A EXCESSIVA PRUDÊNCIA dos medíocres pretende paralisar, sempre, as iniciativas mais fecundas. Isto não quer dizer que a imaginação exclui a experiência: esta é útil, mas sem aquela é estéril. Os idealistas aspiram conjugar em sua mente a inspiração e a sabedoria; por isso, com frequência, vivem travados por seu espírito crítico quando os anima uma emoção lírica e esta lhes turva a vista quando observam a realidade. Do equilíbrio entre a inspiração e a sabedoria nasce o gênio. Nas grandes horas, de uma raça ou de um homem, a inspiração é indispensável para criar; esta chispa acende-se na imaginação e a experiência converte-se em fogueira. Todo idealismo é, por isso, um afã de cultura intensa: conta, entre seus inimigos mais audazes, com a ignorância, madrasta de obstinadas rotinas.
NENHUM IDEALISMO é respeitado. Se um filósofo estuda a verdade, tem que lutar contra os dogmatistas mumificados; se um santo persegue a virtude, se estrumbica contra os pré-juízos morais dos homens acomodados; se o artista sonha novas formas, ritmos ou harmonias, fecham-lhe o passo as regulamentações oficiais da beleza; se o namorado quer amar escutando o seu coração, esbarra nas hipocrisias do convencionalismo; se um juvenil impulso de energia leva a inventar, a criar, a regenerar, a velhice conservadora ata-lhe os passos; se alguém, com gesto decisivo, ensina a dignidade, a turba dos servis lhe responderá ladrando; ao que toma o caminho das alturas, os invejosos lhe carcomem a reputação com sanha e maleficência; se o destino chama um gênio, um santo ou um herói para reconstituir uma raça ou um povo, as mediocracias, tacitamente arregimentadas, resistem-lhe, a fim de enaltecer seus próprios arquétipos. Todo idealismo encontra nestes climas seu Tribunal do Santo Ofício.
José Ingenieros, em O homem medíocre (Ícone Editora).
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