Sem conseguir figurar entre os nomes de grandes editoras, muitos dos jovens autores de poesia encontram abrigo na internet e em pequenas casas editorias. Essa nova geração parece enfrentar o mesmo problema das anteriores: ter de trilhar caminhos alternativos para divulgar sua arte
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Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, mestres da poesia brasileira e nomes-chave do movimento modernista, são apostas editoriais até hoje. Para o final deste ano, por exemplo, a editora Record projeta uma reunião de poemas sobre o Natal e a época de fim de ano assinados por Drummond. Segundo a diretora da Record, Luciana Villas Boas, investir em uma obra de Drummond é um ótimo negócio editorial, porque vende. E muito. Mas, no que se refere à edição de poetas inéditos, o cenário não é tão favorável: "O livro de poesia dificilmente vende quantidades expressivas, a ponto de justificar a publicação. Colocar no mercado nomes desconhecidos é praticamente impossível do ponto de vista econômico", explica Luciana.
De que modo se organizam, então, os novos poetas? Em parte, como faziam na década de 1970 e até mesmo antes, quando autores iniciantes trabalhavam em edições caseiras, que eram enviadas às editoras ou vendidas de porta em porta. Alguns autores contemporâneos persistem na auto-edição, mas a maioria migrou para empresas de pequeno porte, que se proliferaram nos início dos anos 80 e hoje são pólos fundamentais de divulgação do trabalho dos poetas.
Mariana Ianelli, poetisa paulistana que publicou o primeiro livro em 1999, aos 20 anos, é exemplo desse movimento. Vencedora do Prêmio da Fundação Bunge para Poesia 2008 e considerada uma das mais talentosas escritoras da nova geração, a autora publicou seus cinco livros pela Iluminuras. "Tive o privilégio de apresentar meu livro a um editor que confiou no meu trabalho sem a prerrogativa do 'sucesso de venda', ou seja, alguém que apostou na poesia, independentemente do seu êxito ou fracasso comercial", relata Mariana.
Para ela, a importância dessas pequenas editoras para poetas iniciantes é indiscutível, já que muitos nomes publicados pela Iluminuras ou pela carioca 7Letras foram mais tarde encampados por empresas de maiores, quando se tornaram conhecidos do público. Frederico Barbosa, poeta, editor de livros e diretor do centro cultural Casa das Rosas, de São Paulo, também destaca a importância dessas casas, mas levanta a seguinte questão: "Ainda hoje, mais de 80% dos livros de poesia publicados são financiados pelo próprio autor. Algumas editoras até publicam, mas quem paga o investimento é o poeta. Isso é um grande mal, porque gera um problema de distribuição. A editora, que não financiou a obra, não paga para que seja distribuída".
Em alternativa a esse quadro, tanto Frederico quanto Mariana apontam a internet como o principal caminho para que os poetas levem a público suas criações. "A internet pode suprir o descrédito por parte das grandes editoras. Para quem está começando, talvez seja mais do que uma simples estratégia de veiculação, já que facilita o debate, a troca de impressões", opina Mariana. Para Frederico, há tempos a rede se tornou, de longe, a melhor forma de divulgar poesia. "É um ambiente democrático tanto para quem quer mostrar seu trabalho quanto para os que estão interessados em poesia".
Mesmo com o grande alcance dos blogs e das revistas eletrônicas, alguns escritores consideram imprescindível que seu poema seja impresso. Citada por Mariana, a poeta Débora Tavares, que mantém uma página há anos, nunca conseguiu reunir seus poemas em uma publicação tradicional. É também o caso da poeta Valéria Tarelho, uma escritora " impressionante, dessa leva de poetas que usam a internet como meio de divulgação", conta Frederico, que descobriu a autora navegando pela rede. A internet funciona, portanto, como mais um recurso para que as carreiras dos jovens poetas continuem a ser construídas como no passado: por vias alternativas, à margem do grande mercado editorial.
Sheyla Miranda, no site da Bravo!
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