“A teoria evolucionária não é incompatível a priori com os ensinamentos da Igreja Católica, com a mensagem da Bíblia e a teologia, e de fato nunca foi condenada.” A declaração do monsenhor Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, soou como a releitura de uma conciliação da tese científica sobre a criação do mundo. No entanto, está longe de ser um pedido de desculpas póstumas ao cientista Charles Darwin, pai da teoria da evolução das espécies, criada 150 anos atrás.
“Talvez devêssemos abandonar a idéia de emitir pedidos de desculpas como se a história fosse um tribunal eternamente em sessão e nos concentrar em estabelecer um diálogo franco e eficiente entre dois pontos de vista que olham para a mesma realidade — do homem e de seu mundo”, acrescentou Ravasi. Para o catolicismo, a gênese ocorreu, literalmente, por meio da palavra de Deus e durou seis dias. De acordo com o pensamento darwinista, todas as espécies surgiram a partir de ancestrais comuns, por meio da seleção natural.
Em entrevista ao Correio, ex-alunos do papa Bento XVI admitem que o Vaticano está isento de se justificar perante a figura de Darwin. “A Igreja não tem que pedir desculpas a Darwin”, afirma Vincent Twomey, professor de teologia moral do St. Patrick’s College, em Dublin (Irlanda). “Ela freqüentemente se opôs ao darwinismo, uma filosofia baseada na teoria da evolução que tentou projetar o princípio da ‘sobrevivência do mais saudável’ à esfera política e acabou por justificar movimentos de eugenia e ideologias como o nazismo e o marxismo”, acrescenta. De acordo com ele, o próprio conceito criado por Darwin recebeu ajustes ao longo das últimas décadas e ajudou muitos cientistas a reconhecer a realidade como algo “inteligível e divino”.
Twomey considera o criacionismo não uma crença católica, mas produto de fundamentalistas protestantes americanos. “Eles vêem a teoria da evolução como contraditória ao texto literal do livro de Gênesis, o que é especialmente absurdo, por ignorarem o seu gênero literário”, afirma. Na opinião do irlandês que concluiu seu doutorado sob a tutela de Joseph Ratzinger, entre 1971 e 1978, na Universidade de Regensburg (Alemanha), os defensores do criacionismo anseiam em ver sua interpretação ensinada nas aulas de religião e de ciência. “Isso é um absurdo, confunde fé e razão”, critica Twomey.
Limitações
Em 1986, a Santa Sé já havia antecipado uma postura mais amena em relação ao evolucionismo. “A teoria da evolução natural, compreendida de modo que não exclua a causalidade divina, não se opõe à verdade sobre a criação do mundo visível como apresentada no livro de Gênesis”, declarou o papa João Paulo II, naquela ocasião. Dez anos depois, o pontífice polonês enviou uma mensagem à Academia Pontifícia de Ciências na qual se referiu à evolução como “mais do que uma hipótese”.
O padre norte-americano Joseph Fessio, também ex-aluno de Ratzinger, admite que a “catequese da criação” não aborda a evolução. Segundo ele, a ciência trata apenas do que é quantificável, empírico. “Ela só pode investigar o processo dentro da natureza”, sugere. “Qualquer questão sobre uma realidade para além do empírico pertence à filosofia.”
Fessio lembra que, ao alegarem que mutações ou a seleção natural são suficientes para explicar a origem da vida, Darwin se opõe à Igreja e à filosofia. De acordo com ele, a fé precisa defender a razão e apontar suas limitações. “Deus é extratemporal: Ele não criou o mundo para assisti-lo a se desenvolver”, explica Fessio. “Seu ato de criação comporta todo o tempo. O mundo é uma dança cósmica.”
fonte: Correio [via Clipping Evangélico]
17.9.08
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Um comentário:
Quem ouve todo este palavrório pode até achar que a Bíblia está no mesmo pé de igualdade que as teorias de Darwin.
É melhor examinar primeiro quem é quem em autoridade sobre as coisas da vida e da morte.
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