10.12.08
Carta ao G-20
Logo depois que o nosso excelentíssimo senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, vulgo Lula, disse em entrevista que a crise mundial pode vir a dar uma trégua somente em meados de 2010, fiquei pensando nos milhões de homens, mulheres e crianças que fazendo parte dessa crise, mas somente no aspecto do despojo de sua dignidade, vão fazer para agüentar até lá. Pensei também nos muitos irmãos catarinas, que mesmo enlutado foram alvos da solidariedade do povo brasileiro, independente de credo, religião etc, mas que, assim como outros flagelados, como é o caso das centenas de Zimbabuenos que estão morrendo na África, não possuem nem o mínimo frente à crise, muito menos ao término dela.
Diante de uma única pincelada nesse terrível quadro, que por si só já é bem dramático, lembro de crises semelhantes como àquelas deflagradas por dirigentes inescrupulosos e condenadas tenazmente por profetas bíblicos, como Miquéias e tantos outros que ao se referirem aos chefes e príncipes judeus, aos anciãos e profetas pertencentes à classe abastada, ilustrava a ação predatória ao governados, ou seja, para a população imersa em desgraças administrativas, sociais etc, como um monte de carne que é destroçada ferozmente pela egoística “fome” de seus governantes.
Hoje, cabe a esses governantes e sistemas como um todo, olharem para Deus como o Senhor da e que disponibiliza a terra como benção e prosperidade para usufruto coletivo de suas criaturas, se arrependerem de suas ações destrutivas e letargia em mudar a ordem das coisas, que mesmo sendo explicita no ‘olho’ do grande furação da crise mundial, ainda pensam somente neles próprios.
Ciente dessa realidade, e como representante da classe oprimida por esse sistema, Jesus González Pazos, responsável pela área indígena Mugarik Gabe (ONGD), escreveu uma carta profética (tradução Roberas.com) para a última reunião do G20, que é transcrita abaixo como voz representativa de todos aqueles que são esquecidos ao invés de serem contemplados pelas deliberações desses chefes e príncipes contemporâneos:
O G20 se reúnem a portas fechadas, mas no meio de toda a parafernália midiática se pretende uma reformulação do capitalismo na qual tudo aparentemente pode mudar, mas pouco coisa muda realmente para que o atual sistema dominante mantenha, precisamente isso, sua dominação.
Vocês nos dizem, por meio dos veículos de comunicação que nada é possível fora deste sistema e, se o mesmo ruir, derrubará todo o nosso modo de vida e todo nosso bem-estar como sociedade privilegiada. Também nos dizem para mais uma vez confiarmos no sistema, para não nos preocupemos, pois tudo será solucionado da melhor forma possível.
No entanto, hoje quero escrever uma carta para vocês dirigentes, mesmo sabendo que esta carta não chegará até vocês, até porque uma simples carta de um cidadão não conseguirá desmontar todo a segurança e convencimento na viabilidade deste sistema capitalista que construíram. Mas permitam-me dizer-lhes algumas coisas evidentes, das quais este sistema e todos vocês, são os responsáveis:
No mundo capitalista que vocês pregam não há uma administração majoritariamente para o nosso bem-estar. Praticamente a metade da população mundial está, segundo seus próprios índices de medição de pobreza, abaixo desse umbral; e umas centenas de milhões (que frias são as cifras!!!) estão na extrema pobreza. Todas essas pessoas, com rostos, com nomes, gastam aproximadamente 80% de seus poucos recursos para alimentar-se e, apesar disso, vários milhões desses mesmos homens, mulheres e crianças sofrem de desnutrição.
Fora o não exercido direito à educação, à saúde, ao trabalho, ao voto, ao..., e a um longo ‘etcétera’ de direitos que supõem, em suma, direito a uma vida digna, os quais vocês mesmos sempre ‘proclamaram’ como inalienáveis e irrenunciáveis para todo ser humano.
Quero dizer também que a grande maioria das mulheres sofre violência física e psíquica por todo o mundo, e nunca se apresentou um combate a esta injusta situação como prioridade de suas grandes reuniões, mas somente algumas insignificantes declarações de boas intenções
No mundo capitalista que vocês pregam não impera a igualdade nem a justiça. Os desequilíbrios entre pessoas e países não diminuíram, mas pelo contrário, nas últimas décadas de domínio neoliberal, se multiplicaram. E isto é resultado das privatizações dos serviços sociais, dos chamados ajustes estruturais, da superação de tudo visando o mercado. Agora se reúnem alarmados pela crise financeira e, a conseguinte, crise produtiva que já está chegando segundo suas próprias e profundas análises nas contas e resultados das grandes empresas. Sem mencionar essas análises, muitos milhões de pessoas no mundo estão sofrendo outras crises mais graves há muito tempo (como aquelas citadas, em parte, logo acima), fora que em nossa sociedade, já tem um bom tempo que a cidadania sofre com seus efeitos (endividamento, desemprego etc).
Aplicaram medidas de realocação de enormes quantias de dinheiro público para o setor privado com antecedência máxima para salvar seu sistema financeiro, e agora, na sua reunião, decidirão novas transferências de fundos. Se alguma vez decidissem, simplesmente, com a metade dessa urgência, aplicar medidas contra a fome, contra a mudança climática, pela aplicação de todos e cada um dos direitos humanos individuais e coletivos, acredito que haveria solucionado a grande maioria dos problemas que destroem à imensa maioria da população mundial.
O engraçado é que para isso, se reúnem somente vinte países, quando o mundo, sem contar os povos, está formado por mais de 190 países presentes nas nações Unidas. Isto é, mais de 10% desse total pretende definir as novas regras do sistema e fundá-lo sem permitir que a maioria possa participar, nem pelo menos fazer o mínimo questionamento. Mais uma vez, apagam do planeta continentes inteiros como a África e AL, ou quase inteiros, e “os de sempre” decidirão o que é melhor para todos os outros. Mas sua própria auto-definição lhes descreve como sendo os vinte mais ricos ou, em vias de sê-lo. Isto é, neste sistema só decidem as minorias mais ricas, enquanto as maiorias mais pobres não têm outra função a não ser a de acatar e sustentar o sistema a cargo da exploração sistemática de seus próprios recursos por parte dos primeiros. Sistema este, louvado e definido como verdadeiramente democrático, mas que mais uma vez nos demonstra que a participação, a redistribuição e a cidadania universal são simples quimeras ocas nos seus discursos para determinados foros.
Mas o contrário lhes suporia reconhecer que seu sistema não é o melhor nem o único possível. E o mais grave, suporia reconhecer que não é o mais justo e que atenta diretamente, pelos seus efeitos, contra a dignidade das pessoas e dos povos. Por que a dignidade não é aplicável somente a uma parte dos seres humanos; o é para todos e todas ou, não o é. Feliz reunião.
Para ler o texto no original em espanhol, clique aqui.
fonte: Roberas.com
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Um comentário:
Eu comento, daqui a 20 dias.rsrs
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