19.10.09

Salva de palms?

“Do sucesso não se tira nenhuma lição.”
Fralber Saidam

Nem sempre quem cria o formato, sinaliza a categoria, torna-se obrigatória e compulsoriamente líder do que iniciou. Muito especialmente se deixa apaixonar-se pelo produto e perde de vista o mercado. Foi exatamente o que aconteceu com o Palm.

Jeff Hawkins, um empresário do Silicon Valley, simplesmente pretendia fazer um upgrade, agregando tecnologia, a velha e boa agenda de endereços e de compromissos. Como requisito principal, precisava ser fácil de usar cabendo na palma da mão, de transportar – no bolso da camisa – e referindo-se ao hábito de décadas de “sacar a caderneta e anotar com um lápis”. Assim, numa parceria com a Robotics, a Palm Computing de Hawkins colocou no mercado e em larga escala dois modelos da Palm em 1996. O Palm Pilot 1000 – memória de 128 kb; e o Palm 5000 – memória de 512 kb mais um “lápis” para anotar na tela. Nesse momento nascia o produto que educaria e prepararia toda uma geração de jovens executivos, nascidos nos anos 70 e 80, e que seriam os primeiros a aderir aos Smartphones, muito especialmente ao iPhone. Curto e grosso: a Palm formou e a Apple faturou.

O Palm evoluiu com o correr do tempo, mas deu as costas à telefonia celular. O máximo que fez foi produzir um Palm que se comunicava via transmissor infravermelho com outro Palm. E parou por aí.

A marca, empoeirada, sobrevive na cabeça e no coração desses jovens das gerações de 70 e 80. E é exatamente apostando na propriedade emocional que resta que a Palm voltou à cena numa derradeira tentativa de retomar a liderança da categoria – sob o viés do formato – que criou.

No primeiro sábado de junho de 2009, dia 6, nos EUA, foi lançado o Palm PRE. Um Palm que fala! E recebe! E transmite! E se assemelha ao iPhone?! Claro que não! Quem inventou o formato e os ícones na tela foi o Palm só que como dormiu sob os louros da vitória, hoje, na cabeça das gerações seguintes, tudo isso foi inventado por Steve Jobs. E se perguntam Palm? Que palm? Não, nunca ouvi falar...

O Palm PRE “renasceu” com uma série de limitações em sua versão de retorno. Utiliza redes CDMA, e só considera a possibilidade GSM mais para frente. Mas trouxe, também, algumas vantagens competitivas muito especialmente no tocante a sincronizações com programas campeões como o Google Calendar, Gmail, Facebook; e seu teclado de botões tem revestimento de borracha o que facilita e torna agradável seu uso.

Mas o que é mais importante é o exemplo, a lição, e até contrariando a frase de abertura. No 8º mandamento dos 50 mandamentos do marketing, o melhor livro não-ficção 2005, Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, e de minha autoria, afirmo “o preço da sobrevivência é a permanente atualização”. A Palm e o Palm se entorpeceram pelas primeiras conquistas, apaixonaram-se pelo produto, aprisionaram-se ao modelo, deram as costas para o mercado, pararam no tempo e agora, em situação de desespero, tentam renascer. Tarde demais.

Francisco A. Madia, no Propaganda & Marketing.

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