"...Em entrevistas,(o antropólogo, professor e filósofo francês, 100 anos completados no último dia 28 de novembro) Lévi-Strauss contou muitas vezes que, ao voltar do Brasil, começou a escrever um romance – abandonado quando se convenceu de vez da falta de talento para a ficção – que se chamaria Tristes Trópicos. Como nunca explicou por que o romance, por sua vez, teria esse título, ficamos na mesma. Viria a tristeza das boçais truculências, contadas no livro, sofridas em suas relações com o Brasil? Uma vez, em Salvador, ele fotografava meninos negros quando foi abordado por dois policiais e levado preso. "Essa fotografia, utilizada na Europa, poderia acreditar a lenda de que existem brasileiros de pele preta e de que os garotos da Bahia andam descalços", escreveu.
De outra vez – pior, muito pior –, já de volta à França, e querendo escapar do sufoco de ser judeu no regime pró-nazista de Vichy, esbarrou com a indecência do Estado Novo de Getúlio Vargas ao recorrer à Embaixada do Brasil em busca de um visto. O embaixador, Luís de Souza Dantas, que era seu amigo, já suspendia no ar o carimbo para aplicá-lo no passaporte quando foi interrompido pelo alerta de um conselheiro da embaixada – judeus não eram bem-vindos pelo regime brasileiro. Escreve Lévi-Strauss: "Durante alguns segundos, o braço permaneceu no ar. Com um olhar ansioso, quase suplicante, o embaixador tentou obter de seu colaborador que desviasse os olhos enquanto o carimbo se abaixasse. Nada aconteceu, o olho do conselheiro continuou fixado sobre a mão, que finalmente caiu ao lado do documento. Eu não teria o meu visto, o passaporte me foi devolvido com um gesto de tristeza".
De outra vez – pior, muito pior –, já de volta à França, e querendo escapar do sufoco de ser judeu no regime pró-nazista de Vichy, esbarrou com a indecência do Estado Novo de Getúlio Vargas ao recorrer à Embaixada do Brasil em busca de um visto. O embaixador, Luís de Souza Dantas, que era seu amigo, já suspendia no ar o carimbo para aplicá-lo no passaporte quando foi interrompido pelo alerta de um conselheiro da embaixada – judeus não eram bem-vindos pelo regime brasileiro. Escreve Lévi-Strauss: "Durante alguns segundos, o braço permaneceu no ar. Com um olhar ansioso, quase suplicante, o embaixador tentou obter de seu colaborador que desviasse os olhos enquanto o carimbo se abaixasse. Nada aconteceu, o olho do conselheiro continuou fixado sobre a mão, que finalmente caiu ao lado do documento. Eu não teria o meu visto, o passaporte me foi devolvido com um gesto de tristeza".
Roberto Pompeu de Toledo
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