O encontro estava marcado para as 15 horas, horário do recreio.
Ela de fitinha rosa nas madeixas loiras, camisa branca de botão e saia azul do uniforme escolar, lancheira do New Kids On The Block e Melissinha.
Ele com seu cabelo ruivo escorrido e penteado para o lado, óculos de aro redondo, uniforme limpinho, sardas e uma sacolinha na mão.
Quando o viu se aproximando, ficou ansiosa. Ele, por sua vez, tinha as pernas trêmulas.
Um pequeno sorriso apareceu no rosto da garota, enquanto ele mal a olhava nos olhos.
Aproximou-se, cumprimentando-a timidamente com uma das mãos levantadas.
Ela estava linda. Uma bonequinha, um verdadeiro sonho com aquelas bochechas rosadas e um sorriso encantador.
- Achei que você não ia vir.
- Por quê? Que bobo...
- Ah, sei lá.
Ela ficou tímida e ele mais ainda.
- Trouxe isso pra você – ele falou, tirando de dentro da sacolinha um lanche Mirabel.
- É de chocolate? – seus olhos brilharam.
- Não... – ele titubeou – é de morango... tem problema?
Ela pensou um pouco.
- Claro que não, eu gosto de chocolate e também gosto de morango.
Ele sentiu-se aliviado e parecia caminhar nas nuvens quando a viu pegando o pacote de biscoito para guardar na lancheira.
- Obrigada.
- Se você quiser, posso te trazer um Mirabel de chocolate amanhã...
- Jura?
- Sim, juro.
- Eu quero!
- Tá bom, eu trago.
Silêncio. Constrangimento no ar pela falta de assunto.
Ele pensou, pensou e, então, encheu-se de coragem.
- Posso te dar um beijo?
Ela corou. Ficou em silêncio. Então sorriu de leve, charmosinha.
- Por que você quer me beijar?
Ele não sabia o que dizer. Não sabia como falar que aquele beijo era um gesto de carinho, que a achava uma menina muito legal, doce, meiga... Simplesmente não sabia como dizer isso. E não disse.
- O Alexandre falou que beijou seu rosto na semana passada, então eu também queria um beijo seu...
O semblante dela se transformou. De anjinha a diaba em segundos. Com o olhar, fuzilou o garoto, que não sabia o que fazer pra reparar a bobagem.
Ainda tentou falar algo, mas as palavras não lhe vieram.
O que veio foi um tapa. No rosto. Fraco, mas forte o suficiente para disparar seu coração de garoto inocente.
Ele a viu sair em passos largos e furiosos.
Lá se foi sua menina, seu beijo e seu Mirabel.
Ao ajeitar seus óculos, começou a descobrir o quanto as mulheres são misteriosas e absurdamente tentadoras.
E tinha certeza, sabe-se lá como, mas tinha, que amanhã ela estaria ali, novamente, esperando pelo Mirabel de chocolate.
Nelson Botter Jr., no Blônicas.
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