1.2.09

Missionário evangélico vira cientista ateu

O americano Daniel Everett, 55, negou Deus por duas vezes. Primeiro o Deus literal, cristão, cuja inexistência declarou depois de conviver por décadas com os índios pirahãs, do Amazonas, com o propósito inicial - frustrado - de traduzir a Bíblia para a sua língua. Depois, o deus dos intelectuais, Noam Chomsky, cuja Gramática Universal, a mais ilustre de todas as teorias linguísticas, passou a ser questionada por Everett justamente por causa de peculiaridades do idioma pirahã.

Professor da Universidade do Estado de Illinois, Everett tem protagonizado nos últimos anos uma verdadeira guerra com os linguistas da escola de Chomsky, os generativistas.

Ele afirma que seus estudos sobre a língua pirahã - iniciados em 1977 quando ele veio para o Brasil a serviço da organização missionária Summer Institute of Linguistics, ou SIL - derrubam a Gramática Universal por uma série de fatores.

O idioma pirahã, diz Everett, não partilha supostos universais linguísticos tidos como essenciais para a Gramática Universal, segundo a qual a biologia humana molda a linguagem e a variação gramatical possível nas diferentes línguas. O principal ponto é a alegada falta de recursividade do pirahã, ou seja, a capacidade de formar frases infinitamente longas encaixando elementos um no outro.

No fim do ano passado, Everett lançou no Reino Unido o livro "Don't Sleep, There Are Snakes" ("Não Durma, Aqui Tem Cobra"), no qual desenvolve mais amplamente, para o público leigo, sua tese.

A obra vai muito além da linguística. Ele narra sua trajetória de três décadas entre a tribo, uma verdadeira saga que envolveu mudar-se com a mulher e três filhos pequenos dos EUA para o meio da selva, uma crise de malária que o fez remar por horas e viajar por dias de barco para salvar sua mulher (que insistia para ficar na aldeia, esperando que Deus a curasse) e ameaças de morte. E todo o processo que o fez se transformar de missionário evangélico em cientista ateu.

É cedo para dizer se as ideias de Everett representam um golpe mortal para a teoria chomskiana. (Não seria de todo impensável: o próprio Chomsky protagonizou um episódio desses, quando pôs abaixo em 1959, com um único artigo, toda a psicologia behaviorista de B. F. Skinner.) "Don't Sleep, There Are Snakes" não avança nesse sentido.

No entanto, é um livro que precisa ganhar logo uma versão brasileira, por conta do olhar perspicaz de Everett sobre a vida na Amazônia.

Enquanto militares e ministros do Supremo discutem se as terras indígenas representam perda de soberania sobre a floresta, Everett e outros "gringos" que escrevem bons livros a respeito da região acabam por internacionalizá-la metaforicamente, ao aproximá-la do coração e da mente de seus leitores... em inglês.

De seu escritório em Illinois, falando um português com sotaque manauara, Everett deu a seguinte entrevista à Folha:

Folha - O sr. entrou na Amazônia como um missionário cristão e saiu de lá como um cientista ateu. Como aconteceu essa "desconversão"?

Daniel Everett - Eu nunca me converti até os 17 anos, quando comecei a namorar uma filha de missionários. Eles me falaram sobre as necessidades dos índios do Amazonas. Eu, como novo cristão, pensei que isso seria melhor que ficar nos EUA. Em 1978 eu fui para a Unicamp fazer mestrado, e obviamente não tem muito fundamentalista lá. E comecei a admirar muito o Aryon [Rodrigues, orientador de mestrado de Everett e principal estudioso de línguas indígenas do Brasil, hoje na UnB].

Uma vez ele me convidou para uma palestra que o Darcy Ribeiro foi dar na Unicamp quando voltou do exílio. A ideia de chegar para o Darcy Ribeiro e dizer que ele ia para o inferno sem Jesus Cristo parecia tão ridícula que eu comecei a pensar sobre essas crenças. Quando comecei a falar com os pirahãs, fiquei no meio do mato conversando com um grupo de pessoas que nunca manifestaram interesse nesse Deus do qual eu falava.

Pensei: "O que eu estou dizendo realmente deve ser muito irrelevante para eles". E finalmente eu vi que intelectualmente eu não podia mais sustentar essa crença em mim.

Folha - Como é a sua relação com os missionários do SIL hoje?

Everett - Tenho relação próxima apenas com minha filha é missionária lá, e o Steve Sheldon, que trabalhava entre os pirahãs antes de mim. Eles não viraram meus inimigos, mas sou contra o trabalho. Minha filha e eu não falamos sobre isso.

Folha - O sr. conhece algum caso de evangelização que tenha sido danoso para os índios?

Everett - Você tem entre os índios banawás e os índios jamamadis os missionários mais conservadores. Os banawás tiveram um casal pentecostal entre eles e um casal do SIL. Você tinha dois casais de missionários num grupo de 79 pessoas.

É demais. Você tinha índios que achavam que Deus ia curar picada de cobra, malária, essas coisas. Os missionários sempre justificam sua presença nas aldeias pelo trabalho médico.

Hoje, com a Funasa assumindo um papel importante nas aldeias, eu não vejo nem essa necessidade para os missionários.

