Aos 64 anos de idade, tendo me integrado à vida eclesiástica desde a infância, me vem à mente – pela própria experiência –, três imagens do que pode representar para um fiel a comunidade de fé: um oásis, um deserto, ou um campo de batalha.
Sinto-me abençoado, porque a primeira imagem foi aquela por mim vivenciada em mais de dois terços da minha existência. Aos 6 anos, com as classes de preparação para a Primeira Comunhão, passei a me integrar à vida da Paróquia de Santa Maria Madalena, em União dos Palmares, Alagoas, dirigida pelo austero, sábio e humano monsenhor Clóvis Duarte. Meu primo Gerilo era seminarista, e eu fui me entrosando com outras crianças, depois adolescentes, jogava futebol no campinho atrás da Igreja, fui ficando assíduo às missas dominicais (diárias nas férias) e a outras atividades religiosas e sociais. Minha vida passou a girar em torno da Paróquia, sem me descuidar dos estudos e do bate bola. Meus últimos dois anos como católico romano praticante foi na Capela de Fátima, do Colégio Nóbrega, dos jesuítas, onde estudava, no Recife. Tive minhas crises religiosas, passei por uma experiência pessoal de conversão aos 16 anos, deixei a Igreja de Roma aos 18, mas a memória da vida paroquial permanece, até hoje, como positiva. Como comunidade de fé, foi meu primeiro oásis.
Foi muito boa a experiência da primeira Igreja protestante que freqüentei: a Presbiteriana Central de Garanhuns, PE, dirigida, então, pelo Rev. Henrique Guedes, quando aluno interno do Colégio XV de Novembro. Quando deixei a Igreja de Roma, me filiei à Paróquia de Casa Amarela, Recife, da Igreja Luterana (IELB), (reverendos Vilfredo Becker e Geraldo Stanke), onde permaneci por doze anos, aprendendo a Bíblia, a Sã Doutrina, a História da Igreja, a Ética Cristã em um ambiente fraterno e de muito respeito pela individualidade e pela privacidade de cada fiel. Ali integrei o Conselho, fui evangelista, candidato às Sagradas Ordens, com um mínimo de tensões, e muita alegria espiritual. Como o culto luterano era pela manhã, nas noites dos domingos freqüentava a Primeira Igreja Presbiteriana (Rev. Benedito Matos) e a Igreja Batista da Capunga (Pr. Munguba Sobrinho). Nas férias escolares, uma outra Igreja "complementar" era a Batista de União dos Palmares, onde colaborava, eventualmente, com a Batista Renovada e a Adventista do Sétimo Dia. Isso permaneceu até eu me formar. Foram todas, abençoados oásis para mim!
Durante dez anos e meio (1968-1978) fui assessor da Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABU), viajando por vários Estados, ministrando em uma ampla gama de Igrejas de várias denominações, ou visitando-as em um trabalho de "relações públicas". Foi um tempo de muito trabalho e de muitas bênçãos. Quando aluno de mestrado no Rio de Janeiro (1974-1975), já saindo da Igreja Luterana (por divergências tópicas) Miriam e eu nos congregamos na Igreja Batista de Icaraí, em Niterói (Pr. Josué dos Santos), chamada carinhosamente pelos muitos estudantes que a freqüentavam de "Igrejinha". A essa altura já estava envolvido com a Fraternidade Teológica Latino-Americana (FTL), a Aliança Evangélica Mundial (WEF) e com o Movimento de Lausanne (LCWE). Foram novos oásis!
Regressei ao Recife (1976) continuando como assessor da ABU, me filiei à Paróquia da Santíssima Trindade, da então Igreja Episcopal Brasileira (IEB) (Rev. Paulo Garcia, pastor; Revmo. Edmundo K Sherril, Bispo), vivendo sua primeira "dispensação" a evangélica. Miriam havia se filiado à Igreja Batista da Capunga (Pr. Manfred Grellert). E, por alguns anos, cada um ia para sua Igreja pela manhã, e alternávamos os domingos à noite. De fato, estávamos em duas Igrejas, e sem problemas. Como assessor da ABU continuava meu périplo, e, nesse tempo, guardo gratas recordações da Igreja Evangélica Pentecostal "O Brasil Para Cristo", de Boa Viagem (Pr. José Alves), aonde íamos alguns sábados à noite, participando, inclusive, de pregações ao ar livre na praça do aeroporto.
Na Igreja Anglicana fui Leitor (Ministro Leigo), professor de Escola Bíblica Dominical, membro de Junta Paroquial, postulante e candidato às Sagradas Ordens, e, finalmente, clérigo ordenado, como Diácono (1984), e Presbítero (1985). A essa altura, já estava com 41 anos de idade, e somente havia conhecido oásis eclesiásticos. Ao mesmo tempo, todo o ensino que eu tinha na cabeça sobre "tribulações" e "aflições" apenas se referia ao "mundo", nunca à Igreja. Tempo inocente. Tempo de muito idealismo e otimismo. Mas... e, há sempre um "mas"... em breve conheceria o "deserto".
Robinson Cavalcanti, bispo anglicano.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Robinson Cavalcanti escreve com exclusividade neste blog?
Daniel,
Com exclusividade, não. Mas recebo em primazia os textos e tenho o direito de replicá-los. =]
abs
Não sei bem como é música deste Hino, mas sei da letra:
"Não pára não pára não pára"
"Não pára não pára não pára"
Postar um comentário