cristão de Xangai, o órgão governamental que supervisiona as congregações protestantes oficiais da cidade, observa que não foi a SMIC que construiu a Igreja da Ação da Graças. “A Igreja da China construiu esse igreja”, diz ele.
Chang, que diz ter nascido de novo quando era adolescente em Taiwan, ajudou a atrair muitos outros evangélicos para Xangai. Matthew Szymanski, um evangélico que entrou para a SMIC em 2007, depois de trabalhar como assistente da liderança Republicana na Câmara Baixa do Congresso americano, estima que existem mil cristãos entre os 12 mil funcionários da companhia, incluindo “uma minoria substancial” de executivos da cúpula.
Um exemplo é o de David Lin. Diretor sênior de serviços de design de chips, ele tornou-se cristão em 1993 quando trabalhava na AT&T Bell Labs na Pensilvânia. Lin e sua esposa estão ativos em várias igrejas desde que chegaram a Xangai em 2002. “Nossa decisão de vir para a China deveu-se principalmente ao fato de que esperamos espalhar a palavra de Deus”, afirma.
O pastor Shen diz estar feliz em receber o apoio de Chang e outros executivos da SMIC. “Não há conflitos entre os objetivos do Partido [Comunista] e o que os cristãos estão fazendo. Estamos contribuindo para as reformas econômicas”, diz Shen. Chang acrescenta: “O governo percebe o valor da boa religião”. De fato, para um governo que antagoniza com o Vaticano ao nomear seus próprios bispos, combate a seita religiosa Falun Gong e difama o Dalai Lama, pode até haver alguns benefícios de propaganda no cortejo a Chang e sua comunidade cristã na SMIC.
Mesmo assim, a religião é um assunto delicado e Chang deixa claro que seus bons trabalhos não estão relacionados apenas à igreja. Ele, por exemplo, já fundou escolas e criou programas de treinamento para jovens funcionários da SMIC. A companhia doou US$ 140 mil para as vítimas do terremoto que abalou a China central em maio.
Chang diz que a SMIC foi uma das primeiras companhias chinesas a fornecer serviços de aconselhamento psicológico para funcionários. E a SMIC concede ações e opções de ações para todos os trabalhadores. “Com a benção de Deus, acreditamos que as opções de ações poderão beneficiar significativamente os funcionários”, diz ele. E se mais desses funcionários aparecerem nas manhãs de domingo na Igreja de Ação de Graças, melhor.
Bruce Einhorn e Chi-Chu Tschang, no Valor Online [via Notas de Mauricio C. Serafim]
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