13.1.09

Fé sob medida

Na sala ampla, repleta de pinturas estilizadas de figuras religiosas nas paredes, os instrumentos de uma banda de rock estão a postos e um telão exibe slides que fazem referência ao papel de Jesus como revolucionário.

Nas pequenas mesas e sofás, alojam-se os fiéis: jovens tatuados que usam roupas modernas e prestam atenção a cada palavra proferida pelo representante comercial Hudson Parente, o pregador da noite, paramentado de calça jeans e tênis All Star.

Como tudo no Projeto 242, igreja localizada no número 900 da rua da Glória, na Liberdade, a pregação passa longe daquelas dos cultos de templos evangélicos tradicionais.

A começar pelo teor do sermão: "Vamos falar do X-Men de verdade. O 'X' é de Cristo, ele é o messias, ele é o que traz a revolução", prega Hudson, 37, apropriando-se de um personagem pop das histórias em quadrinhos para falar de Jesus.

Logo depois, Hudson faz mais uma ligação com a contemporaneidade ao pedir uma prece pelo presidente eleito dos Estados Unidos. "Vamos fazer uma oração para que Barack Obama possa ser iluminado. Deus, tenha misericórdia desse cara."

Criado há dez anos, o projeto marca a chegada a São Paulo da chamada igreja emergente, movimento que nasceu na Inglaterra, na última década. É uma vertente que congrega denominações que começaram a oferecer cultos alternativos para a juventude, unindo espiritualidade, cultura e vida em comunhão.

O próprio nome da igreja remete ao espírito de comunidade: é uma referência bíblica ao versículo 42 do capítulo 2 do livro dos Atos dos Apóstolos: "E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações". A divulgação da fé se dá por meio de sites, fotologs e blogs.

Os fiéis do 242 são jovens de classe média ou média alta, muitos deles profissionais de áreas ligadas à criatividade, como designers, publicitários e arquitetos. Acreditam nos valores mais estritos da moral cristã, como a virgindade.

Ao mesmo tempo, fazem parte de uma comunidade religiosa na qual não precisam mudar a linguagem, as roupas ou as preferências musicais para se assumirem como cristãos.

Praticam também a chamada "teologia da inclusão", levando o cristianismo aos "excluídos". "Jesus ama a todos", resume João Mossadihj, 25, o Jota, tatuagens nos braços, repetindo os dizeres dos 2.000 adesivos distribuídos na Parada Gay por ele e outros participantes do Sexxx Church, grupo criado para ajudar prostitutas e viciados em pornografia "a encontrarem Deus".

Realizam também um trabalho direcionado a evangélicos. O grupo faz palestras nas igrejas, uma vez que recebem pedidos de ajuda de "irmãos" viciados em pornografia.

O Sexxx Church não se classifica como mais uma igreja, embora use o termo em inglês no nome. Seus 30 missionários são de diversas denominações, todos com um perfil parecido com o de Jota, que entrou para o 242 há quatro anos.

Em outubro, o grupo fez jus à primeira parte do nome e foi visto na 13ª Erótika Fair de São Paulo. Lá, o Sexxx Church alugou um estande e exibiu camisetas com os dizeres "Jesus ama os atores pornô", com a figura impressa de um Cristo de óculos escuros e exibindo tatuagens no braço. "Um Jesus 'putão'", define Jota.

O linguajar sem cerimônias do rapaz certamente pode provocar arrepios em cristãos tradicionais. "Se os jovens desta igreja se reúnem, usam essa linguagem e se identificam, acho válido como fenômeno religioso", afirma o reverendo Luiz Alberto Barbosa, secretário-geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil. No entanto, ele pondera que os fins nem sempre justificam os meios. "A mensagem é válida, mas pode-se questionar se realmente está sendo transmitida."

É com um discurso mais contemporâneo e ousado que os emergentes querem aumentar o rebanho. "A igreja não tem que ser uma fortaleza. Deve caminhar junto com as pessoas", defende Jota. Ele acredita que, em geral, os desviados -termo usado pelos evangélicos para definir aqueles que se afastaram da igreja- foram separados de Deus pelas próprias denominações religiosas.

É justamente em busca de quem se "desviou" do cristianismo que iniciativas como o projeto Toque, uma ONG apoiada pelo 242, se aproxima de prostitutas, sem-tetos e crianças de rua na noite paulistana. "Vamos à região da Cracolândia, da Boca do Lixo e do largo do Arouche e abordamos travestis para conversar, fazer amizade", relata Fernanda Pinilha, 26. "Acreditamos que, só por estar com eles, resgatamos sua dignidade." Leia +.

trecho da matéria de capa da Revista da Folha desta semana.

9 comentários:

Anônimo disse...

Ei Sérgio! Bem interessante este post e o seu blog. Esta igreja parece fugir das tradições...mas tem um objetivo bem específico.

Jesus condenava os fariseus e os saduceus...e andava com os publicanos e prostitutas.

Quem sabe o galardão deste povo não vai ser maior do que o das igreja tradicionais.

O que você escreveu foi bem profissional. Mas como é seu blog...só faltou dá a sua opinião.

Você não disse se concorda com a igreja ou não. Qual é a sua opinião? ;)

Anônimo disse...

