9.1.09

Sem olhos em Gaza (5)

Guerra é Guerra, e nunca é boa e nem justa.

Guerra justa é aquela que é assim vista na perspectiva maior, coletiva, política, sempre tendo que haver um agressor perverso, covarde, provocativo, e que deseje acabar com o agredido.

Assim, essa tal guerra é considerada justa em razão de que no plano coletivo e político o agredido está apenas se defendendo de ataques de morte com a morte no ataque. É a tal legítima defesa.

Entretanto, as guerras não são decididas pelas crianças, pelas donas de casa, nem pelos velhos, nem ainda pelos jovens que sonham e amam. Os doentes também não apóiam as guerras, nem ainda os que amam até o inimigo.

Desse modo, tanto agredidos quanto agressores não conhecem nenhuma guerra justa depois que ela começa.

Sim! As guerras são apenas justas conceitualmente, mas, fora da análise, toda guerra é matar, roubar e destruir.

Morre-se dos dois lados do campo de batalha, especialmente quando o campo de batalha é a cidade na qual vivem os que sofrem espremidos entre os ânimos de hiena dos que atacam como quem quer matar e dos que se defendem como quem quer aniquilar o agressor.

Em teoria a situação entre Israel e os Palestinos tem sido objeto de meu avaliar de perto agora por 32 anos, desde quando fui a Israel pela primeira vez, e, depois, dezenas de outras vezes.

De dentro e de perto, olhando sem as lentes dos telejornais e dos comentaristas de redação de jornal, a coisa é bem diferente.

Assim, do ponto de vista da teoria histórica geral, e do que aconteceu de 1948 para cá na região, não resta dúvida de que houve muita boa vontade do governo de Israel e do povo de Israel em favor da solução do problema.

Afinal, como pode haver entendimento se dentro do povo que sofre há os que assumem o terrorismo como meio de guerra ou de solução, sendo que a solução somente aceita a dissolução e o aniquilamento do inimigo?

Entretanto, olhando mais de dentro ainda, de dentro da Faixa de Gaza, então, não se pode ver os ataques dos terroristas, mas apenas o choro das mães, dos pais e das crianças; e isto é perverso sempre.

Assim, um conceito que tem sua fundamentação ampla nos fatos históricos pode, pela ação excessiva, tornar-se tão perverso quanto aquilo que se pretende combater, pois, afinal, os fins não justificam os meios nunca.

Temos de um lado um grupo de fanáticos loucos, agindo de modo suicida e terrorista, atacando inconsequentemente a outra população, e, assim, covardemente, usando o povo Palestino como escudo humano ante os ataques que fazem, pois, assim fazendo, não há como a mídia do mundo não vir a atacar as ações de Israel.

De outro lado temos uma população que não quer a guerra, a de Israel, que deseja um termo de conciliação com os Palestinos, mas que não aceita mais ver os acordos sendo transigidos de modo unilateral há anos.

Entretanto, a ação do exército de Israel, sendo hoje um dos quatro mais fortes da Terra, sempre será covarde do ponto de vista de quem sofre em razão das ações de outros.

Os terroristas palestinos são os que agem com a agenda do ódio de antigas vinganças e desejos de solução aniquilante em relação a Israel.

Portanto, o que digo é que de ambos os lados, entre a população, o que há é dor e medo, ao mesmo tempo em que a desesperança vai tomando conta, em razão de inúmeras tentativas violadas pela agenda do terror.

A única coisa a fazer é orar pela Paz!

O que mais você fará?

Tornar-se-á o acusador do que você nem conhece? Ou você pensa que sabe de alguma coisa apenas porque lê esses jornaizinhos que você lê?

Se você conhecesse profunda e desapaixonadamente a questão, saiba: você estaria apenas orando em silêncio.

Caio Fábio

em meio à lucidez do texto, há um reducionismo meio periogoso. caio menciona "lentes dos telejornais", "comentaristas de redação de jornal" e "jornaizinhos" como se não existe linha editorial na mídia, o que inclui sites e blogs. o fato de existir opinião não deve nos afastar da leitura. ao contrário, devemos aprimorá-la a fim de ler textos, entrelinhas e confrontar c/ nossas posições. aliás, não existe meio + propício p/ o debate do que a internet, ainda que muita gente não proporcione aos leitores a oportunidade de se manifestar.

pelo mesmo simplismo não deveríamos freqüentar igreja pq algumas são manipuladas e tampouco deveríamos votar pq muitos políticos são safados.

12 comentários:

Pavarini disse...

lula parece tb ser adepto dessa mesma teoria:

"Mais do que 'sentir azia' quando exposto diretamente ao noticiário, o presidente Lula acha também que os jornais estão 'obsoletos' e diz confiar mais nas informações de assessores do que naquilo que sai publicado. As declarações fazem parte de trechos inéditos da entrevista à revista 'Piauí' deste mês. A Presidência divulgou o que diz ser a íntegra da conversa.

