Pergunto: qual o problema com essa atitude? Não estamos corretamente querendo seguir o exemplo de Cristo? O problema é que essa atitude não é exatamente verdadeira, não é “de coração”. Sabemos toda a doutrina do amor de Deus, somos até capazes de pregá-la a outros. Conhecemos sobre as riquezas da glória de Deus, mas, tal qual o irmão mais velho do filho pródigo, não conseguimos participar da “festa da graça divina”. Na verdade, nós lá no
íntimo a achamos errada, fácil demais, descabida (aí está nosso sentimento autêntico). Acontece uma espécie de “miopia espiritual”, em que, como escreve Pedro, nos esquecemos da purificação de nossos próprios pecados.
Uma outra face desse afastamento da verdade revela um quadro triste: em São Paulo uma ONG dedicada a ajudar mulheres vítimas de violência doméstica denuncia: 90% de suas clientes são evangélicas, portanto geralmente são também esposas de evangélicos. Isso revela que nossos cultos e práticas não reduzem o distanciamento da realidade (provavelmente até o aumentem).
O enlevo da música e do louvor, as proclamações de vitória e as orações fervorosas, os clamores, as unções do Espírito e as campanhas feitas nos templos não têm conseguido produzir o fruto do Espírito na vida diária dos membros.
O homem que sai do culto se sentindo aliviado ou feliz com a experiência com Deus, mas depois bate na sua esposa em casa ou a força sexualmente, evidentemente não está cheio do Espírito Santo e não tem sido santificado pelos cultos. O afastamento da verdade tem alterado nossa realidade, geralmente para pior, tanto no meio tradicional (pelo mascaramento das emoções) quanto no pentecostal (por não melhorar o comportamento no cotidiano).
Moreno, o pai da técnica do Psicodrama, ensinou uma verdade que descobriu nos relacionamentos entre filhos e pais: quando a educação é muito severa, ela não consegue eliminar os erros. O que ela consegue é fazer com que os erros sejam praticados às escondidas, sem o pai ou mãe saberem. A severidade do pai, além de não “evitar o pecado” da filha, a faz tentar levar
uma vida dupla, para evitar o confronto e o castigo.
Portanto o diagnóstico que encontramos é duplo: (1) um medo de errar generalizado, que se revela como “sombra da ira de Deus” e nos paralisa a criatividade, a contestação e até a brincadeira, e (2) um afastamento da verdade, mesmo que involuntário, especialmente em nossos relacionamentos. E a igreja, na imensa maioria dos casos, tem contribuído para aumentar esses dois males em nossos corações.
Qual seria a saída? Permita-me sugerir que, talvez pela primeira vez, você se coloque no outro lado, no lugar de Deus. A pergunta que Deus Pai estaria tentando responder é: “como é que eu faço para convencer meu filho de que eu o amo de verdade, e não só quando ele obedece? Como eu faço para que minha filha não tenha medo de mim? Como fazer para eles acreditarem que
está tudo bem entre nós, sempre? Que eles não precisam vir chorando e repetindo sem parar “desculpe, desculpe, desculpe”? Tente responder.
Deus tem todo o interesse do mundo em que esse sentimento de medo seja removido, assim como nenhuma mãe ou pai gostaria que seus filhos o temessem. Acho que é um pouco parecido com quando queremos conquistar a simpatia de um animalzinho arredio. Como fazer para ele não ficar à distância, sem querer se aproximar? Essa deve ser a situação que Deus enfrenta com o nosso medo dEle, por conta de nossas muitas imperfeições.
Nosso “julgar a nós mesmos” está trazendo frutos. Pelo menos agora podemos fazer uma pausa nas más notícias e começar a ouvir as boas (haverá ainda algumas notícias ruins, mas o importante é que as notícias boas já começaram!)...
Karl Kepler, no livro Neuroses eclesiásticas (Arte Editorial).
26.9.09
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10 comentários:
É importante que a informação da ONG citada no texto fosse esclarecida e desdobrada, pois considero 90% um número exagerado, concordo que há sim as neuroses citadas e como pastor reconheço esta prática lamentável, agora precisamos saber qual o público que a ONG trabalha, provavelmente mulheres cristãs com esposos discrentes, na sua maioria. A ideia que essa estatística dar é que 90% dos lares cristãos têm maridos espancadores. Outra coisa importante é que as mulheres cristãs certamente são encorajadas a buscar ajuda nesta ONG por ser também cristã. Outro dado importante é saber, 90% de que universo?
