7.9.09

A lição dos franceses sobre a arte de viver

Francesas relaxam à tarde no Jardim de Luxemburgo: nada de celular ou notebook em suas mãos

Ludita. Ser ou não ser?

Estou pensando se não deveria me tornar um neoludita, e me insurgir contra a tecnologia como fizeram os integrantes de um grupo de pessoas revoltadas contra as máquinas no início da Revolução Industrial, na Inglaterra, no século XIX. Os luditas, nome que derivou de seu líder, Ned Ludd, invadiam fábricas e quebravam máquinas por ver nelas o símbolo da desumanização da sociedade. Máquinas, do ponto de vista da razão, significavam um progresso formidável da economia capitalista. Mas, para os luditas, elas acima de tudo substituíam os homens nas fábricas e matavam empregos.

Eram o inimigo a ser batido. Homens versus máquinas, esta a essência da visão dos luditas. Todos sabemos quem triunfou.

Os neoluditas dos tempos modernos prestam um tributo a seus ancestrais, avassaladoramente derrotados pelas engrenagens, e se rebelam contra as novas tecnologias. Evidentemente serão batidos, como foram os seguidores de Ned Ludd. Mas eles têm um ponto do qual só os fanáticos da conexão ininterrupta aos computadores podem discordar: a tecnologia, para as pessoas, fez o oposto do que se esperava dela.

A promessa era mais facilidade, mais rapidez para trabalhar. Em conseqüência, menos horas nos escritórios. Mas.

Mas a realidade é o oposto.

Numa viagem jornalística à pequena Perúgia, na Itália, uma cidade universitária com ares medievais, notei pessoas andando pelas ruas com celulares nos ouvidos. Era hora do almoço, elas estavam engravatadas, e ali ao celular na verdade elas estavam trabalhando. Isso numa cidade pequena. Em Londres, o celular nas calçadas em que as pessoas andam apressadas é uma presença constante, a imagem neurótica da continuação das tarefas do escritório. Bem como o laptop nas mesas de restaurantes e cafés, incluídos os finais de semanas. Para não falar nos Blackberries e similares em que emails profissionais são trocados em regime de 24 por 7. Vinte e quatro horas, os sete dias da semana.

Um momento: a tecnologia não ia diminuir a carga de trabalho?

Outro dia a matéria mais lida no site do New York Times mostrava a rotina de uma típica família americana de classe média. O café da manhã era a primeira atividade. Mas foi substituído pelas telas de laptops, nas quais os pais checavam mensagens e faziam todas aquelas coisas que conhecemos. Só depois disso a família se reunia à mesa. A prioridade estava na conexão digital, não familiar.

A tecnologia é um bem se você a controla. É um mal se você é controlado por ela. É mais fácil falar isso do que praticar. Quantas madrugadas, ao despertar por algum motivo, em vez de simplesmente voltar a dormir, peguei o celular na cabeceira e fui checar os emails de trabalho? Eu estava sendo absolutamente comandado pela tecnologia, escravo e não senhor dela. Leia +.

Paulo Nogueira, na Época.

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