Pois é, os bizantinos discutiram quantos anjos podiam dançar na ponta de uma agulha, aconteceu as cruzadas, veio a inquisição, transformaram Maria em medianeira e os santos em intermediários, venderam relíquias e indulgências, negociaram cargos eclesiásticos, exterminaram indígenas e promoveram guerras de religião. Tudo em nome do Cristo. Eu tinha muitas razões para não ser cristão.
Mas, o Messias encarnou da Virgem, derramou seu sangue na Cruz, Ressuscitou, e, um dia, veio ao meu encontro cheio de Graça. A pecaminosidade do povo que se chama pelo seu nome apenas reforça a necessidade do seu perdão. Por isso – e apesar de tudo e de todos (inclusive de mim) – sou um cristão, graças a Deus.
Lutero chamou os camponeses revoltados de cães, e apoiou o seu massacre pela aristocracia alemã, e seus comentários sobre os judeus era evidentemente anti-semita. Calvino consentiu com a morte de Miguel de Serveto. Os Protestantes guerrearam contra a Igreja de Roma e entre si. Depois veio a negação de tudo com o Liberalismo e o esfacelamento de tudo com o Denominacionalismo. Tudo em nome da Reforma. Eu tinha muitas razões para não ser protestante.
Mas, como negar que as Sagradas Escrituras são o critério último de verdade?
Como negar que somos salvos pela Graça mediante a Fé em Nosso Senhor Jesus Cristo? A pecaminosidade do povo que se chama protestante apenas reforça a necessidade de nos rendermos à Graça. Por isso – e apesar de tudo e de todos (inclusive de mim) – sou um protestante, graças a Deus.
Empacotaram o Evangelho na roupagem cultural anglo-saxã. Empacotaram as nativas do Havaí com os pesados roupões vitorianos, matando-as de varíola, tomando as suas terras e a sua independência nacional. Queimaram na fogueira as feiticeiras de Salém. Apoiaram reacionários e ditadores; se alienaram, insensíveis aos dramas humanos. Radicalizaram com o fundamentalismo, o legalismo e o moralismo. Inventaram dentes de ouro e sessões de descarrego. Castram as vozes do corpo. Eu tinha muitas razões para não ser evangélico.
Mas, como negar o imperativo missionário, a necessidade de conversão e de santidade. Um dia, nasci de novo. A pecaminosidade do povo que se chama evangélico apenas reforça a necessidade de conversão e de santidade. Por isso – e apesar de tudo e de todos (inclusive de mim) – sou um evangélico, graças a Deus.
Henrique VIII se “auto-enviuvou” várias vezes. Em muitos lugares abriram espaço para a negação da verdade. Ordenaram um bispo (e muitos pastores) gay. Estão transformando a nossa Comunhão em um balaio de gatos. Fui perseguido, caluniado e deposto. Eu tinha muitas razões para não ser anglicano.
Mas, como negar a riqueza da sua história, o equilíbrio da sua inclusividade, a profundidade dos seus teólogos, a beleza da sua liturgia? Como negar que somos seres culturais, e que não existe um cristianismo a-histórico. Quando se nega uma identidade cultural-religiosa se cria outra (ou se auto-cria) muitas vezes muito pior. Parafraseando Churchill quando se referia à democracia: “o anglicanismo é a pior das igrejas, salvo todas as demais...”. Por isso – e apesar de tudo e de todos (inclusive de mim) – sou um anglicano, graças a Deus.
Façam o que fizerem, procuro viver e um dia morrer Cristão, Protestante, Evangélico e Anglicano, e muito feliz e realizado por ter sido!
Robinson Cavalcanti, bispo anglicano.
2 comentários:
Acompanho a jornada de Dom Robinson há mais de 30 anos. E posso dizer que realmente ele é um combatente da fé. Ele tem percorrido esse Brasilzão afora, em compromissos de fala, aula, seminário e pregação.
Ele tem sido um escritor profícuo.
Ele tem combatido bem o combate a que foi chamado. E seu pequeno manifesto anglicano-reformado-bíblico-evangelical é a mostra de que ele tem honrado esse seu chamado.
Certamente para completar a quina, se morasse em São Paulo, Dom Robinson seria corinthiano e também reconheceria como eu que, apesar dos Vicentes Matheus e dos Dualibis da vida, é o melhor time do mundo!
É engraçado que eu tenho um livro do + Robinson Cavalcanti aqui em casa e ele apóia algumas coisas que ele criticou nesse texto (o livro é Libertaçao e sexualidade).
Terá caído no "esqueçam o que falei" tupiniquim?
É um bom Bispo, escreve coisas edificantes, eu gosto muito do que leio, mas me estranha e me entristece alguma de suas atitudes dentro Comunhao.
Mas é um bom texto. E todo texto é uma faca apontada também ao autor né? Deixemos que ele - o texto - rasgue a carne da gente.
Abraço!
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