No México, o contexto é que define o palavrão
Apesar de serem considerados, na América Latina, um povo educado e formal, os mexicanos podem parecer marinheiros de tão boca-suja que são, segundo pesquisa recente.
Eles usam palavrões ao conversarem com amigos, colegas, cônjuges e até com os chefes e os pais. No Dia da Independência, grita-se “Viva México, Cabrones!”, uma exortação patriótica dirigida tanto a indesejáveis quanto a camaradas, dependendo do tom.
O instituto Consulta Mitofsky perguntou a mil mexicanos maiores de 18 anos sobre como usavam as “groserías” e concluiu que cada entrevistado estimava usar uma média de 20 palavrões por dia. Os jovens, não surpreendentemente, são os que mais blasfemam.
Geograficamente, o norte e o centro falam mais palavrões. Homens em geral são mais boca-suja que as mulheres, mas não muito. Pessoas de nível socioeconômico mais alto também são mais profanas que aquelas que teoricamente alcançaram um lugar menos elevado na escala do sucesso.
O sociólogo Raúl Trejo Delarbre, da Universidade Nacional do México, disse que o xingamento pode ser feito com criatividade e expressar emoções difíceis de transmitir com outras palavras. Mas ele também admitiu que o xingamento pode ser apenas xingamento mesmo.
Usar termos rudes certamente não é um fenômeno mexicano, disse ele, soltando alguns palavrões norte-americanos comuns para comprovar sua tese.
Mas Octavio Paz, em seu clássico exame da psique nacional, “O Labirinto da Solidão”, dedicou algum tempo a avaliar os palavrões mexicanos. “As palavras proibidas fervem em nós, assim como nossas emoções fervem”, escreveu. “Quando finalmente explodem, o fazem grosseiramente, brutalmente, na forma de um grito, um desafio, uma ofensa. São projéteis ou facas. Elas causam feridas.”
Trabalhadores do setor elétrico recentemente demitidos pelo presidente Felipe Calderón claramente quiseram que a pior impressão possível fosse lida nos cartazes que agitavam. Um deles, mais brando, chamava o presidente de “pinche ladrón” —“ladrão safado”. A palavra “pinche”, porém, pode ser usada sem nenhuma conotação negativa— significa ajudante de cozinheiro.
Acontece que há muita coisa para xingar hoje em dia no México. A economia permanece em crise e, neste ano, deve sofrer um declínio de 8%, uma das maiores contrações do mundo. Os políticos seguem aprontando das suas; os traficantes continuam com suas carnificinas.
Todos esses xingamentos vão se acumulando. Se as estimativas estiverem corretas, a pesquisa aponta que os mexicanos usam 1,35 bilhão de palavrões por dia, ou meio trilhão por ano. Os autores do estudo não pareceram alarmados. “Não deveríamos nos preocupar quando ouvimos tais palavras, e poderia ser melhor parar de considerá-las xingamentos.”
fonte: The New York Times [via Folha de S.Paulo]
17.11.09
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Um comentário:
Takeospa!
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