"Era 1964. Eu tinha 30 anos e estava fazendo pós-graduação nos Estados Unidos. No Brasil, o golpe militar trouxe um clima em que qualquer coisa era subversão. Não era preciso fazer nada para ir preso. Muitos amigos meus foram assassinados. Eu escrevia artigos falando de liberdade, nada explícito contra o regime, mas é claro que eu era contra ele. E assim ganhei inimigos. Eu tinha sido pastor. Pessoas que não gostavam de mim dentro da igreja começaram a me fazer acusações. Nada era claro. Nunca sabemos direito como são as coisas. Chegavam mensagens do tipo ‘consta que existe um documento contra você’ e tal. Eram ameaças. E, naquela época, até provar que focinho de porco não era tomada elétrica... Eu quis me defender. Publiquei artigos em revistas americanas para me explicar. Não houve repercussão. Foi então que meu professor de filosofia na universidade, muito sábio, me deu o melhor conselho que já me deram na vida. Ele me disse: ‘Rubem, nunca se explique. Para seus amigos, não é preciso se explicar. Para seus inimigos, é inútil se explicar’. Eu tentei seguir o conselho. Sempre tento, mas muitas vezes eu desobedeço. Ninguém segue conselho, né?"
Rubem Alves, 76 anos, paulista, escritor, educador.
fonte: Época
dica do Marcos Florentino
4 comentários:
Faz todo sentido o "conselho", pequenas coisas as vezes são lembradas pra sempre, valeu pela perola da tarde de sabado...
Muito ótimo mesmo! Infelizmente estamos cercados de "amigos" que querem explicações pra tudo.
(postei no meu blog, com crédito)
Um excelente conselho, pois quando tentamos explicar algo, além de haver uma perda de tempo, parece que estamos nos acusando ad aeternum
O Rubem continua imbatível!
Bom conselho, mas não para todos os momentos!
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