'É muito melhor ficar na mão de um assessor em quem eu confio do que na mão de um artigo. (...) Prefiro alguém que eu recruto, da maior seriedade, e que me dá as informações corretas", afirma Lula, que ressalta o papel da internet: 'Alguns companheiros da imprensa não descobriram isso porque continuam agindo como se estivessem 40 anos atrás'."

via Blog do Noblat

Anônimo disse...

Mas ao CQC o presidente assiste, para "desestressar um pouco", hehehe.

Volney Faustini disse...

Há que se pensar com cabeça própria - não por assessores ou medalhões.

Por isso que a discussão-conversa é mais do que válida, principalmente se os interlocutores tiverem nomes.

Lá da postagem do dia 07 - artigo do Brabo de dois anos, sobre o conflito, e hoje - adiciono que vale a pena ler também a crítica de Brickman para com o Ministro (status) Marco Aurélio que quer importar o conflito pra cá.

Pacifista radical continua sendo minha posição. E pra quem quer pimenta na cabeça, aqui vai um link pra reflexão: http://www.amazon.com/Ethnic-Cleansing-Palestine-Ilan-Pappe/dp/1851685553/ref=sr_1_1?ie=UTF8&s=books&qid=1231520323&sr=1-1

Gustavo disse...

Não sei se compreendi bem o final da reflexão, mas será que fora da oração (isso é de extrema importância)em silêncio só resta ignorância? Não será possível existir uma avaliação séria por parte de diferentes tipos de mídia e de quem delas faz uso?
Ou somos todos ignorantes de uma situação que não conhecemos in loco? Ignorantes ao olharmos apaixonadamente para a mesma...ignorantes por nunca termos ido ao "front".
abraço Pava

Anônimo disse...

Eis o velho Caio de volta. A velha megalomania aflora.Só ele entende. O Caio tem uma visão privilegiada, não interpreta como nós, pobres mortais já que sua opinião é de dentro. Ele viu in loco, portanto, é inerrante. Aos ignorantes, que precisam se valer de "jornaizinhos", resta a oração silenciosa.

Putz, estou condenado a não falar, nem com Deus.

QUEOPARIU!

Alysson Amorim disse...

Se tudo o que nos restar for um assentimento silencioso ao que os "jornaizinhos" dizem, então, ao contrário do que Caio propõe, não seremos acusadores de Israel. No máximo saíriamos por aí repetindo que a reação de Israel é desproporcional. Mas não nos resta apenas os "jornaizinhos"; há jornalismo sério e a rede em sua revolução anárquica nos oferece acesso livre a muita coisa escrita por gente que não conhece o conflito apenas de uma salinha confortavelmente instalada em Jerusalém.

Illan Pope, acadêmico israelense citado por Faustini, é um destes conhecedores do conflito. E não tenho dúvidas de que o cabra ficaria arrepiado se ouvisse que "de 1948 para cá na região, não resta dúvida de que houve muita boa vontade do governo de Israel e do povo de Israel em favor da solução do problema."

Sim, Caio, houve muita "boa vontade", desde que você entenda como "solução do problema" a limpeza étnica palestina.

Meus sentimentos.

Anônimo disse...

Caiô? Vou deixar o Jimmy Carter comentar o que você escreveu, tá bem? Ou será que ele também não tem tope para você?


Faça um favor ao seu ego e leia:

http://joelsuarez.com/2009/01/09/jimmy-carter-on-gaza/

Rodney Zorzo Eloy disse...

O que faz mal ao fígado?
http://ultimainstancia.uol.com.br/colunas/ler_noticia.php?idNoticia=60853

Eliézer disse...

Posto a resposta de Cláudio Luiz Lottenberg, presidente do CONIB (Confederação Israelita do Brasil) que pode dar ajudar a dar uma compreensão mais ampla sobre o conflito na faixa de Gaza:

"PRESIDENTE DA CONIB SE MANIFESTA DIRETAMENTE AO PRESIDENTE E A LIDERANÇA DO PT"

