3.1.09

Todo grande escritor é um grande leitor

A inteligência de Philip Roth, no livro de não-ficção Entre Nós (Companhia das letras, trad. Paulo Henriques Britto), é tão visível quanto em sua ficção.

São entrevistas com escritores como Primo Levi, Ivan Klíma e Milan Kundera e outros judeus e europeus do leste; há uma conversa com Isaac B. Singer sobre Bruno Schulz, o autor de Sanatório; cartas com Mary McCarthy; um perfil de Bernard Malamud; e análises da pintura de Philip Guston e dos romances de Saul Bellow.

Roth se mostra exigente e generoso ao mesmo tempo e confirma sua cultura européia, contrariando a burrice da Academia Sueca que considera que a literatura americana só fala consigo mesma.

Na conversa com Levi, Roth nota que o fato de ele ser um sujeito que "pensa demais" o ajudou a sobreviver a Auschwitz - "O cientista e o sobrevivente são a mesma pessoa" - e o genial autor de É Isto um Homem? concorda plenamente. Roth faz brilhantes comentários sobre Kafka, comenta com Edna O'Brien o medo feminino do abandono, chama Herzog de "o Leopold Bloom da literatura americana" (não, não está dizendo que Bellow é tão bom quanto Joyce) - esbanja, enfim, sensibilidade para a vida e a literatura.

Todo grande escritor é um grande leitor.

Daniel Piza

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