Depois que José Sarney disse que a crise é do Senado e não dele, tudo ficou desobrigado de fazer sentido em Brasília.
Apenas os fatos ainda se animam a manter viva a conspiração contra o vale-tudo semântico inaugurado por Sarney.
Deve-se aos repórteres Rosa Costa e Rodrigo Rangel a descoberta do penúltimo grão de sujeira escondido sob o tapete metafórico do Senado.
A dupla informa que o contracheque do mordomo da casa que Roseana Sarney mantém em Brasília é pago pelo Senado.
Espécie de faz-tudo da filha do presidente do Senado, o mordomo ganha algo como R$ 12 mil por mês.
Chama-se Amaury de Jesus Machado. Atende pelo sugestivo apelido de “Secreta”. Nos últimos dez dias, esteve ao lado de Roseana em São Paulo.
A primogênita de Sarney deixou o Senado em abril. Renunciou para assumir o governo do Maranhão, que ganhou no tapetão do TSE.
Embora devinculada do Senado, Roseana continuou servindo-se dos bons préstimos do mordomo “Secreta”.
Ouvida, a governadora maranhense declarou: "Ele é meu afilhado. Fui eu que o trouxe do Maranhão...”
“...Ele vai à casa quando preciso, uma duas ou três vezes por semana. É motorista noturno e é do Senado. E lá até ganha bem".
De fato, o “Secreta” não ganha mal. O diabo é que o dinheiro que pinga na conta dele sai do bolso do contribuinte.
O mordomo de Roseana tem um longo histórico de serviços prestados aos Sarney. Ganhou emprego no Senado nos anos 90.
Antes, trabalhou no Palácio da Alavorada, durante o mandarinato de Sarney. Foi requisitado para o gabinete de Roseana em 2003, quando ela virou senadora.
Deve-se a assinatura do ato que oficalizou o deslocamento ao ex-diretor-geral Agaciel Maia. Além da remoção, “Secreta” ganhou gratificação.
O empresário maranhense Mauro Fecury, suplente de Roseana e velho amigo de Sarney, manteve “Secreta”, o pseudoassessor, em seu gabinete.
Sarney faz um enorme esforço para domar a crise. A cada nova revelação, porém, vai ganhando a aparência de um jóquei cego montando a mula-sem-cabeça.
No Senado dos dias que correm, o velho e doce hábito do empresguismo [sic] desfaz o monge.
Josias de Souza
21.6.09
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