14.3.09
Caixa de ferramentas
Domingão, antigamente dia de ir à igreja "aprender" lições morais da bíblia, conhecida no meio como a Palavra de Deus. Disse antigamente. Hoje foi dia de pegar pesado na faxina de casa e fui limpar minha caixa de ferramentas (eheheheh...).
Sentei no chão do escritório de casa e aquela maleta que tem três compartimentos (base, maleta e bandeja), que devem se encaixar e cuidar de organizar os inúmeros apetrechos da arte da bricolagem, não se conversavam mais. A base, tão carregada das ferramentas mais básicas (martelo, chaves dos mais diferentes tipos, grifo, etc.) não podia receber o conjunto maleta/bandeja sobre si, pois de tão carregada ficou com os encaixes deformados e em função dessa inadequação foi abandonada pela maleta e a bandeja, sendo chamada somente quando a coisa ficava preta, ainda assim tinha que ser movida a parte do conjunto mais nobre.
Já a maleta e a bandeja até há pouco mantinham algum relacionamento, variando da colaboração à tolerância, em função de algumas vezes a maleta ser obrigada a comprimir seu conteúdo (alicates, fios, soquetes, conexões, lixas, etc.) e abarcar a bandeja dentro de si, com seus parafusos, pregos, fitas isolante e veda-rosca, cola, lápis, trena e similares.
Ocorre que com a displicência em manter em ordem as coisas como deveriam ser, a maleta não tinha mais onde comprimir seu conteúdo e levar junto a bandeja. Esta por sua vez, já estava carregando muitas coisas acima de sua capacidade e também coisas para a qual não foi projetada. Daí para a frente viu-se que estes dois compartimentos não conversavam, simplesmente se toleravam e trilhavam caminhos paralelos, mesmo seguindo para o mesmo destino.
No entanto o denominador comum para as três partes é que todas estavam sobrecarregadas e também com atribuições além daquelas para que foram projetadas.
O que parecia ser um trabalho fácil, talvez coisa de uma hora ou exagerando uma hora e meia, virou um trabalho de quase quatro horas onde a restauração da originalidade da atibuição da caixa de ferramentas como um todo e de seus compartimentos aliados ao empenho pessoal foram fatores que resultaram na volta as funções normais da caixa. Ser uma caixa de ferramentas e não um "depósito de ferramentas" e de materiais de reposição.
Interessante, não foi muito dificil correlacionar a caixa de ferramentas com a situação atual da igreja evangélica. Fazendo uma comparação, entendo que a igreja é a caixa de ferramentas de Deus na terra, e nós somos as ferramentas.
A displicência desta igreja em encarar a realidade dos fatos e da vida, optando por aderir a uma pregação da negação da realidade levou-a a ser um Frankstein espiritual. A igreja está carregando mais coisas do que deveria e ainda por cima coisas alienígenas ao seu chamado. E chamam a isso o "leve" fardo de Cristo !
Por este motivo o entendimento no Corpo de Cristo fica a cada dia mais longe. As partes não querem abrir mão de carregar excesso de peso, nem renunciar aos acréscimos à Palavra que a vontade humana de pagar a Deus pela salvação em Cristo faz, em um processo de auto-engano contínuo. O pior é que, assim como no estado inanimado dos compartimentos de minha caixa de ferramentas, esta igreja dividida não percebe esta situação, antes a interpreta como uma manifestação da "multiforme sabedoria de Deus", quando na realidade utilizam desta desculpa para fazer Deus carregar debaixo do braço e de maneira mal ajambrada essa caixa de ferramentas/igreja que poderia ser levada simplesmente pela alça projetada para transportá-la.
Arrumar esta situação é algo que leva mais tempo que pensamos. E só Ele pode intervir com nosso consentimento nesse estado de coisas, separando pregos e unindo parafusos; limpando compartimentos e restaurando o seu uso original; ora separando fios embaraçados com delicadeza, ora extirpando com um estilete os nós cégos.
Não quero ser um promotor da "unção da mala sem alça" ou melhor, da caixa de ferramentas sem alça. Longe de mim ser um desconforto para o meu Senhor, como um filho descabeçado ou um empregado inapto para a função. Entendo que devemos confrontar nosso ser com a Sua Palavra e carregar em nós a semente do evangelho que liberta e transforma para plantá-la em outras vidas, sem os acréscimos da teologia humana que a igreja hoje declara como confissão de fé. Leve e simples, como o evangelho é.
Estes dias estive ouvindo as músicas evangélicas das décadas de 1970 e 1980. Enquanto nas músicas evangélicas de hoje o que se ouve e vê é perseguir, matar e comer o capeta; pedir chuva e rio de Deus (?!); portar-se como animal diante do trono; gemer e "ministrar" chorando como uma uma carpideira; querer tocar na arca, como um Indiana Jones gospel ou chamar Deus de 'Receita Federal' e exigir a restituição de seus "valores", encontramos nas letras das músicas de grupos e cantores como Vencedores por Cristo, Elo/Logos, Ademar de Campos, Rebanhão/Janires, Somaior e outros da mesma época a pregação do evangelho em sua essência com sua mensagem de rendição incondicional a Cristo e não à teologia do líder da igreja a qual se congrega.
A singeleza da mensagem do evangelho é o denominador comum que deveria nos unir. O que vem separando a igreja são os moveres e teologias que da singeleza do evangelho nada carregam e sim trazem em seu escopo toda carga institucional e religiosa que motivaram a Reforma Protestante. São as ferramentas fora de lugar e o material desnecessário sendo carregado. E ambos os fatores deformando a igreja e sua missão.
Eliézer S. Santos
fonte: Blog do Eli Sanches
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