31.1.09

Rachel de Queiroz, a conselheira espiritual de Saramago

“Cuide bem de sua fé, faça tudo para a sua fé render.”
Rachel de Queiroz

Pela terceira vez e com muita emoção eu assisti pela teve câmara uma produção linda com uma entrevista com Rachel de Queiroz a primeira mulher a entrar na Academia Brasileira de Letras.
Fui surpreendido ao ouvir aquela cearense magnífica falar com naturalidade que não gosta de escrever e que era melhor cozinheira do que escritora e afirmar com autonomia e nenhuma preocupação em ser politicamente correta sobre o feminismo e as mulheres.
Mas o que mais me encantou naquela comunista atéia foi o momento em que ela começou a falar sobre Fé.
Sendo um exemplo para o outro não mais extraordinário José Saramago – um dos meus favoritos -, que destila regularmente a sua deselegância e pedantismo quando o tema é espiritualidade.
Que me lembre, Saramago diminuiu a sua agressividade contra os crentes e crenças em um artigo interessante de 2001, naquele texto ele fez muito bem a diferença entre Deus e o “Fator Deus”, disse muito bem que “Não é um deus, mas o “fator Deus” o que se exibe nas notas de dólar e se mostra nos cartazes que pedem para a América (a dos Estados Unidos, não a outra…) a bênção divina. E foi o “fator Deus” em que o deus islâmico se transformou, que atirou contra as torres do World Trade Center os aviões da revolta contra os desprezos e da vingança contra as humilhações.”
Estou certo que ao exemplo de Graciliano Ramos, Saramago aprenderia muito com a nossa Rachel.
Na entrevista ela disse que “nunca escreveu nada contra a religião” e afirmou não ter fé e que não tinha nenhum orgulho disso, e disse mais: “Quem não tem fé é uma pessoa infeliz”.
A nossa doce incrédula termina dizendo que esperava que Deus um dia lhe mandasse a fé e é isso que me faz crer que ela expurgaria um pouco do fel do nosso Nobel.
É fato que a frase que abre as minhas modestas linhas de hoje está sendo interpretada da pior maneira por aqueles que dizem que tem muita fé, no caso da maioria dessas pessoas, eles não querem fazer render a sua fé, eles usam a fé para fazer render lucro, prestigio e status.
E é esse contexto que repugna e justifica toda sorte de corrupção e opressão que municia aqueles que tentam fugir ou resistir espiritualidades, religiosidades, crenças ou crendices.
Esse lado que fede na fé de toda a fé é algo que deve sempre ser denunciado, principalmente diante dos crimes contra os direitos humanos, mas que o façamos sem desrespeitar as pessoas e as suas convicções, até porque, não há nenhum espaço de reflexão e atuação humana que fique fora das rendas do mal e das podridões de caráter.
Levi Corrêa de Araújo, no Repórter Diário.

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