15.3.09

Herança divina

Há em mim algo que é imutável: O desejo de mudar. E pela via da mudança que me é constante me transformei num ser-em-transição...

Os porquês já não me atraem, o afã pela contraditória sabedoria da religião, a hipocrisia dos modismos filosóficos e o poder da política apenas me aborrecem, pois, há muito, já entendi que viver é o bastante... As estórias infantis, os contos diversos, as cantigas e todo o colorido que seduz meus olhos são metáforas para aquele paraíso distante que há em todos nós e que vez por outra nos aconchega...

Há ocasiões em que minha invenção é um martírio permanente, é dor de uma esperança que – semelhante ao Deus todo poderoso – posso contrair e pôr fantasia em meio aos imprevistos; e desta forma, sinto-me criador da perfeição: a arte de prolongar a vida. E quando esta arte se concretiza, a música, as letras, as cores e todo o namoro com a poesia simples e vital me absorvem como uma verdade breve e indescolável pela qual me sinto parte de Deus na capacidade de eternizar a beleza...

Mas se me iludo ao escrever, pouco me importa; para mim, o que realmente interessa é que no momento em que as palavras me conduzem, até mesmo levado pela ilusão exponho minhas verdades. Mera e terminantemente, é isto que me faz um bem excessivo: tornar-me legível ainda que com certa medida de obscuridade...

Sérgio Lagartixa, no Blog dos genésios.

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