8.11.08

Jukebox

Eu quis chorar e disfarcei olhando para o balcão com os olhos imóveis. Tudo parecia mais despedida com aquela luz entrecortada pelo movimento do ventilador de teto. Poucas pessoas no bar àquela hora. E mesmo assim eu só conseguia ver você com aquela jaqueta de couro falsa. Aos meus pés, a mala de roupas e um buraco enorme. Um precipício. Tudo mais uma vez desconhecido. Uma porta do bar é fechada, faz aquele barulho de fim de tudo. E eu quero correr o tempo de volta. Virar a ampulheta e te encontrar. Novo começo. Quando, ainda, a história não havia encoberto o seu sorriso em nuvens de tristeza. Que momento esse seria, se naquele esbarrão do metrô, mesmo gentil em nosso primeiro encontro, já existia um cinza estranho projetado no seu olhar?

Eu não sei, são tantos e todos os eventos na vida do ser humano. Tantas peças, nunca soube juntá-las. Nem sequer as minhas. Vide essa mala, sempre de lá pra cá, semi-aberta. Nada que carrego. Um vestido, uma sandália e uma caixinha de lembrar. E mesmo assim a mala parece tão pesada e pequena. Vai entender.

E você diante de mim, agora, segurando o copo de alma selada. Sem nada falar. Mas, o único mistério, é essa sombra maior que seu corpo projeta na minha existência. E eu fico aqui, apagada, protegendo a mala da gente estranha desse bar na estação de trem. É madrugada, fria, gelando a ponta do nariz e doendo no coração. Eu tento decifrar, mas apenas me perco em considerações pessoais. Sobre você, tudo é tão simples que dói. Então, só me resta fantasiar alguma teoria louca, sobre o cinza das nuvens de inverno. Aqueles dias sem fim de frio e pouca cor. Como essa vida que mora atrás do teu olhar. Nessa maldita madrugada.

Gasto um pouco de todo o dinheiro que tenho - contado para não morrer tão cedo – e coloco uma música na jukebox. Chamo você para dançar, não falo, apenas estendo a mão e te lambo com o olhar. Você me conforta no peito, e mexe as pernas muito devagar. Nós nos despedimos assim. Sem encontrar o nosso passo.

Bianca Rosolem, no Blônicas.

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