1.2.09

Messianismo, equilíbrio e esperança

Nenhum ser humano, por mais capacitado que seja, pode resolver os graves problemas econômicos, políticos e sociais que se abatem sobre os Estados Unidos, e também sobre todo o mundo. Há uma certa ingenuidade nesta “euforia Obama”. Vi um professor universitário do Quênia falando justamente sobre isso. O mundo não será melhor de um dia para o outro graças à posse de Obama. Não existem soluções fáceis para os problemas que o mundo enfrenta.

O que esta conversa tem a ver com a atual situação da igreja evangélica brasileira? Muita coisa. Há também um messianismo em nossas igrejas, e o messias no caso não é Jesus, mas sim os poderosos apóstolos e suas promessas colossais. Eles estão por todos os lados, nos púlpitos, nas ruas, e principalmente na televisão. Em suas pregações são apontadas as soluções para todas as mazelas: doenças, falências, pobreza, depressão etc. Não é necessário citar nomes, eles são fáceis de serem identificados.

Na verdade a “euforia Obama” não atinge apenas os super apóstolos, pode também atingir os pastores das igrejas mais simples. Sempre são depositadas muitas expectativas nos líderes de nossas igrejas. “Agora, este pastor irá resolver todos os nossos problemas”. Isto é normal e até compreensível. O problema é que muitas vezes, nós achamos que podemos satisfazer tais expectativas. Colocamos sobre nossos ombros uma responsabilidade colossal e desumana.

Vocês, hoje, formam-se em teologia. Com certeza assumirão várias posições de liderança no futuro. Contudo, não se iludam. Somos apenas seres humanos, não somos a solução para todos os problemas. Apenas apontamos para a solução que é Jesus Cristo. E mesmo assim, devemos ter a consciência que a solução não é tão simples como demonstra muito de nossos sermões. Na vida diária nem sempre tudo acontece como em nossos sermões. A “euforia Obama”, o “messianismo”, ronda nossas portas. Cuidado. No início de nossos ministérios uma euforia natural toma conta de nós, e não podemos nos empolgar a ponto de começar a achar que somos invencíveis e sem limites.

Quando um líder crê que é a solução, que é “o cara”, ele passa a trilhar um caminho tortuoso. Ele passa a não ter mais limites, fica encantado com o sucesso, com o poder, e pior de tudo, com o dinheiro. Não podemos nos esquecer que Jesus colocou o dinheiro (“mamom”) como uma força que rivaliza com Deus. Ou servimos a Deus ou a Mamom, não há meio termo. E passamos até pregar mentiras para aumentar os nossos rendimentos. Surge a teologia da prosperidade e a banalização do conceito bíblico de milagres. E quando isto acontece não importa se você é um pastor famoso com programa na televisão, ou o pastor de uma pequena igreja no interior do país, o resultado será o mesmo, o que muda é apenas a abrangência do erro.

Por outro lado, você pode até não acreditar que seja a solução para os problemas do mundo ou de sua igreja, mas pode honestamente querer mudar o mundo pela sua fé. Não há dúvidas que devemos fazer tudo que estiver ao nosso alcance para melhorar a situação de nossas igrejas, mas nada podemos fazer sozinhos, e principalmente sem a ajuda divina. Não queira abraçar o mundo com seus braços apenas. Sozinhos não podemos fazer nada, e Deus sempre trabalha com o seu povo, com o coletivo, e não apenas com indivíduos. A solução para a igreja evangélica brasileira está na igreja como um todo, e não em líderes visionários. A solução está no trabalho em conjunto.

Assim sendo, só haverá mudança se trabalharmos junto com a igreja, com o povo de Deus. Vejo, hoje em dia, na Internet, em especial, uma tendência de surgimento de sites e blogs bastante críticos a igreja evangélica brasileira. O que entendo como extremamente salutar. Há uma falsa idéia no nosso meio que os “ungidos de Deus”, seja lá o que isso for, não podem ser criticados. “Não toque no ungido do Senhor”, “vá evangelizar ao invés de criticar”. Enquanto isso a igreja adoece e se afunda no emocionalismo, na teologia da prosperidade e no exagero. A crítica tem que existir, a figura do profeta, pois os falsos profetas sempre existirão entre nós. A Bíblia está repleta destes exemplos de Jeremias a Jesus, de Isaías a Paulo, todos eles combateram falsos profetas.

O problema é que há na Internet também uma tendência destes críticos de se desligarem totalmente da igreja evangélica. Fica-se tão crítico, que logo se chega à conclusão que não há como ser membro de uma igreja evangélica, e o melhor é ser um cristão independente. Um risco real para quem desenvolve a reflexão teológica e o espírito crítico. Mas o bom espírito crítico apontará os erros da igreja evangélica, mas também saberá enxergar os seus acertos. Os profetas do Antigo Testamento era extremamente críticos, mas nunca deixaram de pertencer ao povo de Israel. Criticavam, pois, queriam que o povo mudasse o seu comportamento, mas nunca deixaram de estar ao lado do povo.

trecho do discurso de Luís Carlos Batista como paraninfo da turma 2008 do Seminário Teológico Batista Carioca.

4 comentários:

Melqui disse...

"A solução para a igreja evangélica brasileira está na igreja como um todo, e não em líderes visionários. A solução está no trabalho em conjunto.

Assim sendo, só haverá mudança se trabalharmos junto com a igreja, com o povo de Deus."

Trabalho em conjunto?
A guerra entre as denominações está aberta.
Há uma tentativa de agrupar as denominações em blocos do tipo igreja com propósitos.
Quem dera essa fosse uma solução.

Infelizmente eu sou dos que creio que melhor é fugir da Babilônia

Anônimo disse...

É isso aí! Baita discurso! Essa é a idéia, vamulá!!!

Anônimo disse...

O problema é que há na Internet também uma tendência destes críticos de se desligarem totalmente da igreja evangélica. Fica-se tão crítico, que logo se chega à conclusão que não há como ser membro de uma igreja evangélica, e o melhor é ser um cristão independente. Um risco real para quem desenvolve a reflexão teológica e o espírito crítico. Mas o bom espírito crítico apontará os erros da igreja evangélica, mas também saberá enxergar os seus acertos. Os profetas do Antigo Testamento era extremamente críticos, mas nunca deixaram de pertencer ao povo de Israel. Criticavam, pois, queriam que o povo mudasse o seu comportamento, mas nunca deixaram de estar ao lado do povo.



Esse é meu problema... Estou "congregando" com minha mãe, e através de orações diárias que faço à Deus seja no início de mais um dia { quando acordo } e/ou quando vou dormir... Aaaah e leitura da Palavra...

Tááá difííííícil ver tanta mistureba de valores nas igrejas...
Eu não vou nem entrar em detalhes, pelo pé-ca-do que já estaria cometendo...

Mas pa-ra-béns !!! Gostei do texto do pastor aí !! :D

Walter Cruz disse...

Belo discurso, muito coerente. Que os formandos possam tê-lo ouvido com atenção ;)

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