18.8.08

Só a macumba nos salva

Mal começou a palestra e o publicitário Nizan Guanaes já sinalizou que estava no 2º Congresso de Comunicação Empresarial, realizado pela Aberje Rio de Janeiro, no último dia 14 de agosto, em um hotel no centro carioca, para fazer diferença. Afrouxou o nó da grava de seda azul clara e avisou que ia abandonar a apresentação formal feita por seus funcionários da agência Africa para falar como gosta: solto, apenas no gogó. Uma hora depois, extenuado, a vibração do público formado por cerca de 250 comunicadores confirmou que sua decisão foi mais do que acertada. Nizan deu um show.

O convite era para falar sobre como criou mais uma marca de sucesso. “Os desafios e sinergias na construção de um grupo de comunicação no Brasil” era o tema da palestra. Não fugiu ao desafio, até porque este baiano de 50 anos não é homem de fugir da raia. Mas, no melhor sentido de comunicação 360 graus (apesar de confessar não acreditar neste conceito: “É só uma expressão criada para publicitários para garantir mais trabalho.”), Nizan usou de todas as estratégias que tão bem conhece e versou sobre vários temas importantes para uma platéia atenta e empolgadíssima.

Sobre marcas, explicou que as corporações têm DNA e temperamento. E que não é uma organização que escolhe seus valores. Assim, advertiu não faz sentido mudar apenas por mudar. Citou o caso bem sucedido da reforma de logo e de posicionamento da Vale, na qual sua equipe trabalhou, já que é a agência da segunda maior mineradora diversificada do planeta. Isso não significa, disse, ficar a vida toda com a mesma logo. E brincou: “Tem empresa que a logo foi criada pela mãe do presidente-fundador. Não dá! Ela já fez muito dando luz ao presidente. Não dá para fazer também a logo.”

Contou que conheceu algumas empresas frias, na qual os empregados não estão motivados. “A pior coisa é uma empresa frígida. Para um cliente eu tive que ensinar a turma toda a gozar. Uma loucura!” Foi gargalhada geral.

Sobre os seus funcionários garantiu que o dia-a-dia é de muito trabalho, mas que sempre foi sincero. “Nunca prometi paz. Só a glória.” Assegurou que valoriza muito cada um e que procura não perder nem um casamento de funcionário seu, reconhecendo o valor de uma equipe aguerrida, que veste a camisa. “Sou eu quem danço com a mãe da noiva às três horas da manhã.” E nem mesmo a mulher - Donata, diretora da Daslu -, nem o filho Antônio são poupados. Diverte a platéia contando que o cartão da esposa foi roubado e que preferiu não cancelar porque é muito mais barato manter o ladrão do que as compras dela. Ou que o filho é quem cuida de sua “vida” tecnológica. “As crianças são o manual de qualquer casa.”

É Nizan por Nizan. Voltou ao foco da palestra. Fez sucesso ao lembrar que as empresas estão com seus funcionários tão ocupados que não tem ninguém para pensar. “É preciso criar um departamento de radicais livres. Gente qualificada que possa pensar.” E revelou que suas melhores idéias vieram assim, ouvindo e conversando com pessoas. Criticou a demora para tomar algumas decisões. “Prefiro errar rápido e consertar do que ficar horas planejando algo um ano e meio que não dá certo.” E fez algumas jovens sentadas no gargarejo ficarem envergonhadas quando lembra que a corrida da fertilidade é assim: vence o esperma que chegar primeiro.

Para um público essencialmente corporativo, frisou que “ninguém espera de uma empresa a perfeição, mas sinceridade no trato dos assuntos”. Para depois destacar que é preciso explorar as forças sem jamais mentir nas fraquezas.

Para deixar sua marca, pediu ao público empolgação, muita empolgação. E muitos sonhos: mas desde que sejam sonhos grandes. “Aprendi com o Beto Sicupira (um dos criadores do Banco Garantia e empreendedor de sucesso com as Lojas Americanas, Ambev, etc) que é melhor sonhar grande. Sonhar pequeno dá o mesmo trabalho.”

Afirmou ter orgulho de ser brasileiro, este povo miscigenado e criativo. Bateu na madeira três vezes e disse estar animado com o ritmo de crescimento da economia. “Vamos falar a verdade, está tudo dando certo. Vivemos uma revolução neste país. Esta expansão do crédito, a melhoria de renda, … este é um momento legal.” Mas lamentou que todos tenham um complexo terceiro mundista, quase torcendo por algo que manche a vitória dos outros. “Acho sensacional esta trajetória da Inbev, da Vale, da Petrobras e de tantas outras. Mas fujam de matéria de capa de revista, fujam de foto. Só a macumba nos salva.”

O filho de Xangô e Oxóssi se autodefiniu como “do núcleo grego da novela”. A audiência veio abaixo. Aclamado, Nizan, cercado por quem queria apenas apertar sua mão, dar um cartão ou cumprimentá-lo, precisou ser puxado pelos assessores para uma reunião no BNDES.

trecho de texto no site Mural da Comunicação.

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