7.1.09

“Isto é o meu corpo” (Jesus de Nazaré)

Quando fui buscar o jornal na minha porta hoje, estava cantando os seguintes versos: “Agora o que mais importa / É renascer na esperança / É renascer, renascer na esperança” (Jaci Maraschin). Tamanha surpresa foi, logo depois, defrontar com a imagem de um corpo de uma menina achada em meio aos escombros da atual guerra entre Israel e Hamas. (Folha de S.Paulo, 7/1/09).

Lembrei-me de quando celebrei o primeiro memorial da Ceia do Senhor (Eucaristia), na minha curtíssima experiência pastoral protestante. Pouco tempo atrás. Era na semana em que a nossa faixa de Gaza carioca pegava fogo. Ali, durante o culto, preguei um sermão sobre memória e esperança, que dizia o seguinte no final:

Quero terminar esta palavra fazendo um apelo à sua memória. Mas não quero lembrar você de nada não. Meu desejo é que você apenas use a sua visão para não se esquecer de algo que vem nos afetando a cada dia, quando acompanhamos os noticiários. Há uma foto que saiu na capa do jornal Folha de S.Paulo, na última quinta-feira (27/6/07). Lá estão, corpo e sangue, representando o resultado de nossa amnésia. Esse corpo e esse sangue poderiam ter outro destino, mas estão ali, clamando ao mundo todo por justiça. Nem sei de quem se trata ali, debaixo daquele pano, mas sei que é alguém fruto da violência que tanto mancha a nossa Cidade Maravilhosa. Esta pessoa certamente nasceu num lugar miserável, onde não havia outra opção a não ser entrar para o crime. Vamos nos calar diante disso?

O corpo e o sangue de Jesus são símbolos de esperança. Mas são também símbolos da memória. Precisamos de memória! Precisamos de memória social! Precisamos lembrar que os hebreus sofreram injustiça, que Jesus sofreu injustiça, mas que muita gente hoje ainda continua sofrendo injustiça aos nossos olhos e nós não fazemos nada além de virar a página do jornal e esperar mais um dia chegar.

A mim e a você Jesus disse “fazei isto em memória de mim” (v. 19), porque ele quer ser lembrado. Ele será lembrado cada vez que lembrarmos dos injustiçados da cidade, do estado, do país e do mundo. Cabe a todos nós vivermos esta esperança cada vez que comermos deste pão e bebermos deste cálice. Lá, no pão, estavam as marcas das injustiças. Lá, no cálice, estavam as marcas do derramamento de sangue, da violência. Dois problemas contra os quais lutávamos ontem, lutamos hoje e lutaremos sempre, com memória e esperança. Que para tanto Deus nos ajude. Amém.

As injustiças continuam. E Jesus ainda quer ser lembrado. Porque esses corpos aí, cariocas ou palestinos, são os corpos daquele que acabou injustiçado na cruz. O que mais importa agora, portanto, é que a esperança renasça em nossa memória.

Felipe Fanuel

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