Concordo com o pastor que postou o comentário acima.É preciso rever esta estatística pois 90% é muito exagerado.Existem maridos espancadores,existem mulheres cristãs e maridos não-cristãos;precisamos rever esta estatística.
É absurdo fazer a afirmação de que "...geralmente são esposas de evangélicos...", além de não mostrar um dado estatístico deixa no ar uma denúncia caluniosa e perigosa.
Claro que existem "evangélicos" cometendo erros e violência, mas se não temos informação fundamentada e segura é melhor calar.
queridos,
encontrei uma reportagem s/ o assunto:
Somos evangélicos, mas ele me espanca
O soco no queixo que derrubou Tereza, 33 anos, sobre os armários da sala, também jogou-a nas estatísticas que contabilizam uma mulher agredida no Brasil a cada quinze segundos. Tereza não sabe disso, nem se importou em contar quanto tempo durou a primeira surra. A única coisa que lhe vinha á cabeça era um arrependimento uma frustração. Casada com Pedro e natural do Rio de Janeiro, ela havia se mudado para São Paulo acompanhado do marido, que buscava uma oportunidade de emprego na área de enfermagem. Evangélicos, freqüentadores de uma grande igreja pentecostal na zona leste da capital, ela achava que tudo iria se ajeitar. Foi quando viu seu marido conversando com uma desconhecida, que se sentava bem á vontade no capô do carro do casal. "Fui perguntar quem era e, como resposta recebi um soco", relembra. Além da agressão, ela foi trancada em casa e proibida de sair.
Era o início de um ciclo de violência de todos os tipos: físicas, psíquicas, morais e sexuais. Tereza teve forte depressão. “Não entendia porque isso estava acontecendo. Não tinha vontade de fazer mais nada”.
Já na igreja, tudo parecia ir muito bem. Atuante, Pedro é um dizimista fiel, serve a santa ceia, lidera o grupo de missões, participa dos encontros de coordenadores e é bem visto pela liderança. Mas em casa se transforma: humilha e agride a esposa. "Ele me obriga a praticar sexo oral e anal". Sei que isso não agrada a Deus. Não sei o que fazer. Se não faço, ele me ameaça", conta em meio às lágrimas.
Tanto o nome dela quanto o dele, assim como das demais vítimas que contam suas histórias nessa reportagem são fictícios. Uma exigência da justiça. Porém, suas histórias são dolorosamente verídicas. Afinal, longe de ser exceção, casos como de Tereza são comuns no Brasil. Os dados de um levantamento realizado pela Fundação Perseu Abramo em 2001 apontam para um número mínimo de 2,1 milhões de mulheres, uma já foi vítima de agressão doméstica.
Apesar de várias pesquisas, realizadas por organizações não governamentais (ONGs) que atuam na defesa do direito das mulheres, não mensurarem a religião das vítimas, é inegável que muitas famílias, dentro da Igreja Evangélica, vivem este drama. Prova disso é a CASA DE ISABEL, um Centro de Apoio a Mulheres Vítimas de Violência, localizada no Bairro do Itaim Paulista, Zona Leste da Cidade de São Paulo, que é dirigida pela pesquisadora Dr. Sônia Regina Maurelli, 45. "Posso dizer que mais de 90% das mulheres que procuram a Casa de Isabel são evangélicas. Na grande maioria, membros de Igrejas Pentecostais", revela a pesquisadora, que também freqüenta uma Igreja Pentecostal, cujo nome não quis revelar.
Ela é enfática ao analisar a importância que as igrejas protestantes dão ao problema da violência contra a mulher.
"Nenhuma. As igrejas, com raras exceções, não dão importância a essa questão", critica.
