25.11.08

Pouco além das orelhas

Os conservadores brasileiros nunca conseguiram se alojar de modo confortável em nossa universidade pública. De uns tempos para cá, nem mesmo na universidade particular de boa qualidade. Eu chego a dizer: não conseguem ter cátedra em lugar algum. Isso os magoa.

No caso dos não só conservadores, mas reacionários, nem mesmo a política os acolheu. Nenhum político brasileiro quer ser “de direita” – e isso não só na retórica, também nas ações. Em uma democracia sem adjetivos cerceadores, os políticos vivem do voto, e em um país como o Brasil, diferentemente dos Estados Unidos ou da Inglaterra, o termo conservador não traz um grupo de eleitores, traz apenas complicação. Sendo assim, que lugar sobra para uma pessoa escolarizada e “de direita” no Brasil?

Não sabe? Eu digo: o jornalismo. Não todo o jornalismo, é claro. Mas o jornalismo de rádio e TV e, depois, o escrito, é o gueto da direita. Até aí, não há qualquer problema. Não reclamo. É natural e saudável ver um local para acolher esse pessoal. Antes isso que um partido neofascista ou uma escola capaz de ensinar a cartilha de Plínio Salgado ou coisa pior. Uma sociedade plural tem de encontrar um local para seus radicais de direita se expressar de modo democrático. O fechamento disso pode ser a ruína da democracia. Todavia, isso não quer dizer que esse pessoal, uma vez circunscrito a cargos pequenos na imprensa, seja ungido pela legitimidade. A legitimidade deles vem, se a conseguirem, deles escreverem bem e corretamente, e de passarem informações fidedignas.

Do mesmo modo que a esquerda marxista da universidade (e que agora, atrelada ao populismo, está no governo federal) nem sempre é culta como quer fazer parecer, a direita alojada no jornalismo não pode acusar essa esquerda de inculta do modo como acusa. Isso por uma razão simples: a direita brasileira não tem dado mostras de estar lendo para além de orelhas de livros. Essa direita, seja ela sem pescoço ou cabeludinha ou de chapéu, carcareja muito, mas erra de um modo muito mais inculto que a esquerda.

trecho de Reinaldo de Azevedo tenta entender Kant!, texto legal no blog do Paulo Ghiraldelli.

no caso dos conservadores evangélicos, ainda há alguns refúgios acadêmicos. no entanto, sobrevivem apenas dois tipos de modulações na voz: uivo shakespeareano na blogosfera ("muito barulho por nada") e o murmúrio da galinha d'angola ("tô fraco") nas turmas de teologia que, somadas, quase cabem numa kombi.

2 comentários:

berna disse...

Pava: me perdoe a ignorância, mas não dá prá você me explicar mais com uma linguagem mais coloquial? Confesso a minha dificuldade em entender certos assuntos. Que pena que eu sou tão simplória.

Will disse...

Melhor que o texto só a "partezinha" em verde!rs

Abraços!

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