3.12.08

Bodas de Cacau

Para todos que eu conto, é um espanto. Nunca ouviram falar de um casal que tenha ficado 81 anos junto. Nem eu”, comenta a ativa dona Julieta Paganossi Perez, 100 anos, ao lado de seu Luiz Perez Galindo, já com 101 anos.

O casal centenário de Monte Alto mora com dois dos seis filhos vivos (“um deles Deus me levou”, lamenta a senhora). No ano passado, na celebração dos 80 anos, houve uma singela celebração da data nem um pouco convencional. E hoje, um ano depois, não será diferente.

A certidão de casamento original não deixa mentir: o casamento foi no dia 3 de dezembro de 1927, na igreja velha, que não existe mais, a antiga Matriz do Senhor Bom Jesus, onde hoje fica a fonte da Praça Central.

A informação é de dona Julieta, que assume 100% do relato, devido ao comportamento tímido, sereno e calado de seu Luiz.

“Ele fica assim quietinho durante o dia; gosta de conversar à noite, quer sempre companhia para ouvir suas histórias”, revela a filha Jandira. O casal - ele imigrante vindo da Espanha e ela nascida em Pirassununga - viveu a maior parte da vida na zona rural. A vida na cidade é ativamente recente, só 21 anos.

Ao longo de suas vidas, só viram a família crescer. Hoje são 22 netos, 39 bisnetos, cinco tataranetos e um tetraneto (ou “caquinho de neto”, como familiares identificam a geração).

Seu Luiz trabalhou a vida toda na roça. Também foi carroceiro e balanceiro. “Tivemos dois sítios, um de 13 alqueires e outro de 15, conquistados com muito suor”, lembra dona Julieta.


Sempre juntos
“Nunca tive o que falar de mal dele, nem ele de mim. Trabalhamos sempre juntos, lutando para conquistar tudo para nossa família, nestes 80 anos”.

Apesar da idade, dona Julieta mostra estar com boa memória. “Lembro de tudo. Meu pai não queria espanhol nem calabrês na família, de jeito nenhum. Ele [Luiz] veio da Espanha com seis anos para morar perto da nossa casa. Crescemos ali, juntos; as famílias eram bastante próximas”, conta.

“Aí começamos a gostar um do outro. Como ele era muito bom e obediente, meu pai aceitou o casamento. Lembro até da festa. Havia sete carros e uma caminhonete, cheios de gente. Um belo almoço, com leitoa, risoto, macarronada. Lembro até de ter cumprimentado meu sogro e minha sogra no terraço, vestida de noiva. Já faz 81 anos, heim!”.

As do ano passado foram as Bodas de Carvalho ou Nogueira, por sinal a última marca para este tipo de descrição. A partir de 81 anos, porém, não há mais uma boda específica, também não há muitos casos registrados de casais que tenham atingido a marca histórica.


Fonte:
Jornal A Cidade


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