Santa chuva na Mangueira, agora de manhã. Entro em um táxi e, por força da chuva e de expressão, peço ao motorista: "vamos com Deus". O senhor negro e de cabeça branca me afirma que vamos sempre com Ele. E que O conhece desde os dezoito anos. E explica que, ainda aos oito, trabalhava em uma fazenda em troca de comida. E que em certas madrugadas de trato com os bois, não conseguia abrir as mãos, tamanho frio. E que aos onze anos, vestiu sapatos pela primeira vez. Foi calçado e levado na caçamba de um caminhão para a cidade grande. E que seu irmão mais novo foi separado dele nessa época. E que um dia, aos dezoito, trabalhava em uma drogaria. E que nessa época, já sem esperanças de rever o parente querido, aparece uma senhora que compra remédios. Ela lhe conta que seu irmão trabalha em uma casa de sucos da Central do Brasil. Ela o chama pelo nome e sabe também o nome do irmão. E que ele largou o balcão e correu ao encontro do irmão na mesma tarde. E que se abraçaram e choraram quando se encontraram. E que nenhum dos dois conhecia a tal senhora que os uniu. E que na drogaria, antes de sair apressado, ninguém mais a viu entrar e falar com ele. Teve bronca do chefe porque não havia senhora alguma, com recado algum. E que ele tem a certeza que ela era uma alma caída. E que ele tem a certeza de Deus.
Ele me pegará hoje, às cinco, para me levar de volta a Botafogo. Vamos com Deus.
Andre Dahmer, no blog Malvados.
4.10.08
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