28.7.09

Jesus, rasga meu processo

  Guardiãs do Éden  Flávia Baptista (de rosa), Silvana dos Santos (no meio) e Nivea Silva fazem seu trabalho no pátio da delegacia de São Gonçalo, Rio de Janeiro

Guardiãs do Éden

Feriadão de 21 de abril no Rio, estamos na 72ª DP do município de São Gonçalo, nos arredores de Niterói, uma delegacia que abriga carceragem fe­minina para cerca de 150 mulheres, amontoadas em 11 celas minúsculas. Do corredor, antes de passar pela revista dos guardas, já se ouve o eco de vozes: “Glória a Deus”, “Glória, Jeová”, “Bate palmas para Jesus”. À medida que se penetra no diminuto pátio, destinado ao banho de sol, a energia aumenta, junto com o calor e o cheiro de perfume barato. Profecias e desejos repetidos a plenos pulmões: “Jesus, rasga meu processo”, “Jesus, traz o meu alvará, para que eu possa louvar o teu nome”, “Deus tem um plano para a sua vida”. Catarse: lágrimas, mãos para o céu. Vontade de transcender a dura realidade.

“Não é bom, não. É ótimo. Traz calma e paz pra gente pelo menos por uns dias. Depois começa o inferno de novo. Ainda bem que elas vêm toda semana”, diz uma das presas, grávida de quatro meses e detida há exatamente o mesmo tempo. “Elas são famosas. Na igreja delas tem um centro de recuperação. Todo mundo que vai para lá larga o crime”, emenda outra, de cabelos longos e pretos e boca pintada de rosa, na cadeia há nove meses.

Corta a cena para São João do Meriti, baixada fluminense. Mais exatamente para um bairro de nome sugestivo: Éden. Elas, as evangélicas famosas que comandavam o culto na cadeia feminina, vivem aqui, na sede da Assembleia de Deus dos Últimos Dias, congregação fundada pelo pastor Marcos Pereira da Silva, em 1991. A igreja dele, um emaranhado de cômodos sem ordem, alguns recém-reforma­dos e suntuosos, outros caindo aos pedaços, em constante obra, é um universo à parte. Outro planeta, melhor definindo.

O rebanho compõe-se basicamente de ex-bandidos e familiares de criminosos. Quase todos têm um passado negro. Por abrigar nas suas fileiras gente da alta cúpula do crime organizado, como as duas irmãs de Marcinho VP (que não tem ligação com Márcio Amaro de Oliveira, traficante de mesmo apelido e morto em 2003), considerado o chefe do Comando Vermelho, preso na penitenciária de segurança máxima de Catanduvas, no Paraná, o pastor Marcos marcha sob os olhos desconfiados da polícia. Até hoje, porém, nunca se provou nada contra ele.

A fama vem da forma como o líder religioso coopta seguidores. Seu pelotão de choque, homens e mulheres, tem passe livre em penitenciárias, favelas e bocas de fumo – onde são bem-vindos, e o poder público não dá as caras.

Em meados do ano passado, o Fantástico mostrou vídeos em que o pastor Marcos negocia com traficantes a soltura de pessoas condenadas pelas leis do morro, onde vacilou, morre. Os resgates são feitos diretamente nos cativeiros, em meio às torturas. E sob o grito de guerra estrondoso do pastor: “Deeeeeeeus”.

Deus e o diabo

“Eu tiro gente do crime no atacado. O pastor Marcos tira no varejo”, diz José Júnior, coordenador do AfroReggae, uma das ONGs mais atuantes do Rio. “Em 2000, lembro que ele aparecia de madrugada na boca para evangelizar. Eu botava o meu fuzil nas costas e saía fora. Mas a aproximação dele era com respeito, nunca pedia nada. Quando deixei a cadeia e arquitetava a volta para o crime, o pastor me chamou para morar na casa dele. Lá conheci o Júnior e hoje estou no AfroReggae”, conta Washington Rimas, o Feijão, ex-chefe do tráfico de Acari, favela da zona oeste da cidade. Leia +.

fonte: TPM

lembram-se das doutrinas dessa igreja? e dos lances suspeitos s/ o pastor, aquele do vídeo de exorcismo? como fica essa mistureba toda?

10 comentários:

Cerestino disse...

as obras justificariam?

pq se os fatos forem verídicos, ele tá fazendo uma baita obra.

Claudia Freitas disse...

