28.7.09

Boquinha e pensamento único

Peleguismo e boquinha, os males do Brasil são. Houve um tempo, não faz muito, que ao governo cabia “apenas” o controle da máquina pública - e dela fazia o que bem queria, durante e entre os períodos eleitorais. Também existiam três poderes com certa independência entre eles. E os movimentos sociais e sindicais eram contestadores.

Isso tudo é passado. O governo continua usando o aparelho estatal, preenchendo com fiéis companheiros os mais de 70 mil cargos comissionados. Mas, enrolado em seus próprios problemas e escândalos, o Congresso praticamente abriu mão de legislar e deixou essa função para o Executivo. O Judiciário é tão lento em seus julgamentos que, quando as decisões saem, já caducaram. O STF se enfraqueceu ao optar por tornar-se um tribunal político, em vez de jurídico.

E temos os movimentos sindicais e sociais. Eram combativos quando estavam na oposição, mas foram cooptados. Essas instituições vivem de mesada do governo, criaram ONGs para receberem verbas públicas. Os dirigentes fazem parte de conselhos de estatais ou são nomeados para cargos com altos salários e benefícios gordos. Antigamente, esses dirigentes seriam chamados de pelegos. Ser instrumentalizado pelo governo era o que de pior podia acontecer a um sindicalista. Mas, hoje, isso virou praticamente um objeto de desejo.

Vejam o caso da UNE. Financiada pela Petrobras, a entidade que deveria representar os estudantes vai às ruas para protestar contra a CPI da empresa e bradar que “o petróleo é nosso”, como se essa fosse a questão. O petróleo com certeza é deles - além de serem subsidiados pela companhia petrolífera, recebem verbas do BNDES, da Caixa e do Ministério da Educação, entre outros detentores de dinheiro público.

Com sua postura dócil, a UNE de hoje envergonha qualquer estudante que não tenha como meta na vida fazer política e ganhar uma boquinha. E há sempre a perspectiva de virar ministro lá na frente, como aconteceu com o ex-presidente da entidade Orlando Silva, um ilustre desconhecido que ocupa o Ministério dos Esportes.

Hoje, a única fonte de crítica ao governo é a imprensa. Mas ela também está acuada. O próprio Lula não perde uma oportunidade de desqualificá-la. Para não falar na publicidade estatal - que tem sido direcionada para a mídia favorável.

Amparada por um frágil discurso de supremacia ideológica e moral, há uma tentativa de impôr um pensamento único ao país. Esta opção feita por Lula e pela cúpula do PT facilita a manutenção do poder em suas mãos. Mas faz um enorme mal à democracia.

Luiz Antonio Ryff, no Destak [via Nonsense].

3 comentários:

WAA - Wagner de Alcântara Aragão - Waguinho disse...

Cai aqui por acaso e, diante de algumas observações que, a meu ver, resultam da escassa diversidade de fonte de informações para elas (observações) nascerem, permitam-me algumas considerações:

- A UNE não é "financiada" pela Petrobrás. Como qualquer instituição que desenvolve projetos e ações culturais, recebe, moral, legal e legitimamente, para estes ou estas, patrocínio da Petrobrás, assim como uma série de empresas, empreendimentos, produtoras de filmes, de teatro, recebem.

- A grande imprensa comercial - Vejas, Estadões, Folhões, Globões - batem sistematicamente no governo Lula e nos governos de esquerda da América Latina. Paulo Henrique Amorim, por exemplo, chama essa turma de PiG (Partido da Imprensa Golpista). Luiz Nassif tem análise bem semelhante.

- Infelizmente, o governo federal, sob o comando de Lula, continua a jorrar dinheiro de publicidade na mídia, e não só na amiga (qual?) mas, principalmente, no PiG. Petrobrás, Caixa, BNDES, Banco do Brasil e a própria administração direta estão, direto e reto, em horário nobre na Globo, em páginas da Folha etc.

Anônimo disse...

Pavarini,
De uma maneira ou outra o blogueiro identifica-se com o autor dos artigos que posta.
Me alegro em ver que você está se desiludindo com o esquerdismo e descobrindo o "peleguismo" deles.
Já fui esquerdista mas...nunca mais...coisa de deslumbrado!

Pavarini disse...

hummm... lamento desapontá-lo, querido! rs

da mesma forma que acontece em relação ao movimento eclesiástico, a independência em relação aos rótulos me dá a chance de reconhecer eventuais acertos e protestar por conta dos (muitos) erros. =)

abraço

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