20.7.08

O que diria Charles de Gaulle?

Festa é bom, aliás, eu nunca conheci alguém totalmente avesso a este tipo de expressão social, cultural ou religiosa. Até porque, de maneira geral, todo mundo, invariavelmente, a sua maneira, por algum motivo e algum dia já festejou. Pois, através destes momentos manifestamos comunitariamente nossa satisfação por um fato ocorrido que consideramos bom.

A Bíblia está cheia de narrativas que mostram o povo de Deus festejando, inclusive, o próprio Jesus Cristo freqüentava festas religiosas e sociais, coisa que ainda hoje não é bem aceita por parte dos religiosos (Oh, raça!). Podemos concluir, com segurança, que se Cristo ia a festas religiosas e sociais, é porque elas são boas aos olhos de Deus, e que não há pecado nas festas sejam elas cívicas, religiosas, esportivas ou sociais, desde que as mesma não ofendam a Sua glória.

Porém, é bem verdade, que nem sempre uma festa encontra seio à luz do Evangelho. Veja por exemplo o que narra trecho da reportagem da Revista Época: “Elias Maluco queria festa após morte de Tim Lopes. Conversas do traficante gravadas pela DRE mostram que ele ia contratar pagodeiros para um baile no Alemão ...” E o que dizer das inúmeras vezes em que vemos Deus reprovando a atitude do seu povo pelas festas de cunho idolátrico. Estes e tantos outros exemplos nos fazem ver que é preciso ter bastante critério quando o assunto é festa, mas que, por outro lado, Deus as criou para que nelas nos alegrássemos. “Ninguém, pois, vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa de dias de festa, ou de lua nova, ou de sábados” (Cl 2:16).

Nós vivemos numa nação, indubitavelmente, festeira, aqui se comemora de tudo. Em Caruaru - PE, por exemplo as festividades juninas duram exatos 30 dias; em Olinda – PE o carnaval também se estende por igual período; se a nossa seleção ganha uma partida na copa, no outro dia o Brasil fica no prejuízo pois muita gente falta ao trabalho por conta da comemoração; casamento, batizado, dia da criança, dia do idoso, dia da padroeira, dia disso, da daquilo outro... ufa! É festa que não acaba mais! Fazemos festa até de aniversário de boneca.

Mas, será que nós temos tantos motivos reais para festejarmos? O General francês Charles de Gaulle afirmou: “Lê Brésil n’est pás um pavs sériux” (O Brasil não é um país sério) Isso deu a maior confusão. Porém, de fato, quando se fala no Brasil lá fora, uma das primeiras lembranças que se tem do nosso povo, da nossa pátria é a de uma mulata sambando numa festa de carnaval em trajes mínimos. Infelizmente, somos lembrados por uma festa que desde a sua etimologia é totalmente reprovável aos olhos de Deus. Ninguém leva a sério uma comunidade que gosta demasiadamente de festa. A impressão que se tem é a de que não somos sérios e que tudo aqui é levado na farra.

Infelizmente, a igreja evangélica brasileira, não foge ao costume festeiro do Brasil. Em nossa caminhada com o pessoal da Banda Sal da Terra, não nos faltam convites para festas. Na época de junho então, nem se fala. E tem gente que fica chateado pela nossa opção por evitar ao máximo possível este tipo de evento. Não que agente não toque em festa, nós eventualmente participamos e gostamos deste momento, No entanto, nós não concordamos com o rio de dinheiro, de esforço e de tempo que se gasta nestas festanças. Uma mega estrutura de som e de luz, ornamentação, cachês, passagens aéreas e hospedagens dos profissionais do entretenimento gospel, entre outros tantos detalhes, são despreendidos nestes eventos.

Recentemente, recebemos em nossa cidade (Garanhuns – PE) um destes artistas e acredite, foi investido num só rapaz e na sua banda a bagatela de, pelo menos, 50 mil reais para que ele cantasse por uma hora. Isso mesmo, 833 reais para cada minuto de festança gospel!!! Como se não bastasse, entre outros mimos, o sujeito pediu para ficar no melhor hotel e para comer no melhor restaurante da cidade. Pediu, também, para que nenhuma outra banda subisse ao palco na mesma noite que ele cantaria; para que ninguém além da banda estivesse em cima do palco na hora do show e, pasme, na lista de exigências constaram até toalhas brancas (uau!!!) Foi um corre-corre danado, pois se não tivesse as tais toalhas brancas o cabra não cantaria. Tudo, tudinho foi atendido, afinal o povo de Deus precisaria festejar.

Mas, será mesmo que temos tanto a festejar? Será que o motivo da nossa comemoração são as milhares de localidades sertanejas que ainda não têm um cristão sequer? Ou as tribos indígenas que se encontram na mesma situação? Devemos dar uma festa pelas nações não alcançadas? Será que devemos festejar os sucessivos escândalos vividos pela “nossa bancada parlamentar evangélica”? Vamos festejar aquela emissora de TV comprada com dinheiro de dízimos e ofertas para passar filme de terror, cenas de sexos e piadas de duplo sentido?

Será que devemos festejar a nossa incapacidade de promovermos uma maior mobilização em prol das comunidades carentes do Brasil e do mundo? Será que temos o que comemorar diante da posição acanhada que temos tido face a violência e a prostituição, que assola o Brasil? Estaríamos festejando a expansão do comércio de drogas? Ou festejamos nossa inoperância diante da degradação do meio ambiente? O que diria Charles de Gaulle? Somos cristãos sérios ou apenas um povo festeiro? E o principal: O que pensa Deus a nosso respeito?

O poeta cantou, de maneira profética: “Enquanto se canta e se dança de olhos fechados, tem gente morrendo de fome por todos os lados. O Deus que se canta nem sempre é o Deus que se vive...”

colaboração: Rogério da Silva Moreira

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