30.9.09

Para aqueles que têm sede de sonhos e visões

C.H. Spurgeon

chs005dream.jpg (16K) - Sonhos superstição

Há alguns, e estes geralmente são os mais iletrados, que têm a expectativa de experimentar sonhos notáveis ou de ter visões singulares.

Eu às vezes fico surpreso de que ainda persista no meio do nosso povo uma noção de que certo tipo de sonho, especialmente se repetir-se várias vezes, e se for tão vívido que permaneça na imaginação por um longo período, é um sinal do favor divino. Nada poderia ser mais completamente falso, nada pode ser mais infundado e sem a menor sombra de evidência; e ainda assim muitos imaginam que se eles sofressem dolorosamente de indigestão de forma que seu sono fosse estragado por sonhos vívidos, então eles finalmente poderiam pôr sua confiança em Jesus Cristo.

A noção é tão absurda que se ela fosse tão somente mencionada a homens racionais, eles necessariamente teriam que ridicularizá-la. Ainda assim, conheço muitos que foram, e ainda são, escravos dessa ilusão.

“Eu não podia flertar com uma superstição tão ridícula.”

Há pouco tempo, depois de pregar em uma distante vila do interior, fui procurado insistentemente como conselheiro espiritual por uma carta importuna de uma mulher que atribuiu a mim uma sabedoria que eu nunca reivindiquei possuir. Eu desejei saber qual era a dificuldade espiritual que ela tinha, e quando fui até a casa dela e a encontrei muito doente, fiquei entristecido ao ver que ela era vítima de uma superstição na qual temo que seu pastor a tinha confortado e, desta forma, confirmado. Ela me informou solenemente que ela tinha visto algo se levantando à noite do pé da sua cama. Ela estava esperançosa de que se tratasse do nosso abençoado Senhor, mas infelizmente ela não tinha conseguido ver a cabeça dele. Como eu conhecia tanto a respeito das coisas espirituais, será que eu poderia lhe dizer quem era?

Eu disse que eu achava que ela devia ter pendurado o vestido dela em um gancho na parede, ao pé da cama, e na escuridão tinha confundido-o com uma aparição.

É claro que isso não a satisfez. Eu caí imediatamente a zero no conceito dela, ao nível de um homem de mente extremamente carnal, se não um escarnecedor, mas eu nada pude fazer a respeito. Eu não podia flertar com uma superstição tão ridícula. Fui obrigado a lhe dizer que era bobagem ela ter esperança de salvação porque ela era tola o bastante para imaginar que tinha visto Jesus com seus olhos carnais, enquanto a visão salvífica sempre é espiritual.

“(…) podem ter havido sonhos, e até mesmo aparições, que despertaram a consciência e assim conduziram ao princípio da vida espiritual em alguns raros casos em que Deus escolheu interferir de maneira especial. Mas que estes venham a ser procurados, e até aguardados, é uma coisa tão distante da verdade quanto o oriente do ocidente.”

Sobre a pergunta quanto ao fato da suposta aparição ter uma cabeça ou não, eu lhe disse que se ela usasse mais a sua própria cabeça e o seu coração, meditando na Palavra de Deus, ela estaria em uma condição bem mais esperançosa.

Podem ter havido, eu não negarei – porque coisas estranhas ás vezes acontecem – podem ter havido sonhos, e até mesmo aparições, que despertaram a consciência e assim conduziram ao princípio da vida espiritual em alguns raros casos em que Deus escolheu interferir de maneira especial. Mas que estes venham a ser procurados, e até aguardados, é uma coisa tão distante da verdade quanto o oriente do ocidente. E se você visse qualquer coisa, ou sonhasse qualquer coisa, o que isso prova? Ora, não prova absolutamente nada a não ser que você estava mal de saúde, e que sua imaginação encontrava-se morbidamente ativa.

Lance fora essas coisas, elas são superstições adequadas a povos não-civilizados, mas não são aceitáveis para cristãos do século dezenove. Eu apenas estou mencionando-as, não porque penso que qualquer de vocês tenha caído nelas, mas para que vocês sempre lidem com elas de forma extremamente rígida onde quer que se deparem com elas. Elas são superstições que não podem ser toleradas por homens cristãos. Entretanto há alguns que, de fato, não acreditarão no simples evangelho de Cristo a menos que algum absurdo desse tipo possa ser juntado a Ele.

Que Deus os livre de tal incredulidade.

Fonte: Trecho extraído do sermão Uma palavra com aqueles que esperam por sinais e maravilhas pregado em 31 de outubro de 1869.

Publicado por Phil Johnson no site Pyromaniacs.

Via: POIMENIA

4 comentários:

Anônimo disse...

