8.7.09

Despedidas e anseios

Não posso satisfazer as expectativas de quem anda mal resolvido com a vida. Afasto-me da personagem que tentaram grudar em mim. Não vou deixar que desajustados se escorem em mim - ou me apedrejem. Não consigo carregar o peso do mundo.

Desisto de pretender conquistar hegemonia. Se instituições convivem com rinhas internas, não vou pacificar cizânias tolas. Reconheço que jamais consertarei comunidades carcomidas de politicagem.

Assusto-me com a fúria dos severos defensores do dogmatismo. Eu nunca saberei solucionar paradoxos que se arrastam há séculos. Evito responder aos enigmas das Esfinges modernas, todas prontas para devorar o fígado de incautos.

Não tenho coragem de jogar xadrez com gente que não confio a carteira. Sou avesso aos carreiristas eclesiásticos. Desconsidero os incompetentes que sobrevivem de futrica. Não sou motorista de calhambeques religiosos.

Recuso-me a andar na bitola que o fundamentalismo chancelou e recomendou. Aliás, a única chancelaria que admito é minha consciência, aliada ao testemunho das Escrituras, que eu investigo livremente.

Não aceito que tradição, escola ou cânone, limitem a minha capacidade de arrazoar. Rechaço a obediência servil. Odeio a timidez intelectual. Não gosto dos bons modos de um pio patriarcado, que acabou transformando a Casa de Deus em feira-livre.

Quero aprender a viver. Busco leveza. Anseio ser amigo de gente espirituosa que sabe desafogar a vida. Há pouco, por condescendência, alguém afirmou que não sou teólogo, apenas poeta. Apesar de não me considerar digno de tamanha distinção, sorri de felicidade. Que honra! Poetas não acenderam fogueira na Inquisição. Mas um teólogo mandou matar o médico Miguel de Serveto.

Quero aprender a amar. Apreciar, sem extravagância, as mínimas coisas: o tirocínio do garoto; o desabrochar da paixão na menina em flor; a conversa de velhos amigos. E no final do dia, rever as horas e notar que o saldo foi uma tremenda paixão por simplesmente existir.

Quero aprender a adorar. Transformar genuflexão em serviço; descer do alto de meus privilégios para estender a mão ao mortiço que jaz na estrada próxima de Jericó. Desistir de suplicar qualquer graça que me distinga do resto da humanidade - longevidade, vingança, cura ou riqueza. Desejo ser brindado com a bênção de encarnar Deus entre homens e mulheres. E assim poder dizer que não vivi em vão.

Soli Deo Gloria

Ricardo Gondim

Um comentário:

Lyncoln Napoleão disse...

Nossa, disse tudo! Para isso digo AMÈM!

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