11.3.09
Viver não é para amadores
Todos vivem em constante tensão. A vida é complexa, muitas vezes paradoxal e plena de riscos; não é um passeio despretensioso. Cada pessoa é responsável e, ao mesmo tempo, vítima das circunstâncias. Cada estrada que se escolha se desdobra em alguma bifurcação. Uma simples decisão gera desdobramentos mil. Os poetas, os místicos e os filósofos já perceberam o siso necessário para enfrentar a imensa aventura de viver. Todo instante é inédito e exige a precisão de um relojoeiro.
Viver não é para amadores. Tudo o que se faz produz ondas, iguais às de uma pedra jogada no meio da lagoa. As escolhas, semelhantes a círculos concêntricos, espalham-se. No caso da pedra, as marolas se dissolvem nas margens do lago. Com os humanos, as conseqüências se alastram para sempre. Ninguém tem o controle dos efeitos de suas escolhas, eles repercutirão eternamente.
Viver não é para amadores. Os pais influenciam os filhos e os filhos formam famílias. Tanto bondades como maldades se reproduzem por gerações. Crianças sofrem as seqüelas das famílias disfuncionais. Muitas, oprimidas por mães castradoras, não conseguem criar os filhos. Se os pais atinassem para a sua importância na formação emocional e nos valores éticos de seus filhos, menos pacientes procurariam clínicas psiquiátricas e menos penitenciárias seriam construídas.
Viver não é para amadores. Sem saber organizar os desejos, a vida pode se perder com projetos irrelevantes. Sem dar sentido ao cotidiano, a existência pode patinar no tédio. São necessários princípios, verdades e valores para direcionar o cotidiano. As pressões têm a capacidade de destruir quem não fizer escolhas responsáveis.
Viver não é para amadores. Os indivíduos precisam uns dos outros e se ferem ao mesmo tempo. O próximo pode ser fonte de alegria e de frustração. Empobrecem os que tentam isolar-se para não passarem por decepções. Não é possível resguardar-se do amigo sem perder o viço. Só viverá bem quem não considerar o outro a razão do seu inferno. O céu pertence aos que aprenderam a relevar as inadequações alheias. Só o longânimo tem chance de ser feliz.
Viver não é para amadores. A existência é imprevisível. Não há como controlar a história ou situar os eventos futuros dentro de qualquer lógica. Por mais que os religiosos prometam, os filósofos pretendam e os sociólogos estudem, a história não se prende aos trilhos do destino. De repente, sempre de repente, chega o improvável e nessa hora será preciso coragem para não desistir. A viagem rumo ao porvir requer brios.
Viver não é para amadores. Não é fácil equilibrar o lazer com o dever, o ócio com o trabalho. Muito lazer produz tédio; muito dever, estressa. A preguiça acompanha o ócio e a fadiga, o trabalho. O Eclesiastes avisou que há tempo para todas as coisas: “tempo para plantar e tempo para arrancar o que se plantou, tempo de cozer e tempo de rasgar, tempo de juntar e tempo de espalhar o que se juntou”. Portanto, só vive quem souber transitar entre acontecimentos tão contraditórios.
Viver não é para amadores. Depressão e riso, alegria e tristeza formam a história de cada um. Quem foge da tristeza acaba neurótico, em negação, à procura de um mundo ilusório. Por outro lado, quem não sabe rir termina inclemente, à caça de gente para povoar o seu purgatório.
Viver não é para amadores. O sofrimento do mundo dói muito e não é possível evitá-lo. Contudo, é preciso achar alegria para celebrar aniversários, casamentos e formaturas. Os que se blindam para não sentirem a dor universal, sucumbem cínicos. Já os inconformados com o sofrimento universal são atraídos pelo rancor.
Viver não é para amadores. O tempo passa velozmente carregando tudo e todos. A pior angústia? Ver a areia da ampulheta, o pêndulo do relógio, a avisar que o calendário escasseia. Alguns não se dão conta que jogam a vida no lixo. Vaidades e megalomanias são ladras dissimuladas. Eternizar cada instante parece um esconderijo onde mora o segredo da felicidade.
Viver, definitivamente, não é para amadores. Que ninguém se atreva a querer tocar a vida só. Portanto, “se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida”.
Soli Deo Gloria.
Ricardo Gondim
via: Blog do Eli Sanches
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Um comentário:
Estou ruminando esse texto desde ontem...e acho que ainda vou continuar por alguns dias...
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