Prezado Deputado Berzoini,
Causou-nos profundo espanto o teor do comunicado assinado por V. Exa., em nome do Partido dos Trabalhadores, relativamente ao atual conflito no Oriente Médio. Isto acontece, não só por se tratar de um manifesto de um Partido que se inspira nos ideais de justiça social, mas sobretudo por partir de uma pessoa por quem nossa comunidade guarda respeito e estima. A nota não leva em conta os fatos que ocorrem no Oriente Médio e, particularmente, na Faixa de Gaza, atendo-se apenas a questões recentes e de forma tendenciosa, sem levar em consideração fatores históricos de longo prazo.
Deputado Berzoini:
Se existem resoluções da ONU desrespeitadas, há que se retroagir seu exame a 1947, quando o eminente brasileiro Oswaldo Aranha conduziu a assembléia que deu origem ao Estado de Israel. Naquela época, a partilha da Palestina previa a criação de dois Estados, o que jamais foi aceito pelas linhas mais radicais do movimento palestino, como é o caso do Hamas, organização considerada terrorista também pela União Européia e pelos Estados Unidos. A afirmação de que o apoio a Israel restringe-se aos Estados Unidos não condiz com a realidade. Nem os países árabes, nem a própria Autoridade Palestina – legítima autoridade em Gaza, de onde foi expulsa pelo Hamas - até o presente momento, não tomaram atitudes drásticas contra Israel, assim como inúmeros países da Europa, que qualificaram a ação israelense como um movimento de legítima defesa. A comparação da resposta dada por Israel, após seguidos meses de ataques feitos pelo Hamas com morteiros e foguetes que mataram civis na região de Sderot, demonstra parcialidade e desconhecimento dos fatos.
É direito de toda nação garantir as condições de segurança de seus cidadãos e exigir que seus vizinhos tenham um comportamento adequado. Israel retirou-se da Faixa de Gaza em 2005 e, de lá para cá, vem se confrontando com o Hamas que se nega a reconhecer a existência do Estado de Israel, promovendo ações contra civis e não aceitando acordos feitos anteriormente com os próprios representantes palestinos. Assim, não restou alternativa senão responder com a força, contra quem não deseja dialogar, mas prega a extinção de um Estado membro da ONU, o que, até o momento, não foi objeto da atenção de seu Partido. Também, estranhamos o fato de o senhor, líder de um Partido surgido na luta contra a ditadura militar, alinhar-se no Oriente Médio às forças políticas da região que recusam a democracia.
Rejeitamos ainda sua comparação de qualquer movimento por parte de Israel com o exército nazista. Convido-o a conhecer um pouco da Historia dos campos de extermínio. Ali, as minorias assassinadas não carregavam morteiros e nem foguetes, não detinham conhecimento de técnicas terroristas nem se escondiam atrás de civis, de forma covarde, como fazem os líderes do Hamas. Muito pelo contrário, eram pessoas absolutamente desprotegidas que, por conta de um mundo que ficou em silêncio e que não tinham para onde ir, pagaram com suas vidas apenas pelo fato de terem nascido judias. Israel tem o direito de se defender e nós, cidadãos do mundo, o dever de lutar pela paz. E, para haver paz faz-se necessário que ambos os lados se respeitem e se aceitem, o que não é o caso do Hamas.
Cordialmente,
Cláudio Luiz Lottenberg
Presidente CONIB

Vitor Cid disse...

Realmente é triste saber que muitas pessoas vivem com um pensamento retrógrado e que realmente preferem confiar no que os outros dizem do que buscar a info na fonte.

Muito bom o texto do Lottenberg (CONIB) sobre o assunto... é de elucidações assim de que precisamos no nosso dia-a-dia pra não cair em contradição e não perder também o toque humano, tão essencial em tempos de guerra e conflitos, tempos onde costuma-se encarar a situação de um prisma econômico (EUA gastaram U$$ 1 trilhão de dólares no Iraque, mas e as vidas perdidas? Conta alguma coisa?) ou de uma visão quantitativa (47 países participam de tal coalisão).

Realmente... guerra nunca é e nunca será justa. Até mesmo Sun Tzu no clássico a Arte da Guerra era contra o conflito, a tese dele se baseia mais em estratégias para terminar a guerra, se for iniciada e não tiver outra alternativa, o mais rápido possível. Até Tzu entendia, de certa forma, o valor de uma vida.

Quero mandar também um video do POD, música Tell Me Why... vale a pena!!

http://br.youtube.com/watch?v=f5tgJdfI-PU

Felipe Fanuel disse...

Que Alah tenha misericórdia de nós! Esta já é a oração que fazem os militantes do Hamas. Só vamos mudar o nome Alah para Deus? Então, onde fica a realidade da situação? Somente nas mãos que se juntam e nos joelhos que se dobram?

Oração silenciosa é muito pouco. Os muçulmanos do Hamas oram muito mais do que nós cristãos ocidentais. São muito mais aplicados. E eles pegam em armas e se explodem porque acreditam que estarão no paraíso quando morrerem.

A proposta de orar pode ser uma fuga da realidade neste caso. Que Deus me livre disso! Quero ficar incomodado de tal maneira que não aguente só fechar os olhos e olhar para o céu. Que Deus me faça calar e fazer alguma pela injustiça que opera no mundo, ao invés de ficar falando palavras ao vento.

Acredite. O corpo e o sangue de Jesus estão ali no meio da injustiça. Não quero ofender Jesus apenas fechando os olhos diante do seu calvário. Que eu seja crucificado ao lado dele, mas que eu não fique ali, vendo seu sofrimento silenciosamente!

Anônimo disse...

Se a grande imprensa é formada por "jornaizinhos", a saída é ler sites "grandões" como o do senhor Caio? Ou seria melhor assistir sua portentosa TV na internet?

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