30.12.08

Tá proibido


O bispo diocesano de Uberlândia, dom Paulo Francisco Machado, determinou a todos os párocos que, a partir de 2009, não permitam mais a venda de bebidas alcoólicas nas festas promovidas pela Igreja. A decisão vale para nove cidades que compõem a Diocese (Uberlândia, Araguari, Tupaciguara, Monte Alegre, Araporã, Estrela do Sul, Cascalho Rico, Grupiara e Indianópolis).

“Não sou inovador, só estou trazendo para cá uma decisão que já foi tomada há muitos anos por outros bispos”, disse dom Paulo Machado. Segundo ele, cada vez mais a Igreja se vê empenhada na Pastoral da Sobriedade. “É uma incoerência nas festas vender bebidas alcoólicas e ter uma Pastoral da Sobriedade, nós deveríamos ser os primeiros a dar o exemplo de sobriedade”, afirmou.

Essa pastoral foi criada há três anos pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para trabalhar ações concretas de prevenção e recuperação da dependência química.

A integração entre as pastorais, movimentos, comunidades terapêuticas e casas de recuperação é proposta pela CNBB para, “por meio da pedagogia de Jesus-Libertador, resgatar e reinserir os excluídos, propondo uma mudança de vida através da conversão”.

“Nós sabemos que a bebida é a causa de dissolução de muitos lares, provoca muita dor, violência, não podemos admitir isso. Isso não é coisa minha, eu só estou trazendo à memória uma coisa que os bispos anteriormente já decidiram.”

Igreja quer promover a virtude da temperança

O bispo dom Paulo Machado diz que é papel da Igreja ajudar as pessoas que “não têm a virtude da temperança”. São cristãos que vivem uma vida de vício e por isso a Igreja não pode incentivar. Pelo contrário, nós incentivamos a temperança, a virtude”, disse o bispo.

Homem virtuoso é, segundo ele, livre diante do álcool. “É a pessoa que tem a liberdade de dizer que quer ou não quer, pode ou não pode beber, porque não é escrava do álcool, é esse equilíbrio que a Igreja deve promover”, afirmou.

A virtude da temperança é considerada pela Igreja como virtude cardeal, que diz respeito ao comportamento do cristão.

São as virtudes morais, que segundo a Igreja levam uma pessoa a escolher entre o bem e o mal. É sobre esta prudência que Jesus fala no Evangelho: “Eis que vos mando como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois, prudentes como a serpente e simples como as pombas” (São Mateus 10:16) e também: “Quem julgas que é o servo fiel e prudente, a quem o seu senhor constituiu sobre a sua família, para lhe distribuir de comer a tempo?” (São Mateus 24:45).

Bebidas: medida compromete vendas, mas não há oposição

Assunto é tabu entre organizadores de festas em paróquias uberlandenses que evitam o assunto sobre a orientação do bispo diocesano, dom Paulo Francisco Machado, de não permitir a comercialização de bebidas alcoólicas em festividades promovidas pelas comunidades católicas. A maioria afirmou que não tomou conhecimento dessa determinação eclesiástica.

No entanto, para o construtor Norman Mendes Colares, que ajuda na organização das festas promovidas pela Paróquia Nossa Senhora das Dores, com barraquinhas na praça Coronel Carneiro, a medida deverá afetar as vendas durante os eventos religiosos. “Acho que o movimento vai cair mais da metade. Para vender espetinho tem que ser acompanhado com uma cervejinha. O intuito é arrecadar para a própria Igreja. A mais afetada vai ser a Igreja”, disse.

Para a empresária e fiel Mara Rúbia de Ávila, o veto à bebida alcoólica é uma atitude coerente do clero uberlandense. “A Igreja tem a função e a missão de tirar as pessoas do alcoolismo. É contraditório vender bebida em festa da Igreja.”


Fiéis concordam com a proibição

"A venda incentiva o vício. Muita gente fica bêbada nestas festas e é perigoso. Agora, as quermesses serão mais familiares e seguras”Esméria Fernandes da Costa, instrumentista, 72 anos

"São festas religiosas e a bebida em excesso vai contra o que prega a religião. Quem gosta realmente das confraternizações não vai deixar de ir”Douglas Aparecido França, estudante, 18 anos

"A Igreja está certa, dando exemplo para os mais jovens. Nessas festas, as pessoas bebem demais”Ionice da Silva Martins, merendeira, 48 anos

Outros discordam da medida

"Bebida é sinônimo de diversão. As festas existem para relaxar e aproveitar. Se não tiver cerveja, eu não vou mais”Joel de Oliveira Alves, serralheiro, 43 anos

"Não vai ser festa mais, porque as pessoas vão para beber. Sabendo consumir o álcool, não tem problema. Acho radical a proibição”João Melquíades Soares, taxista, 70 anos

"Sou totalmente contra. Só vou a estas festas para beber cerveja, em festas juninas tem quentão. Se tirarem as bebidas, vão acabar com a diversão”Cléberson Lucas dos Reis, jardineiro, 26 anos

Fonte: Correio de Uberlândia
Imagem: Internet

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