24.8.08

Hora de novamente virar a mesa

O texto é assaz inspirador. Jesus, o Filho do Deus Vivo, entrando na cidade montado numa jumentinha, aclamado pela multidão. “Bendito o que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas!”, gritava a multidão.

Em sua narrativa, Mateus conta que Jesus vai para o templo, que, na cultura judaica, era um dos maiores símbolos do relacionamento entre Deus e os homens. Era ali que o homem se encontrava com Deus. Era ali onde os sacrifícios eram feitos. Era ali que a vida acontecia.

No templo, Jesus encontra a “nata” da religião da época: sacerdotes, mestres, sábios e, também, os que faziam ali seus negócios. Era comum haver vendedores de animais para os sacrifícios, de pombas a cordeiros (dirigidos aos mais pobres e abastados, respectivamente). Jesus os expulsa, derruba mesas,cadeiras e tudo o mais. Imgine você as pombas voando, os animais correndo, os homens gritando. Deu-se uma verdadeira bagunça.

Jesus os expulsa do templo, mas não para que ele fique vazio, no “sossego”: Mateus relata que estavam com Ele no templo os cegos, os coxos e os meninos. Os cegos e coxos foram curados, enquanto os meninos o louvavam.

O Senhor Jesus tem uma inexplicável preferência pelos imperfeitos e pelos simples, em detrimento aos auto-proclamados sábios e religiosos. Estes últimos, aliás, faziam há aproximadamente dois mil anos exatamente o mesmo que fazem nos dias de hoje: negociam.

Quase tudo é negociado nas igrejas evangélicas hoje em dia: cargos e títulos são distribuídos não na medida dos dons que cada um recebe, mas na medida da conveniência de quem lidera. Ministérios são utilizados nas igrejas da mesma forma que nos governos, ou seja, para acomodar aliados e comprar opositores.

Mas o Senhor do templo não se emenda. Prefere sempre a companhia dos coxos, cegos, pecadores e desprezados aos que se apegam a seus cargos e títulos, embora os pertencentes a estes últimos grupos insistam em utilizar um texto sagrado para se defender, e repetem feito mantra a frase “não toque no ungido do Senhor” e a expressão “autoridade espiritual”. Repetem um comportamento típico de quem não assimilou ainda o significado da palavra Graça e continua insistindo em fazer por merecer o amor de Deus.

A exemplo da narrativa de Mateus, os religiosos e negociantes (atualmente conhecidos também como pastores, bispos e apóstolos) continuam se indignando ao ver Jesus comendo com pecadores e aceitando adoração dos desprezados e imperfeitos.

A leitura de Mateus 21 é um convite a uma virada de mesa. Literalmente.

Alexandre Galli, no blog Teses & Antíteses.

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