Durante a apuração da reportagem O Brasil cai na rede, publicada na edição 508 e que tenta explicar os impactos sociais e econômicos produzidos por metade da populção brasileira a navegar na internet, CartaCapital ouviu uma série de especialistas em diversas áreas relacionadas à grande rede.
Alguns desses especialistas deram pistas sobre um fenômeno interessante e bastante particular: a existência de um possível “jeito brasileiro” de se navegar pela web.
Marcelo Coutinho, diretor de análise de mercado do Ibope Inteligência, foi talvez a fonte mais enfática ao indicar uma apropriação e transformação das tecnologias disponíveis na rede por parte dos internautas brasileiros.
Para Coutinho, um estudioso das relações de interatividade entre usuários de ferramentas da chamada Web 2.0 –blogs, redes sociais, sites colaborativos, entre outros–, esse “jeito brasileiro” pode colocar o Brasil em uma posição de vanguarda em alguns aspectos da rede.
Em entrevista concedida à CartaCapital, que transcorreu em clima de conversa descontraída, Coutinho tenta explicar melhor o que significa esse fenômeno da presença maciça do brasileiro na internet.
Conceito de internauta e a possibilidade de 50% dos brasileiros estarem na rede
O que é internauta? é alguém que usa a internet uma vez a cada três meses (definição de todas as pesquisas de quantidade de usuários), uma vez na vida ou usa todo dia? Apenas 18% dos brasileiros, pela pesquisa realizada pelo Comitê Gestor da Internet no fim de 2007, utilizam a internet diariamente (entre a população de maiores de 10 anos de idade).
Temos que fazer uma série de discussões para chegarmos aos tais 50% dos brasileiros usando a internet, mas já chegou a hora de pararmos de pensar a internet como um fenômeno simplesmente numérico, e começarmos a olhá-la como um fenômeno qualitativo e comportamental.
Barateamento do equipamento e fenômeno das lan houses
Mas se seguirmos falando no fenômeno simplesmente numérico, o que ocorreu nos últimos anos que explica esse crescimento é: redução brutal do custo de acesso e redução brutal do custo do computador, estimulada pela desvalorização do dólar. Exemplo prático é o preço de um equipamento de entrada, básico em 2004, 2005, estava na faixa de 2 mil dólares. Hoje, esse mesmo equipamento custa cerca de 1.100, 1200 reais. Se esse fenômeno continuar, e o ritmo de crescimento o for mantido, é possível que atinjamos os tais 50% de acesso à internet.
Qualquer que seja o instituto que você pegue, a internet no Brasil cresce, e cresce em uma proporção impressionante. Aonde cresce o acesso? Nas lan houses, e a lan house é um fenômeno de crescimento tanto quanto é social. O acesso cresce baseado no barateamento dos custos, o que possibilitou a muitas pessoas levarem o computador para dentro de casa, mas mesmo aqueles que não conseguiram fazer isso, têm a possibilidade de usar a lan house para acessar. Não existe um estudo que determine o número de lan houses no Brasil, mas dá para afirmar, baseado em pesquisa pessoal minha que em Heliópolis (bairro da periferia de São Paulo, onde fica a maior favela da capital paulista) são 19 lan houses em 2007.
Então há essa explosão de acessos em espaços públicos, mas que são privados, muito por conta deste barateamento do equipamento. Agora esse fenômeno vai continuar assim? Depende de uma série de fatores, dos quais o mais determinante é a economia brasileira. Se ela continuar como está, se existir renda para o jovem ter o dinheiro que paga as horas usadas na lan house, ou então para os pais desses jovens investirem dinheiro em uma prestação para comprar um equipamento em parcelas, então esse crescimento explosivo continua.
trecho de matéria publicada na CartaCapital.
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