Por Rafael Garcia para a “Folha de SP” (via Jornal da Ciência):
O grande conflito opondo ideologias laicas e religiosas hoje está na biologia, com o movimento criacionista tentando impor às escolas o ensino de conceitos do Gênesis bíblico como alternativa à teoria de Darwin.
Um grupo de psicólogos que trabalha numa frente menos conhecida, enquanto isso, cria controvérsia por outro motivo: eles tentam usar a evolução para explicar por que a religião surgiu. Segundo o canadense Azim Shariff, porém, é justamente porque ela promove o bem.
Em parceira com o psicólogo Ara Norenzayam, Shrarif publicou neste ano um estudo na prestigiosa revista "Science". Os dois defendem a teoria de que a religião surgiu em sociedades humanas arcaicas porque promove a cooperação dentro de grupos de pessoas.
Experimentos comportamentais, porém, mostram que isso ocorre mais apenas quando o ato altruísta contribui para a reputação das pessoas. Em entrevista à Folha Shariff falou sobre seu trabalho.
- Best-sellers como os do jornalista Christopher Hitchens e do biólogo Richard Dawkins apontam a religião como fonte de conflito. Seus estudos, porém, indicam que a crença religiosa dá vantagem evolutiva a grupos humanos, porque incentiva a cooperação. O que acontece, então, é justamente o oposto?
Eu não diria que é o oposto. Hitchens e Dawkins estão adotando um ângulo uniformemente negativo sobre religião. Se você procura algo mais próximo da verdade, será mais equilibrado. Obviamente, não vai descobrir que a religião é uma coisa totalmente boa, da mesma forma que ela não é totalmente ruim. Nós mostramos que ela promove algum bem, mas apenas quando condições específicas são cumpridas. Nossa pesquisa em geral causa reação de desapontamento tanto entre pessoas contra quanto a favor da religião, porque ela não diz que ela é má, como Hitchens, e não diz que a religião é boa, como aqueles que pregam suas religiões. Nós descobrimos, de fato, que a religião incentiva o comportamento pró-social, mas não pelas razões que as pessoas religiosas gostariam de acreditar.
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