Essa certeza caminhou lenta pela corrente sanguínea e explodiu nas maçãs do meu rosto. Tinto forte a contrastar com o claro dos olhos fixos no seu sono. Achei que não conseguiria parar de te olhar. Agora, já não te enxergo mais. Aprendi que certas coisas não devem ser ditas. Por vezes, é preciso se assegurar de não ouvi-las.
Quanto será que custou o vestido novo que você me deu? Até agora não consegui entender o quê nele te fez lembrar de mim. De tanto procurar já não me acho no fundo do espelho. Mas fico feliz em te odiar por mais de alguns segundos e quebrar a monotonia desse amor secular.
Estou curiosa em saber quando você parou de me ver. Será que foi no dia em que a Joana foi embora? Ou naquele em que descobrimos cupim no armário? Talvez tenha sido no dia em que quebrei aquele vidro de perfume. Não sei. Talvez você não saiba. Espero que um dia você tenha me visto. Em dias melhores. Não tão cansada de tudo. Que tenha tido vontade de desaguar outras palavras que não as reclamações freguesas de que eu esqueci o gás ligado, de fechar as portas ou as janelas.
Agora, me ocupo em fechá-las. Minha última homenagem a você. Aqui da sala ouço o bumbo da banda que veio tocar no casamento do meu melhor com o meu pior. Sentada em sua cadeira preferida, espero a hora do buquê. Dessa vez, lembrei de esquecer de desligar o gás.
Um comentário:
Obrigada, Pavarini! Continue navegando pelos mares do peixe cybernéticom, és muito bem vindo.
Acho um barato teu blog! Prolixo e bem humorado.
Grande beijo pra ti.
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