Sonia acredita que os métodos usados por evangélicos para trabalhar nos relacionamentos, como os populares encontros de casais, são pouco eficazes na diminuição do problema. “Se fosse assim, não haveria tantas mulheres crentes aqui”. Para ela, é preciso abrir um espaço nas igrejas, em que temas que envolvam a família possam ser discutidos. “É necessário uma mudança radical. É preciso criar reuniões, em que as famílias possam abrir seus problemas. Um fim de semana viajando não resolve”.
texto completo no link abaixo:
http://www.casadeisabel.org.br/n07.html
Eu concordo que realmente temos muitas mulheres sendo espancadas em casa (apesar de que 90% seja um numero absurdo, representadno quase uma totalidade). Mas que seja 25%, existem cultos de igrejas muito bons, mas é impossivel um pastor cuidar de mil pessoas sozinho. A tese de discipulado adotado por algumas igrejas pode ser uma solução interesante.
Igreja Batista Casa de Deus //
É preciso rever esta estatística? O que é preciso rever pastor é a sua vida e pregação que não está dando resultado. A estatística está denunciando os acontecimentos em nosso meio, no nosso mundo. Eu concordo que 90% dos casos conhecidos seja de mulheres evangélicas sendo espancadas por homens evangélicos e tb concordo que há pastores e muitos pedófilos. Eu acredito porque quero acreditar que há.A igreja católica tem algo de bom,que ela não nega que há padres viados (gay) e padres tarados. Nós,nem pensamos em tais coisas,para nós isso não existe. Existe porra,taí.
tito de Brasília.
Prezados, sou evangélica desde meus onze anos de idade. Hoje estou com trinta e nove. Já vi e ouvi muita coisa no meio evangélico. Profissionalmente atuo como assistente social em um órgão que atende pessoas vítimas de violência ou negligência entre outros males. Concordo que infelizmente existem casos horríveis de violência contra mulheres e principalmente contra crianças no nosso meio. Penso também, como outros comentaristas, que a estatística de 90% precise ser mais investigada. Penso que não podemos ler um texto incompleto de dados e sair fazendo comentários sem uma reflexão mais aprofundada, todavia, penso também que é necessario que não fechemos os olhos para esta triste realidade. Vivemos numa sociedade doente, e na igreja, muitos líderes preferem fechar os olhos para as coisas do cotidiano em que seus membros estão envolvidos. Pregam lindos sermões, todavia muitos destes não vividos e não condizentes com a realidade da sua comunidade. Gostaria que pudéssemos refletir mais sobre a nossa situação no mundo hoje e nos atentássemos para o que realmente é importante, o amor.
Rodrigo rdi disse:
Um absurdo 90% a estatística de mulheres espancadas por maridos evangélicos, ele nega mas cita o seu número 25% é razoável.Onde ele "pesquisou" este número? Não sei.Só sei que o ignorante cita.Ora vejam só
que nós não admitimos as nossa falhas e isso é HIPOCRISIA DA BRABA e pandemônica.
tito de Brasília.
"Geralmente são esposas de evangélicos." Como pastor, soube de algumas mulheres, membros de igreja, que sofriam, inclusive, agressões físicas de seus maridos. A maioria não tinha marido evangélico e se recusava a denunciá-lo. Quando o marido era também membro da igreja (isso também aconteceu, mas em número bem menor), a gente podia conversar com ambos sobre o tema. Dizer que os maridos da citada pesquisa são evangélicos me parece especulação sem fundamento para um número de 90%.
Silvio
NÃO,NÃO E NÃO!
OS líderes ,a igreja e os evangélicos são contumazes em esconder a VERDADE. OS batistas são craques na operação ABAFA.Mas,temos muitos problemas não tratados e só quando é denunciado nós ainda somos os primeiros a negar os acontecimentos. A hipocrisia de aparentar o que não somos é uma doença epidêmica que nos acompanha por um longo período. Pastor,bispo,apóstolo ou lider não gostam de ser avaliados,questionados ou confrontados.Tem um que está preso e se diz inocente, diz que não teve relação sexual com uma menor de 13 anos,e o filho dele vai nascer.Ela nega atrás das grades e a sua igreja está sob a liderança da espôsa.Durma com uma desgraça dessas.Eu sei o que estou falando.Fiz estágio na Praça Ramos de Carvalho no meio da prostituição e lá encontrei meninas 'evagélicas' e filhas de crentes.No Exército da Salvação,que trata de mãe solteira vá lá e veja a quantidade de moças grávidas e pergunte a religião que professam.
Vai, cambada de avestruzes.
tito de Brasília.
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