Em entrevista a Marta Salomon, na Folha de hoje, Marina Silva responde a uma questão sobre criacionismo — aquela corrente de pensamento cristã que nega a evolução das espécies e assume os textos bíblicos sobre a origem do homem e do universo como verdades literais.
FOLHA - Antes de mudar de partido, a sra. mudou de religião, de católica para evangélica. No ano passado, equiparou a teoria da evolução de Charles Darwin ao criacionismo, que atribui a origem da vida a Deus. Entre fé e ciência, a sra. fica com a fé?
MARINA SILVA - Houve um completo mal-entendido. Fui dar palestra em uma universidade adventista, que é uma faculdade confessional. A legislação brasileira permite as escolas e as faculdades confessionais, que têm o direito de fazer a abordagem do ensino a partir da perspectiva religiosa.
Um jovem me perguntou o que eu achava de as escolas adventistas ensinarem o criacionismo. Respondi que, desde que ensine também a teoria da evolução, não vejo problema. A partir daí, as pessoas começaram a dizer que eu estava defendendo o criacionismo. Sou professora, nunca defendi essa tese e nem me considero criacionista. Porque o criacionismo é uma tentativa de explicação como se fosse científica para responder a questão da criação em oposição ao evolucionismo. Apenas acredito em Deus, é uma questão de fé. Nunca tive dificuldade em respeitar e me relacionar com os ateus, com pessoas que professam outras crenças ou outra forma de pensar diferente da minha.
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O debate sobre criacionismo reside aí. Determinadas escolas religiosas querem lhe dar a condição de categoria científica, permitindo que seja ensinado em pé de igualdade com as teorias evolucionistas, desenvolvidas por Charles Darwin, e que são uma das bases do conhecimento moderno. O movimento criacionista não chega ao ponto de querer excluir o evolucionismo das escolas. Quer que as idéias religiosas passem a ser admitidas como uma visão alternativa e legítima ao pensamento científico.
Ou seja: da mesma forma que os estudantes tem aulas sobre biologia, astronomia e assim por diante, passariam ter lições e fazer provas sobre a criação do universo em sete dias, a costela de Adão, a arca de Noé e outros ensinamentos. Eu acho que todos tem direito a uma religião ou a não ter nenhuma. Mas uma visão laica de ensino, um dos primeiros valores republicanos, impede que uma religião — qualquer que seja — possa ensinada como uma espécie de matéria optativa em relação à Ciência.
Ao dizer que aceita o ensino do criacionismo “desde que se aceite também a teoria da evolução”, Marina Silva coloca-se numa posição contrária aos valores de uma escola republicana.
Paulo Moreira Leite, no site da Época.
dica do Tom Fernandes
5 comentários:
De certa forma, ela também é contra o aborto, apesar de louvar o PT.
Não sou lá fã do criacionismo puro, sou crio-evo (Collins, McGrath), creio ter me posicionado como Marina nisso...
Temos algumas coisas em comum, mas é estranho demais ela ter sido do PT. Já que não há nenhum partido de Direita no Brasil que seja forte para representar os cristãos, posso imaginar porque na falta de legenda, ela teve de pegar o PT.
Esse é o erro da nossa democracia, podemos eleger, mas quem escolhe quem pode ser eleito são eles...
Pava, vc está no Movimento Marina Silva Presidente?
não, cara!
pretendo escrever s/ o assunto depois que a candidatura dela for confirmada.
abraço
Vi alguns comentários lá no blog do Paulo, no site da Época. Alguns foram até preconceituosos, julgam a Marina pela religião, e não por sua visão política e ideal. E o que é que tem a pessoa ser criacionista? Pelo que vi ela deixou bem claro que sabe conviver com opiniões contrárias das dela e não tem pretensão de estabelecer suas crenças em detrimento de outras, ou seja, ela respeita os outros, assim como todo ser humano devia fazer. O fato é que por ela ser evangélica, as pessoas a julgam, esquecem-se que nem todo evangélico é fanático, burro ou ladrão, existem os pensantes e honestos.
Confesso que tinha medo de uma evangélica no poder, mas assim como deve ser feito com todo candidato, devemos analisar sua trajetória na política, assim como suas propostas e o seu caráter.
Contanto que não se alimente discriminações e preconceitos, considero legítimo o direito de uma instituição privada lecionar disciplinas de seu escopo religioso, contanto que isso fique claro para o cliente. Aliás, certamente o cliente já sabe e justamente por isso matricula o filho na instituição.
Quanto a visão de mundo de um presidente, não podemos esquecer que suas convicções (como as convicçoes de qualquer pessoa) determinarão suas escolhas, neste caso, nas políticas públicas. Os cidadãos não são todos religiosos e não possuem os mesmos valores. No entanto, todos devem ser atendidos e, ao mesmo tempo, todos devem ser respeitados. Minha preocupação é quando alguém tenta impor a outrem os valores do Reino que o mesmo abraçou voluntariamente.
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