17.2.09

É preciso saber viver

“Ensinam-nos a viver quando passada a vida”, escreveu Montaigne em seus Ensaios. Montaigne estava tratando especificamente da educação das crianças. É uma leitura inspiradora para qualquer pessoa que tenha filhos. E mesmo para quem não tem, tamanha a sabedoria colocada em cada linha. Montaigne dizia que era vital ensinar às crianças a filosofia, entendida aí como a “arte de viver”. “Centenas de estudantes contraem doenças venéreas antes de chegarem a aprender o que Aristóteles diz da temperança.” Isso quer dizer: antes que meninos e meninas se lancem à vida sexual deveriam aprender o que os sábios têm a ensinar sobre a moderação.

Me lembrei dessa passagem de Montaigne ao ler uma história que chocou a Inglaterra nestes dias. O caso de Alfie Patten, um garoto de treze anos que acaba de se tornar pai. Sua namorada tem quinze. Alfie tem cara de bebê e menos de um metro e meio, o que deu um ar ainda mais dramático à história. “Pai aos treze” foi a manchete vendedora do tablóide The Sun. Uma jornalista disse que a namorada de Alfie parece ser sua mãe. (Na foto ao lado, o casal e o bebê). Perguntaram a Alfie o que ele ia fazer “financeiramente” para cuidar do filho. Ele perguntou, de volta, o que era “financeiramente”. Tudo que ele parece saber de dinheiro é que de vez em quando seu pai lhe dá uma nota de dez libras.

A Inglaterra tem o pior índice de gravidez de adolescentes da Europa. É um assunto que incomoda os ingleses tanto quanto os bônus milionários pagos a banqueiros que terminaram por levar seus bancos à quebra. Humilha-os. Comove-os. Até o primeiro-ministro Gordon Brown se pronunciou sobre o caso. A mídia vem fazendo uma grande cobertura. Do assunto. O jornal The Times informa que Alfie não é o pai mais jovem já identificado na Inglaterra. O recorde melancólico está nas mãos de um certo Sean Stewart. Em 1998 ele se tornou pai aos doze anos. A mãe tinha dezesseis. Os dois se separaram seis meses depois de o bebê nascer.

Volto a Montaigne e a suas palavras sobre a importância de ensinar filosofia - entendida como a arte prática de viver, repito - aos estudantes desde cedo. “Faz-se muito mal em pintar a filosofia como inacessível aos jovens, e em lhe emprestar uma fisionomia severa, carrancuda e temível”, escreveu Montaigne. “Quem lhe pôs tal máscara falsa, lívida, hedionda? Pois não há nada mais alegre, mais vivo e diria quase mais divertido. Tem ar de festa e folguedo. Não existe onde haja caras tristes e enrugadas.” Não existe também, se pode acrescentar, onde haja um pai de treze anos.

Paulo Nogueira

2 comentários:

Éverton Vidal Azevedo disse...

Excelente texto!

Há dois livros que, penso eu, todo adolescente deveria ler. O mundo de Sofia e o Pequeno Príncipe. Não tenho dúvidas de que essas leituras, especialmente quando incentivadas pelo pais, já trariam grandes e bons efeitos à vida deles.

Mas "Filosofia" mesmo se aprende na experiência. No convício. Acho que a família é essencial nessa missão. Ela é responsável por "ensinar filosofia - entendida como a arte prática de viver", desde cedo. A escola e demais instituições vêm bem depois.

Inté.

Pavarini disse...

Britânico de 13 anos não é o pai de filha de menina de 15 anos, diz tabloide

http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1059505-5602,00-BRITANICO+DE+ANOS+NAO+E+O+PAI+DE+FILHA+DE+MENINA+DE+ANOS+DIZ+TABLOIDE.html

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