Acho que pregação, traduções, "testemunhos" etc. são superstições e não vejo como superstições podem ajudar os índios.

É a mesma coisa de dizer que os índios não podem viver bem sem crer em Papai Noel.
trecho de matéria publicada na Folha de S.Paulo.
dica do Jarbas Aragão

7 comentários:

Anônimo disse...

o amor dá o sentido que a letra não oferece.

ninguém nesse mundo fica indiferente a manifestações de amor.

a amor é como uma voz que grita em silêncio.

você não ouve, mas você sabe que alguém está gritando.

acho q td é muito silencioso e as vezes ate invisivel, mas ele está lá, passeando, chamando a atenção.

vc nao sabe dizer pq ele chama a atencao, ele nao tem o melhor carro, a roupa mais bonita, a beleza, mas ele chama a atencao.

e faz com que percepções sejam alteradas, qto maior ele é.

de fato, para esse mundo, ele nao faz sentido, pois nao tem nada deste mundo para oferecer. ele é completo, esta cheio e satisfeito.

ele pediu para a igreja mais rica, comprar dele, pois na visao dele, ela era miseravel.

eles nao chamavam a atencao? pq eles eram miseraveis?








talvez por isso, a igreja nao chame tanta atencao, pq ela faz barulho, ocupa lugares, unge, mas falta esse amor invisivel, silencioso, que atrai multidoes e nao quer o louvor vazio do barulho.

Gսstav໐ Frederic০ disse...

Da agência de notícias ALC : "Campo Grande, quinta-feira, 29 de maio de 2008 (ALC) - Pastores de igrejas evangélicas, pentecostais, neopentecostais e da Igreja Católica comprometeram-se, junto ao Ministério Público do Mato Grosso do Sul em Dourados a respeitar a liberdade cultural indígena, capacitar pessoas que atuam nas aldeias e limitar os níveis de som durante os cultos e eventos que organizam nas comunidades locais. ... A primeira cláusula do “Termo de ajustamento de conduta”, assinado no dia 5 de maio na 10ª Promotoria de Justiça de Dourados, compromete os signatários do documento a observarem a liberdade cultural nas aldeias Bororó, Jaguapiru e Panambizinho, que integram a reserva de Dourados, “respeitando todas as danças e rezas típicas”. O descumprimento de alguma cláusula implicará multa ao infrator." O texto continua. São bons exemplos pouco citados. Não raramente os missionários fazem um trabalho importante de documentação da língua e costumes originais. Fato também convenientemente esquecido.

Eliézer disse...

Não vi na entrevista do Daniel Everett referência alguma à obra remidora de Cristo em sua vida pessoal.

Parece-me que ele foi seduzido pela suposta "adrenalina" das experiências dos pais missionários de sua namorada à época.

Ir para um campo missionário inóspito sem a capacitação espiritual movida pelo amor de Deus pelas almas, resulta nesse tipo de reação.

Conheço casais que de missionários, em seu retorno à vida "normal", divorciaram-se. Outros nem querem saber mais de igreja, transformando-se em cristãos autônomos. E outros ainda como o Daniel Everett tornam-se céticos à fé, pois entram em conflito interior por descobrirem que há gente que concebe o mundo do modo diferente deles, sem que isso lhes seja penoso ou lhes tire a felicidade e a vontade de viver.

Acredito que isso seja fruto da mensagem da igreja que proclama que fora de Jesus não há vida a ser vivida. Há sim a capacidade de desfrutar a vida sem Cristo. Milhões o fazem na face da terra há séculos e parece-me que os cristãos ainda não atinaram que o evangelho que pregam é o da religião e do aculturamento, e não as palavras de vida de Jesus que se contextualiza em qualquer cultura.

Henderson disse...

Ola... Nem quero entrar na questão do ateismo..., só queria colocar alguns links sobre a resposta do Chomsky ao questionamento e alguns linguistas questionando as conclusões de Daniel Everett

A entrevista para a Folha do Chomsky:
http://www.cptl.ufms.br/pgletras/Entrevista%20Chomsky-folha.htm

Reportagem de 16/04/2007 na Folha:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u16297.shtml

Umartigo contestando ponto a ponto o trabalho de Everett, feito por trio de lingüistas dos EUA e do Brasil postado no site especializado LingBuzz :

http://ling.auf.net/lingbuzz/@ATiFZVkXizgLHZOd/dhIVMcFR?246

Anônimo disse...

A versão do artigo na Folha Online está truncada.

Versão mais completa do artigo:

http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=61460

Anônimo disse...

Deus fala na Bíblia que os assuntos espirituais se discernem espiritualmente. O maior erro desse homem é querer explicar Deus (que é espírito) por meios intelectuais (que lidam com matéria). O se crê, ou não. Aconselho ele a voltar para os EUA, pois a presença dele aqui é nociva para os índios.

marcelo disse...

é lamentavel um homem de 55 anos dizer que deus não existe...provavelmente nunca teve uma mudança em sua vida e ai fica falando asneiras.ele crendo ou não ele vai comparecer diante do Deus todo poderoso pra prestar contas de suas obras.ass marcelo sp

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