Dia 14 de junho de 2008. Um sábado. Manhã ensolarada no Rio, 9h. Um táxi estaciona numa praça do morro da Providência. Desembarcam três rapazes. David Wilson Florêncio da Silva, 24 anos; Wellington Gonzaga da Costa, 19; e Marcos Paulo Campos, 17.
Vinham de um baile funk, ocorrido no morro da Mangueira. Súbito... Súbito, foram abordados por soldados do Exército. Onze militares.
Começava ali uma tragédia que terminaria num lixão de Duque de Caxias. Os fatos, já fartamente noticiados, são conhecidos. Podem ser resumidos numa frase: Presos, os três jovens da Providência foram entregues pelos soldados a traficantes do morro da Mineira, que os executaram.
As novidades vêm dos “autos de exame cadavérico.” O blog obteve cópias dos documentos. Foram redigidos em 15 de junho. Trazem as assinaturas de dois legistas: Jefferson José Oliveira da Silva e José Henrique Dias da Silva.
A necropsia dos cadáveres revela um cenário de barbárie. Os jovens foram brutalmente torturados. Vão abaixo as informações mais chocantes extraídas dos laudos.
1. David Wilson Florêncio da Silva: distribuídos pelo corpo, 26 “feridas ovalares” produzidas por disparos de arma de fogo.
O cadáver trazia as mãos "amarradas por trás". Foram usados: "fio de telefone e corda de sisal". Deixaram nos pulsos “sulcos profundos.” De resto, fraturas nas duas pernas.
Ao abrir o cérebro, os peritos deram de cara com “grande destruição de massa encefálica” e “fratura de todos os andares da base do crânio.”
Fraturas também do terceiro até o oitavo arco das costelas. Laceração nos dois pulmões. Coração “totalmente dilacerado”.
Uma “ferida estrelar” no fígado. “Lesões macroscópicas” nas demais vísceras.
Causa da morte? “Fratura do crânio, com destruição do encéfalo, anemia aguda, hemorragia interna. Houve tortura? “Sim”, anota o laudo.
2. Wellington Gonzaga da Costa: 19 perfurações de bala. Olho direito “destruído” por um tiro. Disparos por todo o corpo: no tórax, na palma da mão, no braço...
...No antebraço, na coxa, no joelho, no pé... A “alça intestinal” saiu por um dos buracos abertos no corpo.
As mãos foram amarradas com um fio de nylon preto. Abriram-se “sulcos profundos em ambos os punhos.”
O pescoço estava “envolto em plástico transparente”. Aberta a cavidade craniana, atestou-se: “infiltração hemorrágica”, “fratura” e “destruição total da massa encefálica.”
Mais abaixo, “laceração do lobo superior do pulmão esquerdo e destruição do lobo inferior do direito”, “saco pericárdico rompido”, “laceração da aorta”...
“...Fígado dilacerado e várias alças intestinais laceradas”, “retroperitônio apresenta grande hematoma”, “laceração do rim.”
Causa da morte? “Fratura do crânio, com destruição do encéfalo, anemia aguda e hemorragia interna.” Tortura? Sim.
3. Marcos Paulo Campos: entre os três, foi o que menos sofreu. Foi abatido no momento em que tentou fugir. Um tiro, “na região mamária direita.”
“Lacerações” no antebraço direito e na coxa direita, “escoriação” no peito, “equimose” na perna esquerda. “Ferida na aorta”. Pés amarrados com “pano branco”.
Causa da morte: “Lesões no pulmão direito, pulmão esquerdo e aorta”. Tortura? A resposta não é taxativa: “Prejudicada”, anotaram os peritos.
Transportados para a morte num caminhão do Exército, os jovens da Providência foram entregues aos traficantes da Mineira pelo tenente Vinícius Guidetti de Moraes.
“Trouxe um presentinho para vocês”, disse o tenente aos traficantes, segundo consta dos autos.
O “presentinho”, depois de dilacerado, foi achado no Aterro Sanitário de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias.
fonte: blog do Josias de Souza
15.8.08
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2 comentários:
Bem, amigos da Rede Globo!
Não existe país como o nosso. Brasiiiilll!!!!
"Aleluia, minha irmã. VocÊ chegou aqui com dor nas pernas e Deus operou um milagre tremendo".
Existem dois Brasis. Um é cruel, injusto e perigoso. O outro se parece com a Bélgica. Vitorioso, abençoado por Deus e bonito por natureza.
Eu só conheço o cruel.
Este é o Brasil ... e o tal tenente? Certo que está em casa calmo e tranqüilo!
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