Com as refilmagens de “O Poderoso Chefão” no Senado, muitas pessoas, indignadas com a política, têm feito seus protestos. Acham que aquilo é o máximo da participação cidadã e que terá um efeito avassalador nos salões do Congresso Nacional. Na minha avaliação, isso é de uma inutilidade atroz, só comparável à compra de indulgências durante a Idade Média.
Começam pelas correntes na internet - não peguei até agora uma que trouxesse alguma possibilidade de causar alterações reais. Mas o pessoal acha que está mudando o mundo através do spam. Triste.
Isso passa pelos “flash mobs”, aquelas manifestações relâmpago organizadas pela internet. Eu estava na avenida Paulista, dia desses, quando um grupo de umas 80 pessoas se reuniu no vão do Masp e começaram a protestar. Cruzavam a faixa de pedestres quando o semáforo fechava e retornavam à calçada quando abria. Gritavam “Fora Sarney!” Uma senhora, já avançada em anos e sabedoria, parou, olhou, refletiu e me perguntou: “é alguma festa?” Respondi que, de certa forma, sim. Um ato mais para expiação da culpa individual do que algo realmente construtivo. Depois o povo deve ter ido tomar um refri na rede de fast food mais perto.
Também atinge as reclamações e ações virtuais em blogs e twitters. Já postei muita coisa sobre a atual crise neste blog, sei que o acesso à informação contribui para a conscientização do problema real e não apenas de sua superficialidade aparente, mas não tenho a mínima pretensão de achar – como alguns – de que o mundo virtual sozinho pode ser a ponte para a derrubada de fulano ou ciclano do poder.
Muita gente se esconde atrás da tela de um computador, mas não tem coragem de usar as armas da democracia para tirar aquele povo de lá. A indignação vai durar enquanto o tema estiver no topo dos mais comentados, vai seguir a pauta política da situação e da oposição e não a da sociedade. Não chegará às próximas eleições. Depois, a indignação dará lugar à outro sentimento exatamente porque ela não é real, não veio de dentro para fora e sim de fora para dentro. Para alguns, foi embutida ali, como uma moda. A moda hoje é estar indignado. Amanhã é usar azul celeste. Leia +.
Leonardo Sakamoto, no iG.
dica do Jarbas Aragão
recomendo a leitura de todo o texto.
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2 comentários:
E quais seriam as armas da democracia na opinião do autor? O voto do cidadão de bem que, após votar, não tem como cobrar em quem votou? Cobrar como? Chegar lá no sr.deputado/senador e ir dizendo - eu votei em você - e ouvir - então prova!?
Ou, então, ficar esperando pela sociedade civil organizada (os tais sindicatos, ongs e o escambaus) se juntarem para fazer uma passeata de 4000 pessoas? E desde quando os sindicatos defendem a Sociedade e não apenas os seus interesses corporativistas?
O dia em que acreditarmos que a informação, em suas muitas variantes e formas de divulgação, não tem valor aí então também não precisaremos de jornais, de revistas, de nenhum meio de comunicação: estaremos sob a ditatura do Estado, a tirania opressora daquilo que se convencionava chamar de "nomenklatura"...
Precisamos sim discutir em casa, com os amigos, nas mesas de butequim, nas igrejas, e utilizar os meios à disposição (impressos ou não, eletrônicos ou não, etc) para disseminar não apenas a informação mas também para trocar esperiências, expor feridas, pleitear o que for para ir de encontro às reais necessidades de todos.
Ou continuaremos a achar que, sem essa troca diversificada, sabemos o que nossos irmãos do norte/nordeste anseiam e vice-versa?
Em que pese os Sarneys, Lulas, Renans, Collors e "tchurma", o Brasil está mudando e, com certeza, não é por causa de um movimento sindical, de um movimento de sem terra, mas por esses todos que se assentam à frente de um computador. Aliás, não fora assim, nem ficaríamos sabendo, por exemplo, do que aconteceu no Irã recentemente, do que aconte em Darfur, em Brasília, em Curitiba, em qualquer lugar.
Alguém já disse que "a fofoca é mais rápida que a mídia" e, morrer na contramão também é possível internetando.
Sugiro que os críticos daqueles que usam a internet para protestar conheçam primeiro o que é uma PSYOP e o que seja o sistema ECHELON antes de sairem por aí supersimplificando as coisas.
Eu sou um desses que ficam atrás de um computador até mesmo proque não tenho como me locomover... e daí? deveria ficar calado então?
Tem gente que acha que vai mudar a situação participando do Criança esperança. É uma questão de ponto de vista, né meu?
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