Jesus "putão"? Pela total falta de respeito é possível imaginar o nível do trabalho que essas pessoas realizam para atrair incautos para seus propósitos mercadológicos. Absurdo e herético.

Adriana Neumann disse...

Gostei muito da idéia!

Engraçado que eu ando tão reticente quanto às coisas dos evangélicos ultimamente que, quando comecei a ler o texto, pensei: 'Humpf, mais uma novidade gospel...'

Mas, me enganei. Realmente é muito boa a idéia do cristianismo inclusivo e do Cristo revolucionário.

Espero apenas que isso não venha a ser mais uma igreja com roupagem moderninha para atrair os fiéis, mas que conserva o mesmo discurso moralista e excludente das demais, como a Renascer e a Bola de Neve, por exemplo.

O tempo dirá!

Abraço - Adriana

www.adrialactaest.blogspot.com

Pavarini disse...

adriana querida,

citei há poucos minutos no twitter exatamente os exemplos recentes da renascer e da bola de neve.

nem precisa ser publicitário ou marqueteiro p/ renovar os invólucros. por outro lado, existem por aí discursos mumificados que não penetram no coração da galera.

entre a certeza de defender a ortodoxia por meio do imobilismo e as incertezas e riscos embutidos na outra opção, fico c/ a segunda. =)

abraço

ps.: taí minha concisa opinião, bailey. aliás, que "ótemo" ter o sobrenome de uma cantora fera e de uma bebida legal. :P

Fábio [DoxaBrasil] disse...

É uma pena que muitos falam e dão sua opinião sem conhecer o trabalho de alguns grupos. E, também, confiam em tudo que é divulgado por aí. Talvez aí esteja a origem de muitos dos nossos pré-conceitos.
A reportagem da Folha até que não fugiu muito da essência, pois conheço o Projeto 242, o Sandro Baggio, o Tiberius, o Jota e o trabalho que eles desempenham há um bom tempo, na contra-mão de "igrejas" que fazem do cre$cimento sua principal meta.
O pessoal do 242 é corajoso e parte para ação. Talvez por isso, às vezes possam cometer alguns erros. Mas, ao olhar as igrejas ditas "tradicionais", provavelmente o maior erro dessas seja não fazer nada para tentar não errar.
Entre ficar parado e partir para o ataque, fico com o 242.

Anônimo disse...

Thanks Pavarini! ;)

Anônimo disse...

Estamos aprendendo humildemente como comunidade e o que realmente buscamos é seguir os passos de Jesus, estendendo as mãos a todos que mostrarem interesse ou curiosidade pelo exemplo de Cristo.

A opinião expressa por uma pessoa não deve ser tomada como sendo de todos. Nós do P242 acreditamos no respeito pelo nome e pessoa de Jesus, que é o motivo de existirmos como comunidade.

Jesus é a revolução que nos impulsiona a amar... Este revolucionário é a total razão de nossas vidas!

Como alguém já disse num trocadilho: "He is the Rock that makes us Roll" (Ele é a Rocha q nos faz Rolar.. he, he)

Que possamos todos viver intensamente a Sua verdade e Seu amor abrangente... nós do Projeto 242 ou qquer um que se diz seguidor de quem deu tudo, por amor a nós.

Abs

andre disse...

BUSCA NAO CONQUISTAR TAIS PESSOAS MAS SIM CONDUZI-LAS AO PÉ DO SENHOR JESUS. PARA QUE ELAS SEJAM RESTAURADAS POR DEUS E NAO POR VOCES, QUE TRABALHO MORTO ESSE... OBRAS MORTAS....
MEU QUERIDO A SALVAÇAO É INDIVIDUAL, E ENSINA A ELES QUE NAO BASTA VOCE ACEITAR JESUS E ESTARA SALVO MAS SIM A SALVAÇAO TEMOS QUE MANTE-LA.
VOCES DENIGREM O EVANGELHO!

Anônimo disse...

Achei a ideia muito interessante e o Evangelho realmente é inclusivo e temos que buscar sempre novas estrategias para alcançar os pecadores. Entretanto, a Igreja não é um clube! Evangelho implica em mudança. Jesus disse: "Vinde a mim todos vós que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei..." O fato da pessoa vir ao evangelho como está não significa que fique como está - é necessário mudança. Jesus nos convida para que nos tornemos seus servos; o que se vê hoje são pessoas se servindo do evangelho, pregando um evangelho cheio de fermento filosófico e vivendo um evangelho distorcido; Jesus asseverou sobre falsos mestres, profetas, pastores, obreiros fraudulentos, etc... A Bíblia diz o seguinte em Gálatas 5:19-25: “Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia, Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus. Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito.” Nada, nenhum discurso, nenhum argumento se equipara ou se sobrepõe à soberania da Bíblia e ela também não pode ser interpretada segundo as nossas conveniências - "2 Pedro 1:20 Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação.". Se você quer ser impactado pelo Evangelho, renuncie-se a si mesmo e siga a Cristo; permita que seja o Senhor de sua vida; entregue-se inteiramente a ELE. Do contrário, no máximo você será um mero religioso politicamente correto. Se esta igreja ou movimento tem pregado a mensagem bíblica em toda a sua ortodoxia se utilizando de uma linguagem diferente, os frutos o dirão no futuro.
César de Alencar

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