Jó também havia perdido tudo: as amantes, a riqueza, o gado, os filhos, a lavoura e até mesmo a alegria de viver. Perdeu seus camelos, suas tendas e colares. Suas carroças e o cartão de crédito. Seu mundo começou a ruir, fragorosamente. Perdeu inclusive a esposa — mas essa perda eu acho que ele não lamentou muito, não. E Deus ainda teve a pachorra de cobri-lo com lepra da sola dos pés ao topo da cabeça. Jó ficou sem casa, sem comida, sem bebida, na miséria absoluta.
Seus amigos — é claro, desapareceram. E Jó foi morar lá no subúrbio, ao lado de um depósito de lixo. Perdeu tudo.
Perdeu tudo, menos a fé — que era exatamente o que Satanás queria que ele perdesse.
Você sabe da história: Deus apostou com Satanás — aliás, essa foi a única aposta que Deus fez, segundo a Bíblia. A esposa, ciumenta, pede então a Jó que amaldiçoe Deus — e que morra. Como você vê, já naquela época o casamento acabava em pancadaria. Depois ainda chegam três amigos que ficam sete dias e sete noites reclamando no ouvido de Jó. Visita de sete dias é um horror; amigo reclamando, então, nem se fala. E Jó, mesmo assim, não amaldiçoou Deus, não — de jeito nenhum.
Mas quando ficou de saco cheio daquela situação, resolveu agir, decidiu confrontar Deus. Subiu ao topo da montanha mais alta que havia naquelas bandas, e gritou: "Deus, o senhor tá me fodendo, mas eu nunca pequei, não mereço passar por isto. Sou inocente!"
E Jó louva Deus.
E Deus então fala com Jó através de um trovão. Deus usa metáforas, você sabe. Às vezes metáforas ribombantes... Deus manda sinais — e não é todo mundo que entende. Deus não fala português. A presença de Deus impressiona Jó, mas Deus não lhe dá as respostas que ele queria. Deus usa uma linguagem poética, e lhe pergunta: "Jó, onde o caminho da morada de quem engendra a geada do meu céu?"
Jó fica pensando. E mesmo sem ouvir as respostas que buscava, Jó tem um insight. Jó se transforma espiritualmente, se arrepende, aceita o seu destino, aceita as suas dores. A sua sina. A sua cruz.
Então Deus começa a devolver tudo o que Jó havia perdido: os camelos, as amantes, as tendas, o cartão de crédito, a saúde, as carroças conversíveis, a alegria de viver — e até mesmo o celular. Mas quando chegou a vez da esposa, Jó gritou: "Essa, não, meu Senhor. Essa não!"
E Jó voltou a viver — cheio de graça e alegria.
E dormindo sozinho numa casa de casal.
Dizem que chegou aos 140 anos...
Feliz da Vida!
O Livro de Jó é radical.
Portanto, antes que a nossa hora chegue, eu gostaria que você pensasse um pouco mais no Livro de Jó. Na aposta de Deus com Satanás — esse duelo de titãs. Como é que foi parar na Bíblia essa grande obra literária? A principal questão do livro de Jó, filosoficamente, é esta: Qual a razão do sofrimento humano? É bom lembrar que estávamos no ano 400 antes de Cristo, mais ou menos. E o autor dessa história ninguém sabe quem foi. Mas era um gênio da literatura, o Shakespeare da Bíblia. Fosse hoje, teria criado um blog.
Edson Marques, no Mude.
28.11.09
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2 comentários:
Edson Marques é o cara!
Quando eu crescer, quero escrever um quarto do que ele escreve.
Sofrimento é uma lapidação!
Arranca um pouco aqui, tira dali...
Às vezes, falta o fôlego, forças, e até mesmo a esperança fica por um fio. Na hora da dor, a impressão que se tem é q ela nunca vai passar...
Lapidar, podar, perdas...
Mas, no meio dessa grande obra algo não é tocado, não é jogado fora, não é roubado.
Jó sabia que o meu e o seu REDENTOR vivia e continua vivo como munca!
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