Olha, sobre plantas eu ja vi uma missionária austríaca expulsar demonio de uma "comigo-ninguém-pode" e de uma "espada de são jorge" dizendo q demônios se escondem nelas.

Já Rebecca Brown jura de pés juntos naqueles livros "Ele veio para Libertar os cativos" e "Vaso para Honra" que os demônios entravam nos animais pra espiona-la ou pra tentar algum tipo de influência sobre o humano, ela relata q ja expulsou demônio do gato de estimação dela.

Os Adventistas tb nao tomam Coca-Cola, os Mórmons tb, então nada demais até aí.

Ler jornais, até dá pra entender.

Então, não me surpreende esse tipo de coisa, qdo no mundo evangélico tem gente q acredita que ouvir rock vai fazer vc ficar endemoninhado, nao ter plantas, bichos ou tomar Coca é o de menos.

Pavarini disse...

outro exemplo: esconder um bandido foragido que está sendo evangelizado é lícito?

muitas "questãs" envolvidas... :P

Gustavo disse...

“Não é bom, não. É ótimo. Traz calma e paz pra gente pelo menos por uns dias. Depois começa o inferno de novo. Ainda bem que elas vêm toda semana”, ...
me lembrei de um texto do Gondim que se chama "Religião é a cocaína do povo", até parece que a irmã leu o texto.

Anônimo disse...

E a ortodoxia generosa hein? Só é generosa para intelectuais? Só para Rob Bell, Paulo Brabo e Elienai Cabral Jr.? Serão os protestantes pobres e pentecostais mais rejeitados porque são bregas em todas a suas expressões artísticas e sem traquejo social nas suas abordagens? É bom pensar!

F. B. Goulart

Pavarini disse...

fabiano, se "traquejo social" é um eufemismo p/ controlar e atemorizar pessoas via confissões (veja o site da igreja), não é exatamente generoso.

no entanto, como a marília césar bem apurou, esse tipo de abuso tb ocorre em comunidades repletas de pessoas do topo da pirâmide social brasileira.

traduzindo: mau caratismo independe de rótulos.

abs

afonsomfneto@hotmail.com disse...

A grande questão é que INDEPENDENTE de quem seja, o NOME DE JESUS é tão poderoso que BASTA para resolver, e SEJA QUEM FOR o nome de JESUS entra em ação.................................Está escrito: "Verdade é que alguns pregam a Cristo também por inveja e contenda, mas outros o fazem de boa mente; e estes por amor, mas aqueles por contenda anunciam a Cristo, não sinceramente..................... Mas que importa? contanto que, de toda maneira, ou por pretexto ou de verdade, Cristo seja anunciado, nisto me regozijo..." (Fil. 1:15-18).

Anônimo disse...

Que tal o Pastor Afonso testar sua teoria sobre o Nome de Jesus num dos morros aqui do Rio de Janeiro?

Creio de todo coração nesse nome mas jamais como um amuleto gospel de crentes desinformados.

Marcelo Ramos disse...

Complicado...por um lado todo este questionamento "doutrinário" (com razão)a respeito das leis, as roupas, a maluquice, não pode usar roupa vermelha?!?!?!?...por outro lado tem as obras, eles visitam a escória, o lixo e com amor resgatam vidas. É uma gente muito simples, que entende Jesus de uma forma um tanto radical, talvez por ter um passado muito radical.Bom, Jesus conhece o coração deles e sabe a qualidade do fruto...quanto a nós...conjecturas, conjecturas...mas óbvio o diálogo é sádio e devemos procurar entender melhor esta história.

Eliézer disse...

Uma coisa é anunciar o evangelho. Outra é, pelas circunstâncias pessoais, proclamar um ideário moral como condição para a salvação da alma e obtenção das benesses divinas. Mesmo que seja movido por amor, é querer clonar um modelo em série, desprezando a individualidade do ser, idealizado na criação por Deus.

Esse pretenso monopólio de "restauração" dos evangélicos, os cegam para a realidade de que encontramos em clínicas de reabilitação "seculares", no meio da RCC, nos centros espíritas e até mesmo em alguns centros correcionais gente restaurada sem o evangelho dos evangélicos.

O resultado é que o restaurado por essas vias humanas, no fim das contas, se transforma em prosélito pois sua salvação é fruto da mudança de moral e não da metanóia (mudança de mente) que o ES opera. Isso não impede que Deus possa operar nesse contexto, mas o que se observa é que quando esse mover divino ocorre, imediatamente é paralisado pela adoção de uma conduta imposta à força pela teologia do homem.

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