é estranho citares um pensador tão fundamentalista e julgamentalista... não concordo com o exagero do neopentecostalismo, mas acho meio "desonesto" citar um fundamentalista extremo para defender seu ponto de vista - quando, na verdade, ele mesmo condenaria toda a "emergentisse" existente no teu blog (Ortodoxia Generosa, PQ vc não vai à igreja, etc)

Ass: Um cristão emergente (não estou sendo ironico ^^)

Raquel disse...

É impressionante como um texto tão antigo pode ser tão atualíssimo.
Ainda hoje as pessoas vivem atrás de desvendar "mistérios", os quais são frutos de sua própria imaginação. E assim caminha a humanidade...

Chicco Salerno disse...

Caro amigo 'cristão emergente':

Antes de alguma outra coisa quero expressar meu carinho por tua opinião.

Diferentemente do que você pressupôs, meu intuito não foi o de defender algum ponto de vista,quer seja de fundo fundamentalista ou seja emergente, o que seja. Meu propósito for o de mostrar que o 'efeito feijoada' é coisa mais antiga que pensamos.

De fato somos todos senhores do saber e conhecemos pela História que, em todas as épocas,pessoas se levantaram e se levantam e autoproclamando-se de visionárias, portadoras de sonhos e revelações e o autor apenas pontuou um desses casos, nada além disso, propondo uma diferenciação entre superstição e fé verdadeira.

Aliás, nada de novo também. O apóstolo Paulo já havia construido a mesma elaboração metódica ao dialogar com os filósofos na ágora ateniense (Atos 17)

Não tenho procuração do Mr.Spurgeon para defendê-lo e nem tenho tremenda pretensão. Deixemos apenas que suas obras e ministério, em seu tempo, falem por ele. Da mesma forma, não tenho procuração e nem pretensão de defender o movimento emergente o qualquer outro mas nem por isso posso me furtar a tecer ainda mais algumas palavras.

A primeira delas é que ser emergente não significa aceitar também qualquer coisa só porque rotulada de 'emergente'. Não, há coisas boas e muita coisa ruim sendo feita em nome da fé e isso em todos os segmentos eclesiásticos cristãos.

A segunda é que se fossemos utilizar o critério de censurar previamente tudo e toda opinião, ninguém teria como se expressar, expressar sua opinião qual fosse ela. Como disse Rui Barbosa citando Voltaire: “não concordo com o que diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”. Espero que você me conceda este mesmo direito que você avoca a si mesmo.

Então, finalizando, peço humildemente desculpas se o ofendi por ter postado essa matéria, peço sua compreensão quanto ao exposto aqui e concluo este meu comentário com as sábias palavras do Túlio César Costa Leite - "O movimento Reformado representou um retorno às Escrituras Sagradas. Como conseqüência, o acúmulo de tradições acrescentadas à fé apostólica foi varrido da igreja.
Somos filhos da Reforma e temos a obrigação de julgar nossas próprias práticas à luz da Bíblia, comparando Escritura com Escritura. A máxima - igreja reformada sempre se
reformando - deve ser sempre lembrada e praticada. Deveríamos hesitar em abolir
ensinos que não se respaldam na Revelação? Não há erro quando alguém obriga a si
próprio a não comer carne, ou guardar determinados dias, ou se abster de algo, ou
colocar sobre si qualquer outra obrigação sobre a qual não há mandamento bíblico (Rm 14.2-6). Porém, o erro passa a existir quando pretendemos impor a outra pessoa
exigências que a Bíblia não impôs."

Um grande e fraterno abraço,

Chicco Sal

Gսstav໐ Frederic০ disse...

Querido amigo emergente,
(Eu também sou emergente. Muito emergente. Mas emergente que é emergente mesmo não diz que é).
Se eu puder aconselhar uma coisa ao amigo seria de ver o outro de outra forma. Isto deveria estar no cerne de ser emergente.
Ora, Spurgeon foi um grande homem, de enorme contribuição para a fé cristã. A segunda coisa a aprender é que a contextualização histórica varia. Devemos entender Spurgeon na sua época, na sua cultura. E isto é completamente diferente do cristianismo no Brasil hoje. O que dizer do grande avivamento na Inglaterra? O que dizer da contribuição teológica? O que dizer do engajamento social dos cristãos ingleses? O que dizer dos orfanatos e creches abertos por Spurgeon? Emergência não é ser anti-fundamentalista de forma nenhuma.
Outra coisa muito importante ainda em vendo o outro com dignidade é que não podemos rotular uma pessoa antes de ouví-la. Devemos ouví-la nos seus próprios termos.
(Nota: "teu blog" não faz jus, pois o blog não pertence a quem escreveu o post original)
Depois, devemos aprender que não devemos apenas ouvir aqueles que concordam conosco. Da mesma forma que não devemos apenas amar àqueles que nos amam. Isso até a máfia faz. Em todo o caso, "emergência" não deve dividir mas somar.
Dito tudo isso, espero que possamos ir além dos rótulos. Quando os rótulos dividem e limitam está na hora de apagá-los.

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