6.5.09

Vou apertar, mas não vou acender agora

Nova lei antifumo proíbe uso de cigarro, cachimbos e charutos em gravações em estúdios fechados e em peças de teatro

Peças de teatro, gravações de TV e filmagens de cinema em lugares fechados também serão enquadradas pela lei estadual de restrição ao fumo, que será sancionada nos próximos dias pelo governador José Serra.

Para acender um cigarro, charuto ou cachimbo em cena, o produtor precisará de autorização judicial. Terá de argumentar, no pedido ao juiz, que a ausência do tabaco prejudicaria a concepção artística de seu filme, videoclipe, novela ou montagem da peça teatral.

Um charuto poderá ser liberado, por exemplo, em um filme sobre Fidel Castro rodado em estúdio, segundo diz a Secretaria de Estado da Saúde.

Mas, mesmo com a autorização, só o ator poderá fumar. Para o restante da equipe e o público, a proibição do cigarro em lugares fechados será mantida.

O fumo continua permitido em cenas ao ar livre, seguindo-se as regras gerais da lei: nos espaços abertos, vale fumar se não houver toldos ou marquise.

O enquadramento de produção artística nas restrições ao cigarro constará no decreto que será publicado após a confirmação da lei. Nele, haverá mais detalhes sobre onde o consumo do tabaco será liberado.

Pelo projeto de lei aprovado pela Assembleia Legislativa, só será permitido fumar dentro de casa, na rua ou outros ambientes ao ar livre, em cultos religiosos onde o fumo faça parte do ritual e em instituições de saúde por pacientes autorizados a fumar por seus médicos.

Para afinar as regras do decreto, técnicos da secretaria estudaram as restrições ao fumo em outros países. No caso de teatros e estúdios, diz o órgão, a inspiração é o modelo francês.

Interferência

Informados sobre as restrições à produção artística, profissionais de área reclamaram.
"É uma invasão, um grande exagero. Como é possível montar "Quem Tem Medo de Virgínia Woolf", por exemplo, sem cigarro?", diz a atriz e diretora Grace Gianoukas, criadora do Terça Insana e de vários personagens fumantes.

A possibilidade de pedir autorização judicial para o fumo não ameniza as reações negativas. "Essa burocracia só atrapalha o nosso trabalho e pode trazer custo com advogado", diz o diretor Rodolfo Garcia Vázquez, da peça "Justine", em cartaz no Espaço Satyros Dois. "Na peça, a personagem Juliette (vivida por Erika Forlim) é politicamente incorreta, e fuma cigarrilha, usa casaco de pele", diz ele, que não fuma.

O dramaturgo Mario Bortolotto diz que não entraria na Justiça para liberar tabaco em qualquer uma de suas peças. "Eu não perderia meu tempo fazendo isso. Acho ridícula essa regra. Qualquer tipo de proibição me atrapalharia muito. Não gosto nem de pensar", diz.

O diretor Maurício Eça, que assina comerciais e videoclipes premiados, como o de "Diário de um Detento", do grupo Racionais MCs, afirma que o fumo poderá fazer falta em cena. "Estou achando ótimo que a equipe não fume no estúdio, mas restringir a cena é interferir na dramaticidade", diz.

Público jovem

Há, entretanto, defensores da ideia do governo, como a cardiologista Jaqueline Scholz Issa, diretora do Programa de Tratamento de Tabagismo do InCor (Instituto do Coração). "A restrição do fumo vai além de apenas proteger os fumantes passivos." A ideia, ainda de acordo com a médica, é coibir o tabagismo de forma geral.

"A fumaça do cigarro de um ator em cena talvez não incomode quase nada os espectadores, mas a discussão não é essa. A lei de proibição ao fumo tem um caráter educativo, especialmente sobre os jovens que estão assistindo à cena."


(Fonte: Folha Online)

2 comentários:

Leone Lacerda disse...

Qdo sai o edital do concurso para contratar 1 milhão de fiscais do tabaco em cena? Mais uma lei ridícula criada por um parlamento corrupto e sem causa. Trágico... Trágico.

Arnaldo disse...

É interessante que quem esteja à frente de uma regulamentação autoritária e vergonhosa como essa seja alguém que foi perseguido pela ditadura. Ô Serra, na minha opinião, este policiamento da sociedade é uma coisa repugnante, que fede a esquerdismo barato, que pensa no bem do “todo” sem se preocupar com o indivíduo.

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