14.9.08

A dúvida serve como companheira, não como senhora



Mal foi publicado o livro O que estão fazendo com a Igreja (Mundo Cristão), de Augustus Nicodemus, eu o adquiri. Não que eu seja obcecado por novidades, mas eu estava no lugar certo, na hora certa, diante do preço certo, com o carrinho de compras do tamanho certo e com o cartão de crédito com limite disponível certo. Só o frete não foi certo, pois o livro demorou duas semanas pra chegar.

Ao lado de títulos de Chesterton e Brennan Manning no mesmo pacote, peguei o livro de Nicodemus em primeiro lugar, possivelmente por tê-lo visto recentemente em um debate realizado na Bienal, divulgado no Pavablog. Ao contrário da demora na entrega, a leitura foi rápida e proveitosa. Realmente rápida: abri o livro e só parei de ler cento e quarenta páginas depois, porque precisava dormir para não trabalhar sonolento no dia seguinte. Do contrário teria terminado na mesma ocasião.



Tamanho interesse meu não pode ser explicado por qualquer novidade que o livro apresente. De fato, ele não traz nenhuma. Boa parte do que se fala sobre liberais e neopentecostais o leitor cristão informado já saberá, e o discurso calvinista de Nicodemus é conhecido de cor por muita gente, assim como a idéia de que os preceitos da Reforma são a solução para a crise da igreja evangélica brasileira. Não que eu discorde completamente, só que isso não é novo.



Meu interesse certamente pode ser explicado por dois motivos. O primeiro é estrutural. O livro nasceu de postagens de Nicodemus no blog O Tempora, O Mores, mantido em conjunto com outros dois autores. É diferente ler a edição das postagens no livro, mas elas mantiveram certas características de textos de blogs. As divisões são simples, diretas, coesas e fluentes. Não há uma linha lógica ou textual entre os capítulos, mas lê-los em seqüência não prejudica o aproveitamento, tal como ler seguidamente vários posts de blogs. Faltam os comentários. Mas quem sentir falta deles pode procurar as postagens originais.



O segundo motivo para meu interesse tem relação com a convicção reformada do autor. Tanto tempo rodeado por um discurso de uma maioria liberal faz a dúvida se tornar presente mais do que o necessário ou desejável. Nicodemus tem certezas. Certezas reformadas, calvinistas, evangélicas, históricas e bíblicas. Faz tempo que não leio livros de gente assim. Não que eu seja liberal. Também não me considero ortodoxo, mas aplico o conselho paulino para examinar de tudo e reter o que é bom. E lembrar que o cristianismo é fundamentado em certezas e em fé convicta faz bem. Gente como Nicodemus me faz lembrar que a dúvida serve como companheira, mas não como senhora.



Alguns podem se incomodar com o excesso de rótulos no livro. Liberais, neoliberais, neo-ortodoxos, neopentecostais, reformados, calvinistas, puritanos e fundamentalistas em várias subdivisões são algumas das classifições que o autor usa. Apesar disso, ele se esforça em não generalizar, o que nem sempre, obviamente, é possível. Reconheço, contudo, que é difícil se falar sobre movimentos teológicos e formas de pensamento sem se conceber grupos. É preciso dar uma licença aos rótulos nesse caso. Inclusive achei que o termo “esquerda teológica”, mencionado mas evitado pelo autor, faz todo sentido.



Enfim, é um livro que fundamentalistas (no bom e no mau sentido) podem considerar até mesmo apologético. Já os liberais, neo-ortodoxos e neopentecostais podem encontrar um contrasenso para reflexão.



fonte: Um bicho de Rondônia

Leia e veja +

Nenhum comentário:

Blog Widget by LinkWithin